Com informação da investigadora universitária Idalina Baptista que acompanha este tema (página da Universidade) continuamos a falar sobre a Central Geradora da DBDC em Lourenço Marques (LM), actual Maputo.
Como foi dito no artigo anterior, a central da DBDC na Av. 24 de Julho foi construída cerca de 1903 para fornecer a partir de 1904 a alimentação aos carros eléctricos.
Na foto seguinte está o edifício Tonelli em construção e ela será por isso de cerca de 1955:
Finalmente uma foto posterior a 1948 e anterior a 1960 dado que em primeiro plano não tinha começado a construção do prédio Funchal (e assim sendo a foto teria de ser de 1959 ou antes pois a central ainda estava a funcionar)
Nesta última foto vê-se bem as duas torres de arrefecimento a fumegar de vapor, uma mais clara, alta e estreita e outra mais escura, baixa e larga que foi a inicial. Para norte delas vê-se duas chaminés muito mais altas estando pelo menos uma delas a deitar fumo ténue parece que para norte.
Via-se mais para a direita para lá da Av. 24 de Julho o Cine-Teatro Manuel Rodriques, actual Cine África inaugurado em 1948, um ano depois da conclusão do edifício da Câmara Municipal.
Capacidades e voltagens na central da DBDC da Av. 24 de Julho
Quanto ao que se passou depois nessa central, a sua configuração e tensões = voltagens de geração não ficam bem esclarecidas pelas minhas leituras. Presumo no entanto que todos os seus geradores (e presumo incluindo o que forneceu o porto a partir de 1908, que seria um adicional ou substituto do inicial) e pelo menos até 1947 foram de Corrente Contínua (CC). Outra informaçao é de que
A tracção dos carros eléctricos far-se-ia aos 550 V referidos e presumo que a tensão da energia para o porto fosse a mesma de modo a que geradores de serviço e de reserva pudessem ser partilhados entre as cargas conforme as necessidades e urgências. Nos anos 20 (1922 ou 1926?) o porto estava insatisfeito com a energia da DBDC e instalou central própria, curiosamente com equipamento dos mesmos fabricantes mencionados em cima (nâo é possível verificar se as capacidades eram as mesmas e se por isso teria havido simples deslocação duma central para outra).
Os geradores para a rede pública adicionados depois de 1912 seriam primeiro à tensão de 110 V CC com que se iniciou o serviço de electricidade em LM e depois de 1922 à de 220 V CC adoptada desde aí na cidade. Só em 1959 começou a migração desses 220 V CC para 220 V CA e 380 V CA em trifásica.
Como os carros eléctricos circularam até 1936, pelo menos até essa altura ter-se-ão mantido os geradores iniciais da DBDC que seriam de 500 V.
Como foi dito no artigo anterior, a central da DBDC na Av. 24 de Julho foi construída cerca de 1903 para fornecer a partir de 1904 a alimentação aos carros eléctricos.
Em 1908 a DBDC, passou daí a fornecer energia ao porto e presumo que esse contrato estivesse em conformidade com os direitos da CGd'E como concessionária que operava a central na Baixa (noto que em 1908 a CGd'E e a DBDC eram ainda empresas separadas). A CGd'E não tinha exclusivo absoluto de fornecimento de electricidade pois era permitida produção para consumo próprio, mas esse não era aqui o caso do porto pelo que suponho que este teria uma prerrogativa especial e de que a DBDC teria beneficiado.
Em 1910 a DBDC tomou o controlo da concessão da electricidade da CGd'E e a partir de 1912 concentrou na Av. 24 de Julho toda a geração.
Numa série posterior de artigos (primeiro aqui) veremos que os Serviços Municipalizados de Água e Electricidade (SMAE) criados pela Câmara Municipal para a gestão das anteriores concessões da DBDC, adquiriram em 1947 os activos da DBDC incluindo esta central na altura com 2.7 MW de capacidade de produção e a rede eléctrica da cidade (sobre as capacidades e voltagens ver nota ao fundo). Como veremos as duas infraestruturas eléctricas estavam em estado muito deficiente e foi necessário muito tempo, esforço e investimento para o conseguir melhorar. A central da Av. 24 de Julho continuou a ser operada pelos SMAE até 1963 e como os SMAE mantiveram depois a propriedade do espaço utilizando-a para outras funções, estas instalações pertencem agora à empresa estatal Electricidade de Moçambique.
As fotos seguintes penso que são todas posteriores a 1947 e por isso estariam já os SMAE a operar a central. A maior parte delas são de fotos/postais e reproduzidas do site delcampe.com onde podem ser adquiridos/das.
