Caminho de ferro entre Lourenço Marques e Pretória - estação da Matola e evolução da vila junto ao estuário



Estação de caminho de ferro da MATOLLA

Esta devia ser ainda uma das estações construídas por McMurdo em 1887 com estilo inglês e que mais tarde foram substituidas por outras em estilo "português suave".
Não tenho foto actual com a estação bem visível mas há uma foto muito boa da linha nas suas proximidades embora a estação não se veja:
Linha férrea entre Maputo e Ressano Garcia reabilitada na proximdades da Matola Gare

A linha vinda de Lourenço Marques, actual Maputo e passado o vale do Infulene seguia numa certa distância para norte-noroeste certamente para atravessar o Rio Matola o mais a montante possível. Por isso a Matola Gare ou Estação de que falamos já aqui fica bastante afastada do estuário. Deve ter sido inicialmente planeado o crescimento  da localidade em volta da estação mas com o desenvolvimento do automóvel o combóio deixou de ser tão importante para o transporte individual e as pessoas devem ter preferido morar mais para sul levando a que a zona administrativa e a habitacional mais selecta da Matola tivesse aparecido junto ao estuário.
Podiamos ver a linha de Ressano Garcia e a estação da Matola no mapa de 1915 bem como os pontos principais da zona. O rio Matola e o seu vale estão na "vertical" do lado esquerdo descendo mais ou menos de norte para sul até virar para a direita = leste e desembocar no estuário do Espírito Santo.
Azul escuro: estação da Machava, rodeada pela povoação
Azul ultramarino: estação da Matola, rodeada pela povoação
Cinzento azulado: linha de Ressano Garcia para a África do Sul (Pretória)
Amarelo: estrada para o Umbeluzi ainda sem a primeira ponte sobre o Rio Matola 
que viria a ser construída na zona verde no ano de 1917.
Laranja claro: estrada da Anhana (?) que ligava a Machava 
à mesma passagem do rio da estrada para o Umbeluzi
Preto: linha de Goba para a Suazilândia
Carmesim: estrada de Lydenburg

No canto inferior direito do mapa de cima, para baixo ou seja para sul da estrada para o Umbeluzi fica a zona da Matola Rio e do Língamo que se desenvolveu mais nos anos 50 e 60. Essa zona é agora destacada na imagem seguinte onde marco também alguns pontos interessantes.
Amarelo: estrada (velha) da Matola para a Namaacha, via Umbeluzi e Boane
Roxo: o terreno do Língamo (Lingham) era do Estado 
e tinha um ramal de linha férrea ligando à estação da Machava
Vermelho: terreno de Napoleão Leão
Laranja: onde veio a ser o grande bairro da Matola Rio
Branco: terrenos da Lourenço Marques Matola Land Syndicate
Rosa: parcela de Henry Adler

Como podemos ver o bairro da Matola Rio foi construido nos lotes da LMM Land Syndicate e de Henry Adler. Do lado oposto no mapa, mais para leste, no Língamo (Lingham) havia um terreno do Estado onde se construiu depois o cais de minério, a fábrica das bolachas da CIM e a refinaria da Sonarep
Via-se também um grande terreno encostado a esse do seu lado oeste = poente que ficámos a saber era de Napoleão Leão (da Matola), uma célebre personagem da cidade do início do século XX (20). Na parte mais junta ao estuário ele foi depois foi ocupado pela fábrica de cimento e na parte junto à estrada velha penso eu que pelo clube de tiro, mas grande parte do terreno permanece ainda vazio.
Em baixo uma imagem à entrada da fábrica de cimento com o célebre pilar de Pancho Guedes ao fundo: 
Entrada na fábrica de cimento a partir da estrada velha
 com bomba da Shell nas proximidades

Agora uma foto do campo de tiro da Matola nos anos 70 e que tenta continuar activo.
Foto de Carlos Monteiro via delagoabay

Outro dos proprietários estrangeiros, eram a maioria, na zona era E.H.V. Melvill. Este era um dos filhos de S. Melvill(e) que foi um agrimensor importante no Transvaal (South African Republic) e na Colónia do Cabo e que faleceu em 1897 como se vê aqui (s2a3) e foi sucessido por Moodie como agrimensor-chefe da SAR / ZAR. Mais precisamente E.H.V. Melvill como se vê aqui (s2a3) chamava-se Edward Harker Vincent (1859-1914) e também foi agrimensor e engenheiro. Diz aí que em 1895 E.H.V. Melvill fez para o governo o mapa do leste do Transvaal até aos Montes Libombos e à fronteira com Portugal (Moçambique).  Relcionado com isso é certamente o facto que Melville fez parte como agrimensor da Comissão que em 1894 implementou a fronteira entre a ZAR e Portugal. Do lado luso esta foi chefiada por Caldas Xavier e presumo que tenha dito respeito à pequena secção para norte do triângulo com a Suazilândia (Esuatine) e até Ressano Garcia. E.H.V. Melville trabalhou em minas e como administrador de empresas e teve vida profissional, associativa e académica de muito relevo. Mas deve ter sido pelo seu envolvimento com a fronteira entre o Tranvaal e Moçambique e com os colegas portugueses que ele se interessou por LM e que obteve os contactos que lhe proporcionaram a concessão desses terrenos adjacentes à linha de caminho de ferro. Note-se que o bairro de Melville algures entre Johanesburgo e Pretória vem do seu nome e que na Ilha da Inhaca a Aldeia dos Pescadores era chamada pelos ingleses por esses tempos de Port Melville o que não sei se teria relação com a linhagem familiar de que falámos aqui.
A seguir temos a mesma zona actualmente em imagem de Google Earth. Em relação ao pré-independência nota-se principalmente que a zona entre o terreno marcado a laranja (da LMMLS e de Henry Adler) e o de Napoleão foi totalmente ocupada depois de 1975 sem planeamento.

Amarelo: estrada velha da Matola
Roxo: o terreno do Língamo (Lingham) que era do Estado 
Vermelho: terreno que era de Napoleão Leão
Laranja: grande zona da Matola Rio construida nos anos 50/60
Laranja claro: via rápida entre a Matola Rio e a Machava
RCM: grande terreno dos emissores do Radio Clube ainda livre
Azul e branco: zona das salinas da Matola

Comentários