Electricidade em LM - centrais CT I e CT II até 1968/70 - Eng. Lino Pires.i (2/9)

Primeiro a traços largos o que se viu até aqui e o resumo do que de novo se verá em baixo sobre a evolução do sistema de geração de electricidade de Lourenço Marques (LM) iniciado em 1898. 
A central a carvão da DBDC de Corrente Contínua (CC = DC) da Av. 24 de Julho tinha 2.7 MW de capacidade de produção em 1947, ano em que foi comprada pelos SMAE da CM de LM que a ampliaram nos anos seguintes com 3.17 MW adicionais. 
Uma nova Central Térmica I (CT I) com 12.5 MW ainda a carvão mas em Corrente Alternada (CA) para ser distribuida em baixa tensão de 220 V monofásica e 380 V trifásica e a 50 Hz foi projectada pelos SMAE para um novo local na zona suburbana do Vale do Infulene (ver aqui as instalações actuais da EDM nesse recinto em google maps). Após grande demora a CT I foi completada em 1959 e foi tomada pela SONEFE a quem entretanto tinha sido atribuída a concessão da produção em 1957. Em 1961 e 1962 a SONEFE instalou uma nova central, a CT II, ao lado da CT I com 30 MW. Nesse mesmo local em 1966 a SONEFE instalou o primeiro grupo de turbina a gás de 17.5 MW principalmente para servir de reserva às CT I e II (isto é para entrar em funcionamento sómente nos períodos de pico de consumo) e em 1968 estava em instalação mais um grupo a carvão de 15 MW.
Com a excepção indicada na primeira montagem em baixo, estas fotos da(s) central(is) eléctrica(s) de LM no Vale do Infulene do final dos anos 50 e início dos 60 são reproduzidas do site do centro de documentação da fundação edp onde há muito mais. Com elas veremos em detalhe o exterior dos dois edifícios da CT I e II nas suas várias faces, lamentávelmente a resolução das fotos é muito baixa mas ... 
Ao fundo do artigo temos um texto longo sobre o tema mas com as fotos vou dando algumas explicações. 
primeira foto mostra a Central Térmica I (CT I) que como vimos foi completada em 1959, nesta altura ainda isolada. 

FOTO 1
Fachada da CT I virada para o estuário = sul (e à direita para nascente = leste)
A montagem seguinte em que uso uma foto não pertencente ao espólio da EDP mostra como a CT 2 se veio, após a sua construção em 1961 e 1962, encostar a sul da CT I que vimos na FOTO 1:

MONTAGEM 1, com a FOTO 1 mais outra
foto à esquerda (FOTO 1): CT I ainda só, principalmente vista do lado
 onde a CT II se veio encostar. 
azul escuro na FOTO 1: fachada da CT I virada a sul = estuário, 
onde se veio encostar a CT II
foto à direita: CT I vista mais ou menos da mesma posição da FOTO 1, 
mas já tapada do lado do estuário pela CT II
Voltando à situação da CT I ainda isolada, vemos de novo mas de ângulo um pouco diferente do das duas fotos da MONTAGEM 1 a sua fachada virada para o lado do estuário = sul e que foi depois tapada pela CT II:

FOTO 2
azul escuro: fachada da CT I virada a sul = estuário onde se veio encostar a CT II
A mesma fachada da CT I isolada volta a parecer na montagem seguinte onde à direita repito de novo a FOTO 1:

MONTAGEM 2, com FOTO 3 e FOTO 1
azul escuro: fachada da CT I virada a sul = estuário onde se veio encostar a CT II
Agora duas fotos quando se olhava para a cidade (situada a poente do Vale do Infulene), com a linha de caminho de ferro para o Transvaal à esquerda = norte e o estuário do Espírito Santo, actual de Maputo à direita da central ainda isolada. Na foto da esquerda vemos a CT I à distância principalmente pela sua fachada a poente = oeste, na da direita estamos no terraço da CT I precisamente na parte superior dessa fachada.

