Novas fotos de LM em 1893. Viajantes britânicos e suas opiniões pouco politicamente correctas

Um blog de George W. Randall chamado Art Treasures of Kinloch Castle (ATKC) sobre um palácio acastelado escocês fala de Delagoa Bay, na deominação portuguesa Lourenço Marques (LM), actual Maputo devido a um livro existente na sua biblioteca. Isso é referido aqui ao início sendo o fundamental que George Bullough, futuro construtor desse palácio, efectuou uma viagem pelo mundo de 1892 a 1895 na companhia de Robert Mitchell. Este relatou-a no jornal Accrington Gazette em 1896 o que foi complementado pelo autor do blog ATCK George W. Randall com mais informação e fotos, estando aqui o conjunto sobre LM, onde os dois visitantes passaram cerca de dois dias entre o fim de Agosto e o princípio de Setembro de 1893.
A primeira das três fotos do artigo no blog ATKC e suponho inédita nos sites laurentinos é do edifício da companhia de telecomunicações Eastern Telegraph. Dele vimos muitas outras fotos no HoM aquiaqui, aquiaqui e aqui mas nenhuma era exactamente igual pois esta tem o detalhe dum senhor ao centro direita da varanda que segundo Alfredo Pereira de Lima e se vê bem aqui corre ao longo do rés do chão.
Estação do cabo submarino na Ponta Vermelha
A referência à Inhaca na foto vem do autor do blog ATKC ter procurado saber quais as estações de cabo submarino que houve na zona, mas não seria necessário.
A segunda foto do artigo no blog ATKC e também suponho inédita nos sites laurentinos é do primeiro hospital da cidade construído em 1877. Deste hospital falámos aqui e aqui sem esta foto ter aparecido tendo em conta o pormenor do senhor do lado esquerdo no terreno em declive para o lado da Baixa.
Hospital (Militar e Civil) de Lourenço Marques 
visto para noroeste (na direcção do Alto-Maé)
A terceira foto do artigo no blog ATKC é da enseada da Maxaquene e é igual à que usamos aqui e de que não registei a origem. A inscrição na foto diz "vista de pássaro sobre Delagoa Bay" o que se presta à habitual confusão para o leitor inadvertido sobre se se mostra aí a baía (a resposta é que não, essa ficava para as costas do fotógrafo. Via-se o estuário mas esse era chamado do Espírito Santo) ou se se mostra um burgo com nome de baía (a resposta é que sim, ao fundo - centro da foto).
Vista para poente, da crista da barreira na Ponta Vermelha para a futura cidade ao fundo
Estas três fotos vêm de álbuns de fotos compilados por George Bullough que existem na biblioteca do castelo e que devem ter sido adquiridas pelos viajantes a fotógrafos dos locais por onde passaram para ilustrar o seu relato.
Segue-se o texto original publicado em 1896 relativo a LM:
Accrington Gazette em 1893 - Article 23
Resumindo-o às intenções "o porto de LM tinha boas condições naturais mas como o governo português era "mamparra" (pobre, preguiçoso e e degenerado!) tinham de ser os ingleses a pressioná-lo para as melhorias serem feitas. Como o governo português não ligava nada a LM o melhor seria Portugal vender à Inglaterra. Por causa do pântano, viver com saúde em LM era muito difícil mas a zona alta era bonita e se LM ficasse inglesa seria "um brinco"".  
Penso que os viajantes em dois dias tiveram muito pouco tempo para ver o burgo e para formular opinião própria sobre assuntos muito complexos. Por isso considero que eles debitaram o "cliché" na altura do lado inglês sobre Portugal e os portugueses, provávelmente resultado dumas conversas com os seus compatriotas locais (em torno duns whiskies), interlocutores esses que deviam estar ansiosos por desabafar as mágoas e por poder partir para outro lado. Mas como a Inglaterra era a potência mundial do fim do século XIX, Portugal estava uma sombra do que tinha sido na época da grande expansão e os portugueses individualmente deviam ter perdido qualidades, aceito perfeitamente que comparativamente com as realizações e a fleuma britânica o tal "cliché" tivesse um fundo - pelo menos - de verdade. 
No entanto parece-me que os viajantes não terão ouvido as explicações e planos do lado português, por exemplo para o desenvolvimento do porto, que os poderiam ter impressionado mais favorávelmente, se se desse o caso de serem idóneos. Podiam também ter percebido que estavam em evolução grandes (à escala local) obras públicas iniciadas em 1877, que nesse ano de 1893 o caminho de ferro estava à espera da conclusão no Transvaal (mas eles eram ingleses por isso o que os boers faziam também não lhes interessaria muito), que o malfadado pântano de LM estava em vias de extinção, que as avenidas principais da futura cidade estavam traçadas e a construir-se e que os primeiros edifícios públicos estavam feitos. E fundamentalmente teriam compreendido - e eles não o mencionam por isso deviam desconhecer por completo - que nessa altura estava em fervura a grande "timaca" com os chefes rongas e com Gungunhana que se perspectivava teria de resolvida militarmente, o que seria a condição ou para a passagem à velocidade superior de desenvolvimento da cidade ou para a sua interrupção (temporária ou definitiva). 
Quanto à ideia da venda de LM ou do sul de Moçambique à Grã Bretanha também havia políticos influentes em Portugal a favor porque o gasto e o esforço da pertença portuguesa era muito e o lucro a curto prazo seria pouco e a longo prazo duvidoso. Por isso no aspecto mais político o que os visitantes diziam não era tão disruptivo como mais tarde poderia parecer aos portugueses.  
Seguem-se as notas que o autor do blog ATKC George W. Randall, sendo aí referido como editor, acrescentou ao texto original dos viajantes que foi visto em cima e publicado em 1896.
Notas recentes de George W. Randall sobre o vapor Arab e sobre Delagoa Bay/LM, 
sem merecer reparos de maior

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