Estas três fotos são reproduzidas do site da Universidade de Wisconsin Milwaukee (UW-M) e fazem parte do arquivo da American Geographical Society Library. O seu autor é Harrison Forman e já tinhamos falado desta fabulosa colecção que tem sido disponibilizada progressivamente em muitos artigos do HoM por exemplo este, este e este.
Sabemos que a construção da Central Térmica (CT I) de Lourenço Marques (LM), actual Maputo foi iniciada cerca de 1950 e só foi terminada em 1959 tendo dois grupos geradores de 6.25 MW de potência cada e que os dois grupos geradores da CT II com 15 MW de potência cada (talvez 17 MW efectivos) entraram ao serviço em Novembro de 1961 e Abril de 1962.
Nestas fotos a CT I está no edifício cinzento com o fumo saindo das chaminés pretas e o edifício onde a CT II foi instalada, central que já apareceu no artigo anterior e veremos em detalhe no artigo seguinte, estava ainda em obras. Como as chaminés (castanhas) da CT II estavam a ser montadas, a estrutura do seu edifício estava completa mas elevavam-se ainda as paredes, faltariam os acabamentos e só depois far-se ia a montagem do equipamento no interior o qual teria ainda de ser testado isoladamente e em conjunto, etc pelo que haveria ainda muitíssimo que fazer na CT II. Por isso sobre as datas e também as legendas que estão no site da UW-M para estas fotos comento ao fim deste artigo.
Nestas fotos a CT I está no edifício cinzento com o fumo saindo das chaminés pretas e o edifício onde a CT II foi instalada, central que já apareceu no artigo anterior e veremos em detalhe no artigo seguinte, estava ainda em obras. Como as chaminés (castanhas) da CT II estavam a ser montadas, a estrutura do seu edifício estava completa mas elevavam-se ainda as paredes, faltariam os acabamentos e só depois far-se ia a montagem do equipamento no interior o qual teria ainda de ser testado isoladamente e em conjunto, etc pelo que haveria ainda muitíssimo que fazer na CT II. Por isso sobre as datas e também as legendas que estão no site da UW-M para estas fotos comento ao fim deste artigo.
Nestas fotos vemos a central (ou as centrais para ser mais preciso) mais ou menos para sudeste, estando a Machava e o Vale do Infulene para as costas do fotógrafo, o estuário para a direita pelo que a cidade de cimento estaria para o fundo, por exemplo na FOTO 1 da sua esquerda para o centro, aproximadamente. Nessa FOTO vê-se que o recinto do porto e caminhos de ferro ficava imediatamente para lá da central.
FOTO 1
Linha férrea principal na direcção de LM, parque de carvão, CT I em operação e CT II em construção |
FOTO 2
Foto tirada mais perto da estrada nacional vendo-se aqui a estação de bombagem no estuário |
FOTO 3
Dentro do recinto da central vê-se mais comprimento do parque de carvão e ao seu lado norte o ramal de linha férrea que o servia |
Alguns pontos relevantes a abordar aqui:
a. Abastecimento em carvão
Sobre o parque de carvão estas fotos esclarecem que o seu pórtico e a tela transportadora para as caldeiras só mais tarde foram instalados e por isso expressamente para a CT II. Como veremos nos esquemas do artigo seguinte a tela subiria para o alto da estrutura da CT II que ficava mais à direita e que nestas fotos estava ainda aberta.
a. Abastecimento em carvão
Sobre o parque de carvão estas fotos esclarecem que o seu pórtico e a tela transportadora para as caldeiras só mais tarde foram instalados e por isso expressamente para a CT II. Como veremos nos esquemas do artigo seguinte a tela subiria para o alto da estrutura da CT II que ficava mais à direita e que nestas fotos estava ainda aberta.
Não sei como a CT I era abastecida a partir deste parque de carvão na versão inicial. A forma mais prática de o fazer é, como se planeou para a CT II, elevá-lo até acima das fornalhas e depois deixar a gravidade (controladamente) funcionar. Na CT I vê-se dois tubos paralelos subindo ao longo da fachada da CT I do lado do parque do carvão mas não me parecem capazes de conduzir minério para o topo do edifício (seriam para água ou vapor?). Quer dizer, outra solução terá sido adoptada para levar o carvão às fornalhas da CT I mas não sendo conhecedor do assunto passo. Noto que a CT I foi projectada no final dos anos 40 e início dos 50 por isso a tecnologia que estava disponível para ela acabava por ser cerca de dez anos mais atrasada do que a que foi usada na CT II.
b. Localização e possíveis razões
Como temos visto as CT I e depois a CT II foram construídas do início dos anos 50 até 1962 num local situado à entrada do Vale do Infulene para quem vinha da cidade de LM. No eixo norte-sul esse espaço estava entre o estuário que lhe ficava a sul (à direita nestas fotos) e a linha de caminho de ferro para a Ressano Garcia na fronteira com a África do Sul (que se vê nas 3 fotos em cima ladeando pelo exterior do seu recinto murado), passando ainda a estrada nacional para a Matola umas dezenas de metros mais a norte da linha (não se vê nestas fotos).
