Enseada e aterro da Maxaquene - construção em 1919 do muro de suporte e do aterro (9/16)

Começo com duas fotos no flickr de François F. Swanepoel em 2002 mostrando o muro que fechou a enseada da Maxaquene face ao estuário. Penso que a maré estava excepcionalmente baixa e por isso vê-se o enrocamento na sua base virada para o estuário de Maputo, antigo do Espírito Santo em Lourenço Marques (LM). É provável que o muro tenha fundações escavadas no leito do estuário mas de certeza não sei.

FOTO 1
Vista para o lado nascente = leste do muro

Ao fundo da FOTO 1 e saliente do muro vê-se o molhe que fecha a doca do antigo CPD
Para o lado oposto vê-se na FOTO 2 uma parte restante desse muro que por isso aparece nestas duas fotos na sua quase totalidade (faltarão uns 50 ou 60 metros que estarão no espaço que não foi captado entre elas como se juntifica ao fundo deste artigo).

FOTO 2
Vista para o lado poente = oeste do muro

Para o fundo da FOTO 2 no limite do estuário para norte aparece saliente, penso eu, o molhe externo da doca dos pescadores, antiga doca da Capitania, que fica em frente à praça 25 de Junho, antiga 7 de Março na Baixa da cidade. 
Não sei se este muro é ainda o muro de suporte do aterro da Maxaquene construido entre 1915 e 1920 como vimos aqui aqui ou se houve reconstrução posterior mas é provável que seja o inicial. Temos agora disponíveis três fotos antigas tiradas da barreira da Maxaquene para o estuário e vendo-se a Catembe na margem sul deste. Provêm do site da Universidade do Arizona (colecção shantz) que foi revelado pelo site Delagoabayworld neste seu artigo. O seu autor foi o botânico norte americano Homer L. Shantz que visitou LM em Outubro de 1919 e que como se interessou pela vegetação da barreira da Maxaquene deixou-nos estes formidáveis documentos sobre a fase final da construção do aterro. Nessa altura o muro aparentemente estava completo mas do seu lado interior o trabalho do aterro ainda não estava concluído.

FOTO 3
Foto do cimo da barreira para sul vendo a antiga enseada em trabalhos, 
o estuário e a Catembe ao fundo

De cá para lá com mais pormenor via-se na FOTO 1 um arbusto na barreira, em baixo da barreira uma parte da antiga enseada da Maxaquene aterrada e outra ainda com água, o muro de suporte ao longo do estuário e este daí para sul até à costa da Catembe. Vê-se que em Outubro de 1919 havia ainda muita água do lado interior do muro de suporte que precisava de ser enxuta (drenada ou evaporada) e que lógicamente enchia o leito da antiga enseada que não tinha sido aterrado. 
A foto seguinte permite ver um pouco melhor o muro de suporte que era subdividido num larguíssimo número de trechos travados por pilares de betão armado. A dificuldade de construção do muro para de um lado suportar o peso do aterro e do outro a força e acção do estuário e o grande volume de terra movimentado para o aterro com os incipientes meios técnicos da época devem ter sido a justificação para os cinco anos que esta obra levou a ser completada.  

FOTO 4
Vê-se os trechos do muro travados por pilares de betão armado de forma triangular

Comparando-se com as FOTOS 1 e 2 pode-se ver que se o muro actual for ainda o inicial que lados interior (aterro) e exterior estuário) deste não eram iguais. Como o lado interior iria ficar escondido pelo aterro pode ter-se optado por deixar aí as saliências dos pilares de modo a que o lado exterior ficasse liso como se vê nas fotos recentes (mas ver próximo artigo com detalhe importante).
A terceira foto de 1919 mostra o muro de suporte prolongando-se do centro da antiga enseada para o lado centro-sul da Baixa da cidade o que combinando-se com o que se vê noutras fotos apontava a que nesta altura ele estivesse completo a todo o seu comprimento final, entre as doca para barcos de pesca (para a esquerda da FOTO 5 mas fora da objectiva) e a doca da Capitania (para a direita e no campo de visão da FOTO 5) que referimos e identificámos nas FOTOS 1 e 2.