FOTOS 4 e 5
amarelo (à esquerda): linha de caminho de ferro para o lado da cidade de LM 
que se vê ao fundo da foto da direita
Passamos de novo para fotos com as duas CT instaladas, por isso posteriores a 1961/62. Nelas vê-se as suas fachadas viradas para o parque de carvão isto é onde receberiam o sol poente (para a CT I é a mesma fachada da FOTO 4):

FOTOS 6 e 7
à esquerda (laranja claro): fachada a poente = oeste da CT I
à direita (vermelho): fachada a poente = oeste da CT II
As duas fotos de cima mostram o aprovisionamento do carvão usado como combustível nestas centrais. Vê-se nas FOTOS 6 e 7 a poente dos edifícios o parque de armazenamento e à direita da CT II a tela transportadora do carvão para as caldeiras dos geradores de vapor. Na FOTO 7 da direita vê-se ainda em primeiro plano o pórtico com 60 metros que suponho servia para deslocar o carvão depositado no parque para junto dum silo cilíndrico que se vê bem na FOTO 6 da esquerda donde passaria para a tela transportadora.
Continuamos com uma foto mostrando as duas CT e por isso posterior a 1961/62. Vê-se as suas fachadas viradas para o lado da cidade, isto é as que recebiam o sol nascente e eram opostas às vistas nas FOTOS 6 e 7 de cima. Em relação à FOTO 1 vê-se aqui a fachada da CT I que aí aparece, muito de perfil, para a direita da esquina e está também marcada a laranja.

FOTO 8
à esquerda (vermelho): CT II, a central mais recente
à direita (laranja): a CT I, a central inicial no Vale do Infulene
Agora uma foto mostrando as redondezas da central ou centrais olhando do alto dum dos edifícios para sudoeste. Como me parece que o parque de carvão não estava ainda construído esta foto teria de ser do alto da CT I.

FOTO 9
Vista do alto da central para a curva mais a noroeste da orla do estuário
onde a zona industrial do Língamo estaria para o fundo
Finalmente um foto que penso ser do equipamento no interior da CT I, a primeira central  geradora instalada à entrada do Vale do Infulene.