Podemos imaginar que para a escolha do local (inicialmente para a CT I mas certamente prevendo a posterior inserção da CT II) muitos factores terão sido tomados em conta, nomeadamente de desenho de rede e logísticos/operacionais. De facto o local reúnia características para esta central a carvão que em retrospectiva parecem imprescindíveis e/ou muito favoráveis, como se elenca aqui com alguma informação da investigadora universitária Idalina Baptista (página da Universidade):
i. ficando a cerca de 10 km do centro da cidade de LM não deixava de ter acesso fácil por estrada;
Como temos visto as CT I e depois a CT II foram construídas do início dos anos 50 até 1962 num local situado à entrada do Vale do Infulene para quem vinha da cidade de LM. No eixo norte-sul esse espaço estava entre o estuário que lhe ficava a sul (à direita nestas fotos) e a linha de caminho de ferro para a Ressano Garcia na fronteira com a África do Sul (que se vê nas 3 fotos em cima ladeando pelo exterior do seu recinto murado), passando ainda a estrada nacional para a Matola umas dezenas de metros mais a norte da linha (não se vê nestas fotos).
Podemos imaginar que para a escolha do local (inicialmente para a CT I mas certamente prevendo a posterior inserção da CT II) muitos factores terão sido tomados em conta, nomeadamente de desenho de rede e logísticos/operacionais. De facto o local reúnia características para esta central a carvão que em retrospectiva parecem imprescindíveis e/ou muito favoráveis, como se elenca aqui com alguma informação da investigadora universitária Idalina Baptista (página da Universidade):
i. ficando a cerca de 10 km do centro da cidade de LM não deixava de ter acesso fácil por estrada;
ii. estando ao lado do estuário dispunha-se de água em abundância para arrefecimento do vapor à saída das turbinas (a potência duma turbina a vapor depende da diferença entre as pressões do vapor à sua entrada e saída), dispensando as torres que tinham equipado a central anterior da Av. 24 de Julho. Noto que tanto a CT I como a CT II usavam turbinas a vapor como máquinas para os geradores enquanto que a central da Av. 24 de Julho usava motores a vapor tradicionais (com pistões e bielas acopladas à cambota que roda para fazer funcionar o alternador eléctrico que nesse caso da Av. 24 de Julho era para geração de corrente contínua);
iii. ficando centralizada entre a cidade, a Matola e Machava que eram zonas de expansão residencial e industrial e a Av. de Moçambique (EN 1) que também era um polo industrial, a central neste local melhorava o equilíbrio da rede eléctrica em relação à central da Av. 24 de Julho de localização urbana;
iv. estando do lado da África do Sul facilitav-se a interligação da rede mocambicana à daquele país feita em alta tensão a partir do subestação do Infulene situada nas proximidades;
v. receberia o combustível, carvão proveniente das minas do Transvaal na África do Sul, pela via férrea que lhe passava ao lado;
vi. quanto à poluição foi feita a escolha clara de evitar o impacto que a cidade de cimento tinha sofrido com a central da Av. 24 de Julho. Apesar do avanço técnico as centrais a carvão continuavam a ser poluentes com emissão de fumos e cinzas e como os ventos predominantes em LM sopram da baía e do estuário para o interior, a cidade de cimento aqui seria poupada. Em direcção à zona da Machava (que para a central fica na direcção oposta à de LM) o Vale do Infulene que era desabitado serviria como primeira zona "tampão". Mas como podemos ver nas três fotos nesse dia o vento soprava para cerca de norte - nordeste o que direcccionava no imediato o fumo das chaminés da CT I para o espaço entre elas e as traseiras do cemitério de S. José de Lhanguene, área extensa onde suponho existiria já nessa altura principalmente um bairro residencial de "caniço" - ver aqui actualmente. No entanto como não sei como se propagava o fumo desta central e como variavam a direcção e intensidade do vento ao longo do ano, não sei em que zona, por exemplo nessa direcção para nordeste, os impactos da poluição seriam maiores e que grau de severidade teriam.
c. Grave acidente na CT I em 1961
Um grave acidente ocorreu em Maio de 1961 na CT I tendo como consequência a interrupção total da sua produção de energia durante cerca de dois anos. Baseio-me de novo no texto do Eng. Manuel Lino Pires que era director dos SMAE e foi publicado no Boletim da CM de LM de Dezembro de 1968 e cuja fonte é o Centro de Documentação e Informação do Instituto de Investigação Científica Tropical onde tem a cota CDI P3172.