FOTO 5
Ao fundo à direita na continuação do muro está a ponte-cais Gorjão 
como veremos em detalhe a seguir

Agora um pormenor dessa foto para a actual zona oriental da Baixa da cidade junto ao estuário e que já tinha sido aterrada e onde faço algumas anotações:

FOTO 5 pormenor
Azul: parte da antiga enseada ainda por aterrar, pelo menos por completo
Amarelo: aterro da actual zona do Inamar (Capitania), shopping, etc
Vermelho: penso ver o início duma cova aberta daí para o interior = direita = norte

Verde: doca da capitania e depois dos pescadores,
semelhante ao que é actualmente
Laranja: extremo a juzante = leste da ponte-cais Gorjão iniciada em 1903
Roxo: Catembe na margem sul do estuário (ponta Leckemer para a direita)

Em relação à marca vermelha (que se ligava à face mais interior da doca dos pescadores) penso que ela confirma a minha assumpção de que para a zona de antigo estuário onde estava previsto fazer-se a doca seca não se chegou a fazer aterro. De facto penso que a doca seca foi construida do ponto vermelho para o resto da cova que ficava para a direita e isso no ano seguinte como se refere aqui e aqui onde aparece a doca vista da entrada. 
Finalmente uma boa imagem do ano 2000 reproduzida da Digital Public Library of America (DPLAem que o solo do aterro estava ainda bem visível pois a fase de novas construções que para já ocupam a maior parte da sua metade norte estava no inicio. A foto foi tirada do Hotel Cardoso e dos cerca de 1 600 metros que o muro de suporte tem no total, vê-se o correspondente (linha preta por cima dele) a cerca de metade faltando-lhe talvez uns 700 metros (incluindo o molhe externo da doca dos CPD) para a esquerda = leste = oriente do ponto do aterro que aparece mais à esquerda da foto.

FOTO 6
Preto: indicação da posição do muro de suporte do aterro da Maxaquene
Castanho: duas dimensões da zona aterrada, faltando o extremo a leste
Outras cores ao fundo: como na foto de 1919 em cima

Ao dizer em cima que nas FOTOS 1 e 2 de 2002 faltarão cerca de 50 a 60 metros da totalidade do muro de suporte (ou seu substituto) refiro-me ao seu trecho onde se connecta na perpendicular o pontão dos ferrys para a Catembe. Essas FOTOS 1 e 2 foram tiradas de um e doutro lado do pontão e orientadas para captar o máximo do muro suporte pelo que não se vê nelas nem o pontão nem a parte de muro de suporte mais próxima. Pode-se ver aqui na quarta foto o ferry atracado na ponta do pontão e o muro de suporte ao fundo por trás mas que também está incompleto pois uma parte está tapada pelo ferry. 
Depois do passeio e estrada marginal ao estuário e na direcção do pontão sobre o terreno do aterro está o antigo Palácio das Repartições/Finanças que foi o primeiro e único edifício que foi construído do Centro Cívico que esteve previsto nos anos 40 para esta zona mas que foi sendo reservada para pulmão verde da cidade,
Na FOTO 1 estava em construção o edifício do ministério para leste do antigo Palácio das Repartições e à direita no estuário estava o cilindro de betão que serviu para desembarque do Almirante Tomás em 1964.
À direita da FOTO 2 aparece o fim da praça em frente ao Comando Naval e depois mais instalações da  Marinha. Muito atrás delas vê-se o topo da torre piramidal do edifício dos antigos organismos económicos que fica na praça 25 de Junho, antiga 7 de Março e que com atenção também se vê na FOTO 6 de ângulo uns 35 graus para a direita = norte conjugando-se assim essas vistas diferentes do antigo aterro. 
Voltando â FOTO 1 ela pode ser usada para estimar a altura do muro de suporte na sua zona com base no seguinte: senhor (1.7 metros X 5.25 alturas = 8.9 m), senhora (1.6 metros X 5.9 alturas = 9.3 m) pelo que se estima que a altura do muro de suporte fosse aí de 9.1 metros.

MEDIçÕES do MURO COM FOTO 1
Estimativa da altura do muro de suporte, do passeio
ao enrocamento no estuário = 9.1 metros

Se aqui o muro aqui teria cerca de 9.1 m de altura, na zona de enseada mais central será mais alto e na zona mais lateral mais baixo pelo que ficamos com uma ideia. Isso para o eixo oeste - leste, quanto ao eixo norte-sul, se estimarmos que na praia junto à base da barreira da Maxaquene a altura de aterro foi de 1 m e se o declive do leito da enseada fosse constante até digamos aos 9 metros, a altura média de terra colocada no aterro nesse eixo mais profundo (que digamos seria a altura do aterro a meio da enseada numa linha perpendicular à praia) seria cerca de 5 metros. Para os lados oeste e leste desse eixo a altura de aterro também iria descendo gradualmente até ser 1 metro dos lados poente e nascente. Estas estimativas darão ideia da distribuição das alturas do aterro e por isso do volume de terra/pedra que ele necessitou
No artigo sobre este tema já mencionado e em que tentei estimar o volume de aterro tinha usado uma média de altura para aterro de 7 metros junto à muralha actual o que a traços largos não estava longe do que agora estimamos.

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