A primeira imagem é dum postal posto à venda no site delcampe.net (the largest marketplace for collectors) que aqui reproduzo virtualmente com a devida vénia (e com a ténue esperança de que alguém lá compre alguma coisita sobre Lourenço Marques (LM), actual Maputo senão o actual ciclo virtuoso terminará. Como dizia o Solnado "mama, mas não abuses!".
FOTO 1
Par de torres da carvoeira Provay |
Vê-se nesta foto o guindaste de 60 toneladas que estava associado a esta carvoeira como explicaremos agora ao fundo. Ele está entre a torre da direita e o cais, vemos depois o azul do estuário e ao fundo na sua margem sul a Catembe.
A legenda diz "a nova carvoeira" porque antes da Provay (vimo-la aqui também em foto mais recente) houve a carvoeira Mac Miller de menor capacidade. As carvoeiras serviam para carregar carvão para os navios alimentados por esse combustível e para o seu transporte para outros portos e indústrias. Como descrevemos nessa mensagem com detalhe depois da época áurea do consumo de carvão a carvoeira Provay foi adaptada a outros minérios.
No volume III da sua História dos Caminhos de Ferro que faz parte das colecções da Biblioteca Pública Municipal do Porto, o luso-moçambicano Alfredo Pereira de Lima (APL) desenvolveu o tema das carvoeiras apresentando novas fotos e informação que resumiremos aqui. Infelizmente tenho que completar e interpretar muito do que APL diz sobre o funcionamento para se tornar perceptível, correndo eu o risco de tentar adivinhar em demasia ....
A primeira carvoeira do tipo Mac Miller foi instalada em 1915. Teve logo várias avarias e a imprensa sul africana aproveitou para fazer campanha contra o porto de LM (numa das tais fases azedas na relação entre as duas partes como a que referimos em relação ao possível porto sul-africano alternativo em Kosi). Pensou-se então em duplicar a Mac Miller mas faltavam meios financeiros. Em 1921 houve grande aumento de tráfego de carvão que era originado nas minas de Witbank e transportado por caminho de ferro. Por azar ou como consequência da sobre-utilização a Mac Miller avariou gravemente e a meio desse ano uma delegação sul africana veio a LM discutir o problema. O governo português comprometeu-se a resolvê-lo rápidamente e a solução foi utilizar o guindaste de 60 toneladas (que tinha sido usado para ampliar a ponte-cais com os blocos de betão) para ajudar no carregamento do carvão. É assim que APL apresenta o caso mas veremos depois que o papel do guindaste era limitado, embora fosse uma "peça importante da engrenagem".
Foram os engenheiros ao serviço do porto, o português Costa Serrão e o húngaro naturalizado português Pietro Giuseppe Provay que projectaram e patentearam um novo tipo de carvoeira. Neste sistema o carvão era descarregado do vagão que o transportava, subia para o alto da carvoeira e era despejado no navio sem intervenção braçal humana.
Básicamente o que APL diz, já com certa adaptação, é (em itálico para quem quiser passar esta parte):
a. No solo havia um cilindro rotativo onde o vagão com carvão entrava e era imobilizado. Então o cilindro provido de motor eléctrico rodava sobre o seu eixo longitudinal com o vagão preso e despejava o carvão do vagão para dentro duma tremonha (noutra descrição fala-se dum enorme funil de cimento). O carvão passava desta tremonha para contentores que por intermédio de duas torres elevatórias o elevavam para o alto da estrutura onde o despejavam num grande balde.
Básicamente o que APL diz, já com certa adaptação, é (em itálico para quem quiser passar esta parte):
a. No solo havia um cilindro rotativo onde o vagão com carvão entrava e era imobilizado. Então o cilindro provido de motor eléctrico rodava sobre o seu eixo longitudinal com o vagão preso e despejava o carvão do vagão para dentro duma tremonha (noutra descrição fala-se dum enorme funil de cimento). O carvão passava desta tremonha para contentores que por intermédio de duas torres elevatórias o elevavam para o alto da estrutura onde o despejavam num grande balde.
b. o grande balde ao alto da estrutura era capaz de receber uma grande quantidade de carvão trazido dos vagões ao nível do solo. O balde tinha fundo móvel, o que aqui quer dizer que tinha uma ponta para o lado do cais com uma tampa e que estava fechado ao receber o carvão e se abria quando fosse para o despejar. E essa ponta do balde era dirigida para o porão do navio de forma a que o carvão descesse para o porão devagar e sem se quebrar (vê-se essa ponta do lado direito da foto por cima da casa e em que parecia estar com a tampa aberta).
Com estes elementos e olhando para a FOTO 1 o cilindro devia ser formado pelos cinco volantes, para dentro dos quais penetrava um vagão de cada vez e aos quais era preso e na FOTO 1 parece ver-se uns cintos para esse fim. Problema aqui é na FOTO 1 não se vêm carris na direcção dos volantes para conduzir os vagões para o interior deles mas talvez seja por o equipamento estar ainda em construção. Na primeira foto da mensagem inicial sobre o par de Provay que mostra esta instalação doutro ângulo vê-se uma linha de carris a seguir na direcção dum cilindro e esse conjunto ficaria alinhado com as estruturas da torre das carvoeiras, mas também não dá para perceber aí como funcionaria. Um esquema tosco de como eu imagino que fosse:
Os contentores eram então elevados pela rampa e ao cimo dela vasavam o conteúdo no respectivo grande balde. Todavia continuo a não entender como é que os contentores depois de esvaziados do carvão regressavam à parte de baixo das rampas.
Penso que agora entendi que o guindaste das 60-80 toneladas servia para direccionar as pontas (com tampa móvel) dos dois grandes baldes para os porões dos navios. Ele devia por isso andar de um lado para o outro ao longo do cais nesta zona como aparece aqui.
1 - vagão vem pelos carris até ficar completamente dentro dos cinco volantes
colocados espaçadamente lado a lado (que se vêm bem na FOTO 1) 2. vagão amarrado aos volantes 3. volantes rodam acionados por correias ligada a motores eléctricos colocados por baixo deles que não desenhei. 4. vagão ao ter rodado 180 graus despeja o carvão dentro dos contentores (simplificando o que se diz em cima) - ver aqui sobre os carris 5. passadeira rolante levava os contentores para junto das torres 6. contentores iniciavam a elevação nas rampas das torres.
Verde: solo e subsolo ao lado da escavação feita para a carvoeira
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Penso que agora entendi que o guindaste das 60-80 toneladas servia para direccionar as pontas (com tampa móvel) dos dois grandes baldes para os porões dos navios. Ele devia por isso andar de um lado para o outro ao longo do cais nesta zona como aparece aqui.
Voltando à informação de APL, o cilindro (melhor dizendo sera o conjunto de anéis) das Provay permitia manusear 23 vagões por hora e por isso a capacidade de carregamento era de 7 400 toneladas por cada 8 horas de funcionamento. Esta carvoeira Provay (no singular se pensarmos que tinha duas torres de elevação mas um só vagão a despejar de cada vez) entrou em funcionamento em Junho de 1923 e com ela LM passou a ocupar a primeira posição nos portos carvoeiros da África Austral.
Concluímos com foto dos anos 60 mostrando o par de torres da carvoeira Provay visto uns 400 ou 500 metros para poente da frente estação de caminhos de ferro:
FOTO 2
As duas carvoeiras do porto ainda sem modificação: par de torres Provay primeiro e Mac Miller ao fundo. |
A carvoeira Provay foi desmantelada em 1968.
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