Vilas Gorjão e Mousinho - resumo de artigo de António Sopa na revista Xitimela

Vilas Gorjão: primeiro corpo completo mais a oriente = leste e princípio do segundo
Resumirei aqui um artigo publicado pelo Dr. António Sopa no número 22 da revista Xitimela dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) do qual reproduzo também as fotos. Sobre as Vilas Gorjão que foram residências para trabalhadores do porto e CFLM/CFM cuja estação se vê ao fundo da foto de cima, publiquei vários artigos, primeiro aqui, segundo aqui e o terceiro aqui baseado na contribuição do Dr. António Sopa para o HPIP e que em parte era semelhante ao conteúdo deste artigo na Xitimela. Nos primeiros tinha também usado alguma informação de Maria Helena Bramão de 1970 e descrito o que observava nas fotos particularmente nas de Santos Rufino de c. 1929.
O artigo tem uma interessante introdução sobre as vilas operárias em geral mas aqui focar-me-ei nas dos CFM e em elementos que antes eu ou não conhecia ou não tinha desenvolvido (reorganiso também o tema dentro dos artigos anteriores evitando repetições exageradas).
O projecto da Vila Gorjão é de 1903 tomando a anterior Vila Mousinho como modelo e o seu primeiro corpo concluído em 1904 tinha básicamente 20 + 20 compartimentos agrupados em 5 + 5 casas no R/C e primeiro andar, casas que foram atribuidas a famílias ou a grupos de trabalhadores sem família. O segundo e terceiro corpos foram concluidos em 1905 e diz o artigo que em 1908 as Vilas Gorjão e Mousinho comportavam 60 casas (48+12, respectivamente) albergando 250 pessoas. Em princípio os 3 corpos da Vila Gorjão deviam ser semelhantes e por isso deviam ter 3 X 10 = 30 casas e não 48, mas ...
Em 1908 indicava-se num relatório que as vilas tinham sido uma "infeliz solução" na procura de habitação saudável, nas proximidades do local de trabalho e que fosse económica para os trabalhadores do porto e CFM. Isso devido à sua localização (não sei se por ser antigo pântano ou pela proximidade a grandes fontes de poluição como são o porto e as locomotivas em operação), projecto e construção. Por isso foram nessa altura melhorados os esgotos, canalizada água para todas as habitações e feitos outros trabalhos menores. 
Ainda assim em 1913 a Associação do Pessoal do Porto e Caminhos de Ferro propôs a construção de novas habitações ou pelo menos que fossem modificadas as existentes: conserto e pintura do telhado, caiação e pintura interna e externa, colocação de redes nas portas e janelas, construção de um novo cano de esgoto; colocação de grade de ferro na varanda; construção de retretes. Sugeriram também a redução de moradores no primeiro andar em cada corpo de 30 para 15 ou para 20. Deveriam também ser também instaladas retretes nas casas que só dois inquilinos do R/C tinham até então. Reparo destes textos que haveria diferenças entre os dois andares em relação a casas de banho e cozinhas, mas não as consigo entender bem. O artigo do Dr. António Sopa não explica que seguimento foi dado a essas propostas de 1913 mas deduzo que foi nenhum pois refere que grandes obras de transformação só vieram a ocorrer em 1946. Nessa altura outras alternativas de habitação tinham-se concretizado para o pessoal ferroviário, um exemplo sendo o bairro das Mahotas dos anos 60 (ver aqui no HoM).
Nota-se ainda que em 1920 um relatório mencionou que havia moradores que não cumpriam regras cívicas por exemplo de manter o asseio das casas. Foram aí determinadas novas regras por exemplo quanto a despejo de lixo, animais domésticos permitidos, limite para o número de habitantes por casa, etc) e ameaçados de despejo os prevaricadores.
Finalmente três fotos da mesma revista Xitimela que me parece só diferem no enquadramento vendo-se a passar frente às Vilas Gorjão a Av. 25 de Setembro, antiga da República:
Os três corpos da Vilas Gorjão vistos para poente 
com o recinto do porto ao fundo

Comentários

PhotoEventsPT disse…
Esta estrada era já a Estrada das Estâncias se não estou em erro
Rogério Gens disse…
Caro Paulo: Fui verificar e no mapa de 1903 a Avenida D. Carlos vai até ao antigo matadouro que é onde a linha férrea que vem a cruzar do cais para a barreira impede a sua continuação em linha recta para poente. E nesse mapa não há dúvida pois a palavra Avenida está mesmo em frente a onde foi por esse tempo construida a Vila Gorjão. Já no novo regime repúblicano, no mapa de 1925 vê-se que a D. Carlos deve ter sido redenominada em toda a extensão anterior como da República e aparece depois para oeste do antigo matadouro e seguindo ao lado da linha férrea "enviesada" a Estrada de S. José de Lhanguene, depois connhecida por das Estâncias (de madeira). Por isso parece-me que a charneira entre esses dois nomes é onde a Av. deixa de ser em linha recta, o que tinha lógica. Cumprimentos.