Caminho de ferro entre Lourenço Marques e Pretória - fábricas em Chanculo ao Km 76

Começamos por duas fotos de Santos Rufino de fábricas de tijolo em Chanculo publicadas no seu álbum número 4 sem mais informação do que pertencendo ao antigo distrito de Lourenço Marques, actual província de Maputo. Eu não conhecia esse nome antes de ter começado a olhar para a linha de caminho de ferro entre LM e Pretória e de ter visto aí que era o duma estação ao Km 76, próximo do ponto onde a linha atinge a margem direita = sul do rio Incomáti. Mas podia haver mais Chanculos no sul de Moçambique, que deve ser maior que alguns países europeus, e era preciso verificar.

FOTO 1
Fábrica de tijolo em Chanculo cerca de 1929.
Para onde vai o fumo? Na vertical? Não se vê bem!

FOTO 2 
Fábrica de tijolo em Chanculo. Outra fábrica ou a mesma da FOTO 1? 
O vento sopra de onde aqui?

Fui assim ver no Google Earth (GE, pode mover-se e fazer zoom) como é a zona da estação de Chanculo actualmente - ver FOTO 3 - e notam-se ruínas de fábricas ao lado da linha férrea principalmente pelas chaminés, pelo que se faz a ligação à fotos de cima. Para mais na FOTO 2 no canto inferior direito deve ser um carril da linha férrea e assim o local genérico das fotos de SR está claramente identificado. 
Olhando para a zona de Chanculo no GE podemos até reparar num ramal que passava ao lado duma fábrica mais afastada da linha principal e que devia ir até uma pedreira. 

FOTO 3 do GE
Linha vermelha tracejada: linha férrea entre LM e Ressano Garcia (ligada a Pretória)
Preto: zona da estação de Chanculo que devia ser o edifício maior agora sem telhado
Círculo laranja claro: extremidade dum ramal da linha marcado a rosa tracejado
Três castanhos: três chaminés de fábricas, parte delas estaria nas FOTOS 1 e 2
(e puzzles geográficos ficam para a próxima ...)

Vejamos agora a zona de Chanculo na carta de 1930 confirmando o que se vê no GE mas expandindo um pouco mais o horizonte nas quatro direcções:
Linha vermelha: linha férrea entre LM e Ressano Garcia, 
em cima à esquerda a atingir a margem sul do Rio Incomáti
Preto: estação de Chanculo
Círculo laranja claro: extremidade dum ramal da linha
Azul: estação de Incomáti
Verde claro: local de ponte longa ao Km 73.6
Traços laranja: onde houve linha alternativa a seguir ao km 70.7 

e eu tinha pensado que tivessem sido as pontes da Ribeira de Movene 
Roxo: estação actual de Movene ao Km 69

Se virmos bem na carta de cina na zona de Chanculo estão umas marcas pretas junto à linha que podem ser das fábricas que se viam nas FOTOS 1 e 2. Nota-se bem na carta o ramal para a esquerda e que passava o lado duma outra fábrica, a que foi marcada pela chaminé com círculo castanho escuro na FOTO 3. Outro ramal ferroviário que havia para a direita no mapa deve ter sido transformado na estrada em linha recta que se vê agora na FOTO 3 em baixo e para a direita. Os nomes das fábricas talvez estejam escritos na carta mas podem ser só os das quintas que havia na zona. Actualmente olhando pèata o GR só junto ao rio se nota algo cultivado.
Em baixo relembro uma foto da excelente reportagem de Yves Traynard feita de dentro da carruagem durante a sua viagem de combóio entre Maputo e Ressano Garcia. Ele não identifica o local mas será certamente duma destas fábricas de Chanculo. A FOTO 4 talvez tenha sido feita na mesma pespectiva da FOTO 2 de 1929 mas o edifício de que resta a estrutura e se vê à esquerda e mais próximo da linha na FOTO 4 pode ter sido construido depois de 1929.

FOTO 4
Escombros de fábricas de tempos mais produtivos em Chanculo, provávelmente
Voltaremos à linha férrea entre Chanculo ao km 76 e a estação actual de Movene que fica ao Km 69 (mais próxima da Moamba). Tornaremos a olhar para as pontes da Ribeira de Movene dos kms 67.4 ou 68 (conforme as legendas das fotos) porque entretanto pus de lado a hipótese inicial, veremos melhor o local da ponte longa ao Km 73.6 (do círculo verde claro só no mapa) e veremos mais duas grandes pontes da linha de que temos fotos de 1889/90 que devem ter sido nesta sua secção e que não vimos ainda no HoM. 

Comentários

Anónimo disse…
Esta Fábrica de tijolos, dos quais os refractários eram de altíssima qualidade, pertencia à Boror Industrial. Entre 1975/78 fui lá fazer o pagamento mensal de salários em dinheiro aos trabalhadores. Em tom de gracejo, chamávamo-lhes de "os peles vermelhas", que adoptaram para nome da equipa de futebol. Boa gente, sacrificada ao seu trabalho, ao calor do tempo e dos fornos. Para nós e para eles era sempre um dia especial. E sim, havia um ramal ferroviário privativo para escoamento da produção e várias linhas de pequena bitola para transporte em vagonetes da matéria prima das barreiras circundantes para a fábrica.
E. Silva