Primeiro uma foto confirmadamente posterior a 1947 pois o edifício da Câmara / Conselho Municipal está concluído mas para o limite superior a foto é anterior à construção do edifício Tonelli iniciada em 1954 e terminada em 1958:
FOTO 1
Amarelo: depósito dos eléctricos/tramways face à Av. 24 de Julho Azul: central geradora com duas torres de refrigeração em funcionamento e duas chaminés muito mais altas que as torres |
A FOTO 2 mostra à esquerda a central no seu quarteirão por trás = norte da Câmara Municipal. A data é de 1962 ou depois dado que já se via ao fundo a igreja da Polana. Noto que a central tinha primeiro deixado de operar em 1959 mas em 1961 teve de retomar a produção até ter sido definitivamente desactivada em 1963. Provávelmente esta foto é posterior a 1963 mas vê-se ainda as chaminés e torres de arrrefecimento que não sei quando foram retiradas. O resto do grosso das instalações manteve-se até aos nossos dias como veremos noutro artigo.
FOTO 2
Central geradora no quarteirão à esquerda da foto por trás da Câmara/Conselho Municipal |
Agora fotos com a central que veremos pelas envolventes são posteriores a 1947 mas anteriores a 1960 e devem mostrar a central a funcionar antes dos cerca de 3 anos de interrupção entre 1959 e 1961.
A seguinte dá uma vista paralela à Av. 24 de Julho para poente = oeste e constata-se que não havia o edifício Tonelli e é por isso anterior a 1954.
FOTO 3
Fumo branco na central ao centro em altura, para a direita em largura da foto |
FOTO 4
Vista para sul com a central fumegando acima do bordo inferior da imagem |
Nesta última foto vê-se bem as duas torres de arrefecimento a fumegar de vapor, uma mais clara, alta e estreita e outra mais escura, baixa e larga que foi a inicial. Para norte delas vê-se duas chaminés muito mais altas estando pelo menos uma delas a deitar fumo ténue parece que para norte.
Via-se mais para a direita para lá da Av. 24 de Julho o Cine-Teatro Manuel Rodriques, actual Cine África inaugurado em 1948, um ano depois da conclusão do edifício da Câmara Municipal.
Capacidades e voltagens na central da DBDC da Av. 24 de Julho
Segundo o artigo de Salomão Vieira inserido no Boletim n. 9 do Arquivo Histórico de Moçambique de Abril de 1991 "um Anuário Comercial informava que os maquinismos consistiam de quatro caldeiras Babcock and Wilcox, duas de 120 cavalos e duas de 80 cavalos; quatro máquinas Bellis and Morcom Lancashire, directamente ligadas a geradores, um de 400 kw, dois de 200 kw e um de 75 kw, uma capacidade total de 875 kw", o total que tinhamos referido aqui. "Compreendiam tambem uma bateria de acumuladores e um 'boaster' compensador. A voltagem era de 550 volts e o equipamento fornecia também energia eléctrica ao Porto e Caminho de Ferro."
A tracção dos carros eléctricos far-se-ia aos 550 V referidos e presumo que a tensão da energia para o porto fosse a mesma de modo a que geradores de serviço e de reserva pudessem ser partilhados entre as cargas conforme as necessidades e urgências. Nos anos 20 (1922 ou 1926?) o porto estava insatisfeito com a energia da DBDC e instalou central própria, curiosamente com equipamento dos mesmos fabricantes mencionados em cima (nâo é possível verificar se as capacidades eram as mesmas e se por isso teria havido simples deslocação duma central para outra).
Os geradores para a rede pública adicionados depois de 1912 seriam primeiro à tensão de 110 V CC com que se iniciou o serviço de electricidade em LM e depois de 1922 à de 220 V CC adoptada desde aí na cidade. Só em 1959 começou a migração desses 220 V CC para 220 V CA e 380 V CA em trifásica.
Como os carros eléctricos circularam até 1936, pelo menos até essa altura ter-se-ão mantido os geradores iniciais da DBDC que seriam de 500 V.
Vi ainda referido que para o fim a central da Av. 24 de Julho funcionava a 2 X 220 V mas não sei se isso quer dizer que havia redundância ou que era possível combinar tensões para fornecer 440 V CC a quem o pretendesse.
Resumindo com estes números não se consegue descortinar claramente uma continuidade dos equipamentos de geração desta central pois alguns deles, para mais, podem ter sido modificados ao longo da vida para responderem a novos requisitos da rede
Tema continua no próximo artigo.
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