Em Setembro de 1960 a SONEFE, a nova concessionária de produção de energia para o distrito de LM) tinha proposto ao governo a ligação em paralelo dos dois grupos turbo-geradores da CT I que tinham entrado ao serviço em 1959.
Os SMAE tinham sido de opinião negativa porque deixaria de haver reserva e a rede ficaria desprotegida mas o governo autorizou a proposta da SONEFE. Em Maio de 1961 o receio dos SMAE confirmou-se pois as chumaceiras de impulso e apoio das duas turbinas da CT I griparam o que implicou um prolongado período de reparação.
Quanto a esse acidente gerou-se troca de acusações entre a SONEFE (que era responsável pela central geradora) e os SMAE (que era responsável pelas redes de transporte e distribuição a ela ligadas) sobre o desenho da rede e das protecções que deviam ter funcionado e não funcionaram, de que só tenho a versão dos SMAE e de que não sei qual foi a conclusão (ver NB1 em baixo).
Para minorar o problema (no abastecimento da cidade causado pela paragem da total da CT I) foi obtida energia da central de reserva dos CFM e de centrais geradoras particulares e os SMAE montaram pequenos grupos geradores a diesel em Corrente Alternada (CA) onde já havia rede em CA. Mas o recurso principal foi voltar a pôr em funcionamento a central antiga da Av. 24 de Julho que tinha sido comprada à DBDC em 1947 e tinha sido depois ampliada pelos SMAE com grupos a diesel. Como a central da Av. 24 de Julho funcionava em Corrente Contínua (CC) isso implicou o restabelecimento em CC de milhares de ligações que depois da entrada ao serviço da CT I em 1959 tinham passado a CA. Para a rede o Eng. Lino Pires fala em "difíceis e melindrosas manobras diárias nas instalações da (nova) rede de distribuição ainda em conclusão e montagem" mas para os consumidores que tivessem já comprado ou adaptado aparelhos para funcionar a CA o processo também não deve ter sido fácil, mas o relatório do Eng. Lino Pires é omisso quanto a essa questão.
d. Data e legendas das fotos no site da Universidade de Wisconsin Milwaukee
Sobre a data das fotos é dito que são de "cerca de 1961" o que indica que não foram bem anotadas de origem. Olhando para o avanço da construção da CT II parecia que faltava muito a fazer para que em Novembro de 1961 ela entrasse ao serviço mas numa outra foto desta colecção há um cartaz para um evento que decorreria a 22 e 23 de Abril de 1961 e que por isso não devia ser uma data muito distante. Daí podiamos assumir que as fotos serão do início de Abril de 1961 o que quer dizer que o resto do trabalho para a CT II foi feito em ritmo acelerado. O limite das fotos seria Maio de 1961 pois via-se nelas a CT I a laborar o que aconteceu só até esse mês tendo depois, como vimos, interrompido a produção até a avaria ter sido reparada em meados de 1963.
Quanto à informação das legendas originais, para uma das fotos é "pile of chrome ore near factory" e para duas "processing plant and chrome ore". As notas do fotógrafo são: Mozambique: Chrome ore, Processing plant e Industry Lorenco Marques. Isso quer dizer que o autor das fotos e/ou das legendas confundiu o carvão mineral usado como combustível desta central geradora com o minério de crómio que seria matéria prima de uma fábrica de processamento para se obter esse metal, e a partir daí falhou o resto.
Notícias recentes sobre o fornecimento de energia a Maputo são que uma nova central térmica de ciclo combinado entrou em funcionamento em 2018. Gera 106 MW (megawatt) de electricidade a partir de gás natural de Temane em Inhambane e os planos para ela tinham sido anunciados aqui. É dito que a central fica no bairro Luis Cabral de Maputo pelo que me leva a crer seja o local das antigas CT I e 2 ainda a ser usado. Em artigo seguinte falaremos mais do peso do passado na evolução das redes eléctricas (ou de outras).
No artigo seguinte falaremos mais específicamente do estado da CT II em 1963.
Um grave acidente ocorreu em Maio de 1961 na CT I tendo como consequência a interrupção total da sua produção de energia durante cerca de dois anos. Baseio-me de novo no texto do Eng. Manuel Lino Pires que era director dos SMAE e foi publicado no Boletim da CM de LM de Dezembro de 1968 e cuja fonte é o Centro de Documentação e Informação do Instituto de Investigação Científica Tropical onde tem a cota CDI P3172.
