Central Geradora da DBDC na Av. 24 de Julho - história e imagens mais antigas (1/4)

Com informação da investigadora universitária Idalina Baptista que segue este tema (página da Universidade) podemos refazer os artigos escritos inicialmente sobre a central. 
A companhia Delagoa Bay Development Corporation (DBDC) construiu em 1903 uma central eléctrica na Av. 24 de Julho de Lourenço Marques (LM), actual Maputo para gerar energia eléctrica para a tracção dos carros eléctricos de que era concessionária e que passaram a circular no ano seguinte 
A FOTO 1 é de Borel que cobriu a visita a LM do Princípe Real D. Luis Filipe em 1907 e que reproduzo do site delagoabayworld com trabalho adicional do HoM. Borel quis fotografar um grupo de guerreiros que se dirigia para o cortejo oficial de que falámos aqui e por trás deles captou a única imagem antiga que conheço da central original vista de perto. 


FOTO 1 de 1907
Ao fundo a central geradora e à direita o depot dos eléctricos, em 1907

O depósito (depot ou estação) dos carros eléctricos da DBDC, de que na FOTO 1 se vê principalmente o topo do lado leste = nascente, na sua dimensão mais longa ladeia a Av. 24 de Julho de onde a foto foi tirada. A DBDC instalou os dois pavilhões da central geradora própriamente dita ficavam mais para o centro do quarteirão, na direcção sul e para onde o terreno desce moderadamente. 
No trabalho de doutoramento sobre LM o senhor V. Zamparoni disse aproximadamente o seguinte: "O mês de março de 1904 presenciou, talvez, a primeira manifestação ecológica em Lourenço Marques: moradores da Av. Central (HoM: que ficava logo do lado de lá desta posição da central na perpendicular à Av. 24 de Julho) peticionaram à Câmara para que esta obrigasse a Companhia dos elétricos a aumentar a altura da chaminé cuja fumaça invadia casas danificando-as bem como às mobílias”. Como a queixa parecia relevante, presumo que a chaminé da central que se vê ao centro da FOTO 1 em 1907 estivesse já alteada em relação à inicial. 
O fumo expelido pela chaminé seria o da combustão de carvão para aquecimento da água e sua transformação em vapor nas caldeiras da central. Esse vapor fazia mover uma ou várias máquinas a vapor que por sua vez faziam rodar os geradores de electricidade da central. 
A torre mais larga à esquerda da FOTO 1 com forma rectangular devia ser para arrefecimento e condensação do circuito de água - vapor e por isso devia emitir sómente vapor de água. 
Segue-se outra foto também de 1907 tirada do início da actual Av. Samora junto à fortaleza:

FOTO 2 de 1907

Foto de Lazarus reproduzida por Alexandre Lobato (AL) no livro Xilunguíne

A legenda original de AL para a FOTO 2 era; (Na) foto acima, tirada em 1907 ...ao fundo pode ver-se a grande chaminé (sic) em madeira da Central Geradora de Energia Elétrica dos tramways, na Av. 24 de Julho ...". Sendo a FOTO 2 do mesmo ano que a FOTO 1 é natural que a configuração dos elementos principais da central fosse a mesma. Vê-se então na FOTO 2 a mesma torre de arrefecimento (construída em madeira) e a chaminé não se via por desta direcção estar obstruída pela torre.    
Como se pode ver em baixo em fotos posteriores, foram mais tarde adicionadas à central uma segunda torre de arrefecimento redonda que me parece ter sido metálica e uma segunda chaminé. Tais alterações no exterior serão certamente explicadas pela instalação de novos elementos individuais ou conjuntos de caldeiras - motores - geradores no interior dos pavilhões da central de que não temos fotos. Mesmo que a sua tecnologia tenha continuado a ser de máquinas a carvão e vapor e geradores de Corrente Contínua as características técnicas do equipamento electromecânico da central foram evoluindo e segundo Idalina Baptista por exemplo em 1915/16 foram montadas duas novas caldeiras com carregadores automáticos, o que leva a concluir que para as primeiras caldeiras o carvão era lançado para a fornalha pelo tradicional fogueiro. 
A FOTO 3 foi tirada dum ponto da avenida mais à frente = para norte do da FOTO 2 e onde é aproximadamente o cruzamento da Av 25 de Setembro com a Av Samora (vê-se o lado a leste do prédio Pott agora semi-destruído à direita da FOTO 3). Sendo a FOTO 3 talvez uns vinte anos posterior à FOTO 2, vê-se para o fundo dela que a central da Av. 24 de Julho tinha já uma segunda torre de arrefecimento.  

FOTO 3 - antes de 1929
Vista para norte na actual Av. Samora, central geradora ao fundo

Noto que a FOTO 3 foi possível pois nessa altura ao fundo da avenida Aguiar, depois D. Luis, agora Samora ainda não havia o edifício do agora Conselho Municipal que foi concluído em 1947. 
Agora uma foto da mesma altura da FOTO 3 de cima e com a chaminé da central a fumegar e bastante mais alta que as torres de arrefecimento. Nesse momento o vento soprava na direcção dominante vendo-se o rasto do fumo para cerca de noroeste. A foto foi tirada ao lado do Mercado Municipal na Avenida Central/Manuel de Arriaga, actual Marx que subindo da baixa da cidade como se vê aqui vai passar do lado poente = oeste do quarteirão da central geradora.

FOTO 4 de 1929
Foto do filme de 1929 da Cinemateca Portuguesa

Para finalizar este primeiro artigo a central referida num mapa do princípio do século XX (20) que mostra a sua localização na cidade, no actual Bairro Central entre a baixa e a alta. Como era um mapa hidrográfico, preocupava-se em indicar os pontos altos da cidade para orientação dos navios e daí o destaque dado à sua torre. O local era identificado como sendo da Companhia de Tracção referindo-se à actividade da DBDC como concessionária dos carros eléctricos. 

MAPA de 1904_06
Castanho: quarteirão da DBDC, 
limitado pelas avenidas (orientações aproximadas):
Azul: antiga Andrade Corvo, actual Min, a sul
Verde: Actual 24 de Julho, a norte
Laranja: antiga Central, depois Manuel de Arriaga, a
ctual Av. Marx, a oeste
Amarelo: Anchieta, actual Palme, a leste

Olhando para mais quatro mapas da cidade constata-se que alguns mostram a divisão do quarteirão da DBDC em três grandes parcelas rectangulares. 

MAPAS de 1915 aos anos 50
Castanho: centro da parcela da DBDC 
no quarteirão abaixo da Av. 24 de Julho e entre as duas avenidas "verticais"

Em todos estes mapas a parcela da DBDC chegava à Av. Andrade Corvo, actual Min mas em fotos dos anos 50 aparecem nesse topo sul construções que não sei se estariam ainda relacionadas com a companhia de electricidade, que tinham na altura passado a ser os SMAE. Noto ainda que no mapa de 1915 está desenhada uma construção de grandes dimensões dentro da parcela da DBDC mas que não parece corresponder com muita precisão aos três pavilhões aqui abordados. 
Tema continua no próximo artigo,

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