Decorações de Restaurantes. Intelectuais progressistas. João Ayres.

Esta era para ser uma mensagem sobre decorações interiores de restaurantes em Lourenço Marques, actual Maputo. Depois entraram nela os "intelectuais progressistas" e as suas contradições e finalmente apareceu o pintor João Ayres a quem tinha visto diversas referências e que tinha curiosidade de saber quem era. 
Grupo anónimo no interior do Restaurante Macau
frente ao antigo Luna Parque (Facebook Alto-Maé)

Passamos agora a duas fotos do site casa comum da Fundação Soares (que apesar do nome afinal é também paga pelos meus impostos) com personalidades conhecidas, tendo em comum Malangatana pois pertencem ao seu arquivo.
Esplanada num passeio, provávelmente no Café do Scala.  

Na foto de cima da esquerda para a direita os "intelectuais engajados" Ricardo Rangel (fotógrafo), Malangatana (pintor), Leite Vasconcelos (radialista) e Rui Moniz Barreto (Rui Nogar) poeta e contista. Este último teve cargos públicos no Moçambique revolucionário mas no início dos anos 80 acabou por falecer em Lisboa. Pois.
Outra foto de outro grupo num restaurante:
Decorações do Restaurante Sheik (prédio aqui) com outro grupo

A foto de cima é, segundo a legenda, da despedida em 1974 do pintor João Ayres com Malangatana e suponho Pancho Guedes à direita deste. João Ayres (1921 - 2001) é o segundo senhor à direita (aqui ao centro esquerda, no FB de Manuel Martins Gomes) foi um artista plástico inicialmente neo-realista e que depois evolui para a pintura abstracta e que foi muito influente em Moçambique. 
Dum facebook (lamentávelmente pobrezeco) da família de João Ayres, filho do também pintor naturalista Frederico Ayres que tinha ido para Moçambique nos anos 30 (?), retiro o quadro seguinte:
Lista de exposições de João Ayres

Nota-se bem na lista o seu período africano com umas deambulações em Portugal e no Brasil, uma interrupção de quase 5 anos depois do retorno à Europa e depois um activo período "metropolitano". 
Encontro poucas pinturas de João Ayres que se possam dizer "africanas" mas a seguinte da Gulbenkian é muito interessante também pela data. À primeira vista temos uma mistura de quadro neo-realista, caras aterrorizadas de Picasso em Guernica e a antecipação do video Thriller (de John Landis para Michael Jackson). 
João Ayres: o terceiro grupo de 1949 (Gulbenkian, Lisboa)

Mas os guindastes são os do porto de Lourenço Marques e não me espanta que João Ayres os tenha representado pois muitos fotógrafos terão tido a mesma atracção artística por eles. O nome do quadro deve-se relacionar com três grupos de pessoas. Sabe-se que a estiva foi um núcleo de proto-sindicalismo e revolta africana antes de 1960 e não é preciso perceber muito de "dialética" marxista-leninista para assumir que o quadro deve ter a haver com os trabalhadores, os capatazes, a polícia, a repressão da greve, etc. 
Porto da antiga Lourenço Marques em 1998 sem a dança dos guindastes. 
Foto SZ.

A realidade que se via nesta foto cerca de 13 anos depois da independência de Moçambique era que o que tinha sido um dos portos mais activos de África estava virtualmente parado, quase abandonado. O pavimento estava esburacado e os guindastes virados para os armazéns sem cargas ou descargas para fazer. E tinha sido tão bonita a festa, pá!

Comentários

Anónimo disse…
Caro Curioso;
A esplanada da 2ª fotografía, "juro Xicuembo Xainhaque" que é a do "Continental"; a "Intelectualidade progresista" está aí representada.
Um abraço.
Rogério Gens disse…
Caro leitor: À primeira vista também me pareceu até por falta de alternativa mas não quis arriscar porque me pareceu muito comprimento da esplanada. Mas agora estive a verificar com a foto nesta mensagem
http://housesofmaputo.blogspot.lu/2016/12/mais-fotos-da-baixa-de-lourenco-marques.html
e lembrei-me que o Continental devia ter duas entradas para o interior do lado da Av. e não se vê o espaço para elas (ou mesmo uma só) na foto do grupo. Também as cadeiras são diferentes mas isso poderia ter mudado. Por isso fica aqui a sua convicção combinada com a minha dúvida "metódica". Cumprimentos.