Enseada e aterro da Maxaquene - muro de suporte e faixas aterradas em 1919, molhe da doca (10/16)

Após um primeiro artigo continuaremos a analisar as fotos de 1919 do site da Universidade do Arizona, da colecção de Shantzum botânico que visitou Lourenço Marques em Outubro de 1919 e que interessado pela vegetação da barreira da Maxaquene acabou por se interessar pelos trabalhos de aterro da enseada que lhe ficava por baixo e que nessa altura estavam na fase final e assim oferecer-nos fotos inestimáveis dessa epopeia. Para mais sendo as fotos disponibilizadas com alta resolução e gratuitamente permitem-nos ver pormenores que penso tinham escapado até agora.
É o caso da seguinte que apesar de área relevante estar degradada tem interesse de engenharia:

FOTO 1
Arbusto na crista da barreira e ao fundo o muro de suporte do aterro ao nível do estuário

A FOTO 1 mostra do lado direito que havia dois muros de suporte paralelos, um do lado interior que seria realmente de suporte para tornar possível o aterro e outro do lado do estuário para conter as águas. Vistos do lado de cá (da barreira, do interior das terras) os dois muros parecem ter a mesma estrutura mas não se sabe os seus pormenores construtivos. Pormenor interessante seria também saber como foi tratado o espaço que ficou entre eles. 
Como essa observação podia simplesmente tratar-se de defeito da FOTO 1 penso que foto seguinte, já conhecida mas revista com atenção, eliminará as dúvidas sobre a existência de dois muros pelo menos em relação a partes do aterro:


FOTO 2
Dois muros paralelos no aterro da Maxaquene com a mesma altura e
notando-se até peças horizontais espaçadas no topo entre eles (penso)

Há outras fotos também da colecção Shantz e por isso com o mesmo detalhe das de cima, mas tiradas doutra posição, em que não se notam os dois muros. Penso que a razão será e dado que os muros não estavam muito afastados que essas fotos tenham sido tiradas dum ponto mais baixo da barreira do que por exemplo a FOTO 2 que estava já perto do limite de detecção. Eventualmente e não estive a ver com detalhe pode ser que o muro em certas partes do aterro tenha sido duplo mas noutras tenha sido único, por exemplo onde não fosse necessário aterrar tanto como seria o caso das bordas da enseada em que o leito marinho estava mais elevado do que no centro.
Voltando a outra das fotos vistas anteriormente para outro aspecto interessante.

FOTO 3
Aterro da Maxaquene em fase adiantada de construção
 visto do centro para o lado poente = da baixa da cidade
FOTO 3 com marcas (clique para aumentar)
Azul: água acumulada em aterro ainda baixo ou inexistente, zonas para serem enxutas
Castanho escuro e roxo: faixas de aterro feito até ao cimo do muro, 
que por isso se tinha deixado de ver deste lado
Castanho claro: aterros a nível de altura intermédio entre os níveis
 dos dois anteriores, no mais próximo via-se o topo do muro de suporte
Amarelo: zona de possível dreno para a água ainda retida no interior do aterro B
Vermelho: marcas ainda visíveis do traçado da instalação do cabo submarino

Tentando compreender a divisão entre zonas que tinham sido aterradas e as que não tinham, a zona líquida A explica-se por essa água ter sido empurrada, ao fazer o aterro do interior da enseada com o leito mais elevado, para junto ao muro onde o leito original era mais fundo e ter-se acumulado junto ao muro. Sairia depois daí gradualmente por comporta ou dreno no muro sem causar problemas de maior para o resto do trabalho. Em relação à zona B penso que tinha sido uma zona do tipo A mas que estava em fase posterior. Penso que estaria a ser drenada por exemplo por canalização colocada na marca amarela vertendo para o lado do muro e atravessando-o para o estuário. A zona C mais no interior é mais difícil de tentar explicar mas podia haver um tubo dela para a zona B e as suas drenagens estarem a ser feitas em conjunto. Estando ou não estas teorias correctas, destas divisões em talhões no aterro fico com a ideia que o objectivo dos trabalhos seria drenar para o estuário toda a água retida e não esperar simplesmente que ela penetrasse no solo ou que fosse evaporada pelo calor.  
Como disse na legenda, para a faixa castanha clara ligada à zona B conseguimos ver que o aterro tinha chegado ao cimo do muro (interior se tiver havido dois paralelos). Isso não quer no entanto dizer que o trabalho estivesse completo pois (em princípio) deveria ser assegurado o declive do aterro completo do lado da barreira para o topo do muro de modo a que a água da chuva, directa ou descendo pela barreira ou jorrando de fontes naturais escoassem para o estuário. Isso quer dizer que podia ser ainda necessário aumentar a altura do aterro no seu interior mesmo que ele parecesse estar ao nível do muro. Não sei se tudo isto foi tomado em conta mas penso que os responsáveis por este projecto e a sua execução foram competentes pois que me lembre esta zona não inundava mesmo com grandes chuvadas. 

No artigo seguinte veremos melhor o que aconteceu à barreira da Maxaquene no decurso dos trabalhos do aterro.

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