FOTO 10
Presumo que duas caldeiras 
tendo por cima os seus alimentadores a carvão
O resumo seguinte e parte destes artigos é baseado no texto do Eng. Manuel Lino Pires publicado no Boletim da CM de LM de Dezembro de 1968 sobre o seu projecto-director da ampliação da rede eléctrica de Lourenço Marques. A fonte é o Centro de Documentação e Informação do Instituto de Investigação Científica Tropical onde tem a cota CDI P3172. A ele junto informações das outras fontes já referidas e minhas deduções.
O Eng. Lino Pires era director dos SMAE na altura e há uma diferença de quase 20 anos entre o seu texto e o do Eng. Pimentel dos Santos referido no artigo anterior. No entanto como este texto de 1968 também fala dos antecedentes o mais importante que se terá passado nesse intervalo de 20 anos quanto ao fornecmento de electricidade a LM deve ficar coberto.
O Eng. Lino Pires começa por reforçar o que se tinha dito anteriormente dizendo que tanto o equipamento da central da Av. 24 de Julho como a rede eléctrica da DBDC até 1947 tinham precárias condições de segurança, os seus equipamentos eram heterogéneos, obsoletos e de baixo rendimento e que como as quedas de tensão chegavam aos 40% por exemplo a iluminação das residências era fraca e alguns aparelhos eléctricos não funcionavam. A Corrente Contínua (CC) gerada pela central da DBDC também não era adaptada às modernas aplicações da electricidade (pois por exemplo com CC não se pode usar directamente transformadores para modificar a voltagem = tensão eléctrica, a aparelhagem para cortar CA é mais complexa do que para CA, etc).
Rápidamente depois de tomar posse dos activos da DBDC em 1947, os SMAE tiveram que instalar conversores para CA e elevar a tensão para a zona da Ponta Vermelha (PV) onde as quedas eram incomportáveis, mas essa solução era de recurso e acarretava muitas perdas de energia. Noto que em linha recta a distância da central da Av. 24 de Julho à PV que fica no limite a sudeste da cidade era o dobro da sua distância ao bairro do Alto-Maé que fica no seu limite a noroeste, o que explica a menção específica feita pelo Eng. Lino Pires ao abastecimento deficiente à PV que para mais era a zona habitacional mais elistista da cidade. 
Os SMAE cedo adquiriram seis novos motores geradores diesel totalizando 3.1 MW antes duma nova central ser instalada. Noto que em 1948 o Eng Pimentel dos Santos falava da instalação de mais 1.2 MW prevista para dentro de um ano pelo parece que os SMAE fizeram mais do que antecipado nessa solução a curto prazo, suponho que ainda usando as antigas instalações da DBDC na Av. 24 de Julho mas os geradores diesel teriam instalação separada dos a vapor.
Para o futuro tinha sido prevista em 1948 a construção duma nova Central Térmica (CT I) a carvão à entrada do Vale do Infulene. O concurso foi aberto em 1948 em Lisboa e o seu contrato foi assinado em 1950 com a firma SETEC. A entrada em funcionamento da CT I estava prevista para 1952 mas houve atrasos (não bem explicitados no texto do Eng. Lino Pires, talvez problemas com o empreiteiro) e só aconteceu em 1959 com os dois grupos previstos de 6.25 MW (no total de 12.5 MW). 
Como em 1957 tinha sido outorgada à SONEFE (Sociedade Nacional de Estudo e Financiamento de Empreendimentos Ultramarinos) a concessão da produção de energia eléctrica por 50 anos para o distrito de LM, a CT I foi cedida à SONEFE mediante pagamento duma renda. 
A SONEFE instalou a nova CT II com dois grupos turbo-alternador de 15 MW com os respectivos geradores de vapor a carvão, que entraram ao serviço em Novembro de 1961 e Abril de 1962. Os edifícios da CT I e da CT II formavam um conjunto como vimos nas fotos de cima e as duas foram interligadas eléctricamente. Em 1966 a SONEFE adicionou à CT II um grupo de turbina a gás de 17.5 MW principalmente para servir de reserva. Em 1968 estava em curso na CT II a instalação de mais um grupo turbo-alternador de 15 MW com as características dos anteriores (a carvão) e que tinha entrada em funcionamento prevista para o princípio de 1970. 
Era dito em 1968 que a ampliação da CT II protelava a montagem duma CT III por três anos na espectativa de se poder usar energia da barragem de Cabora / Cahora Bassa. Podemos acrescentar que esta começou a ser construída em 1969 e foi concluída em 1974 (ver foto no site delagoabay com a albufeira cheia em Maio de 1975) pelo que a sua contribuição para o fornecimento de LM só poderia ser considerada a médio prazo. 
Vimos num livro da SONEFE (de que falaremos ainda) que em 1963 se previa que a CT III entrasse ao serviço em 1966 com um primeiro grupo de 40 MW e a que se seguiria quando necessário um segundo grupo com a mesma potência, mas pelo texto do Eng. Lino Pires de 1968 pode ver-se que tinham bastado cinco anos para se ter alterado esses planos. Todavia tais alterações pareciam dentro dos princípios estratégicos da SONEFE que em 1963 dizia que para LM preferiria fazer frequentes ampliações graduais, em vez de instalar novas grandes centrais mais espaçadamente no tempo como era comum noutras regiões mais desenvolvidas. A justificação era a incerteza quanto ao crescimento do consumo em LM e a expectativa de se obter recursos energéticos em Moçambique que penso eu se referiria ao gás de Pande para combustível da central e/ou à citada energia eléctrica gerada em Cabora / Cahora Bassa que concorreria com a das CT I e CT II, fornecimento que se veio a concretizar mas só bastantes anos depois (seria interessante ver como Cabora Bassa era tratada no contrato de concessão da SONEFE). 
Continuarei a desenvolver o tema em próximo artigo.
Expliquei os princípios das máquinas a vapor aqui no ponto 4.

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