Em Setembro de 1960 a SONEFE, a nova concessionária de produção de energia para o distrito de LM) tinha proposto ao governo a ligação em paralelo dos dois grupos turbo-geradores da CT I que tinham entrado ao serviço em 1959.
Os SMAE tinham sido de opinião negativa porque deixaria de haver reserva e a rede ficaria desprotegida mas o governo autorizou a proposta da SONEFE. Em Maio de 1961 o receio dos SMAE confirmou-se pois as chumaceiras de impulso e apoio das duas turbinas da CT I griparam o que implicou um prolongado período de reparação.
Quanto a esse acidente gerou-se troca de acusações entre a SONEFE (que era responsável pela central geradora) e os SMAE (que era responsável pelas redes de transporte e distribuição a ela ligadas) sobre o desenho da rede e das protecções que deviam ter funcionado e não funcionaram, de que só tenho a versão dos SMAE e de que não sei qual foi a conclusão (ver NB1 em baixo).
Para minorar o problema (no abastecimento da cidade causado pela paragem da total da CT I) foi obtida energia da central de reserva dos CFM e de centrais geradoras particulares e os SMAE montaram pequenos grupos geradores a diesel em Corrente Alternada (CA) onde já havia rede em CA. Mas o recurso principal foi voltar a pôr em funcionamento a central antiga da Av. 24 de Julho que tinha sido comprada à DBDC em 1947 e tinha sido depois ampliada pelos SMAE com grupos a diesel. Como a central da Av. 24 de Julho funcionava em Corrente Contínua (CC) isso implicou o restabelecimento em CC de milhares de ligações que depois da entrada ao serviço da CT I em 1959 tinham passado a CA. Para a rede o Eng. Lino Pires fala em "difíceis e melindrosas manobras diárias nas instalações da (nova) rede de distribuição ainda em conclusão e montagem" mas para os consumidores que tivessem já comprado ou adaptado aparelhos para funcionar a CA o processo também não deve ter sido fácil, mas o relatório do Eng. Lino Pires é omisso quanto a essa questão.
Entretanto o primeiro gerador da nova CT II entrou ao serviço em Novembro de 1961 com 15 MW tendo ficado os 30 MW no total da CT II prontos em Abril de 1962. Isso aliviou o problema da paragem da CT I que depois de reparada voltou a funcionar em meados de 1963, após cerca de dois anos de reparação.
Podemos tentar avaliar as consequências para o consumo do colapso da CT I que tinha 12.5 MW de capacidade instalada total enquanto que a central da Av. 24 de Julho devia ter 5.9 MW após ampliações feitas pelos SMAE e após o acidente foi usada ao máximo. Se a CT I estivesse em Maio de 1961 já a ser usada ao máximo da capacidade (certamente que não estaria mas isto é ilustrativo) as soluções de recurso teriam tido de adicionar à central da Av. 24 de Julho mais do dobro da sua capacidade, pelo que me parece deve ter sido necessário fazer-se cortes frequentes no fornecimento de energia entre pelo menos Maio e Novembro de 1961.
Resolvido esse problema e rectificadas as soluções provisórias, podemos dizer que a rede eléctrica do distrito de LM passou a funcionar únicamente em corrente alternada (tensão de 220 V monofásica e 380 V trifásica, a 50 Hz) gerada pelas CT I e CT II no Vale do Infulene a partir de meados de 1963 e que a central da Av. 24 de Julho cessou definitivamente o funcionamento o mais tardar por essa altura.
Podemos tentar avaliar as consequências para o consumo do colapso da CT I que tinha 12.5 MW de capacidade instalada total enquanto que a central da Av. 24 de Julho devia ter 5.9 MW após ampliações feitas pelos SMAE e após o acidente foi usada ao máximo. Se a CT I estivesse em Maio de 1961 já a ser usada ao máximo da capacidade (certamente que não estaria mas isto é ilustrativo) as soluções de recurso teriam tido de adicionar à central da Av. 24 de Julho mais do dobro da sua capacidade, pelo que me parece deve ter sido necessário fazer-se cortes frequentes no fornecimento de energia entre pelo menos Maio e Novembro de 1961.
Resolvido esse problema e rectificadas as soluções provisórias, podemos dizer que a rede eléctrica do distrito de LM passou a funcionar únicamente em corrente alternada (tensão de 220 V monofásica e 380 V trifásica, a 50 Hz) gerada pelas CT I e CT II no Vale do Infulene a partir de meados de 1963 e que a central da Av. 24 de Julho cessou definitivamente o funcionamento o mais tardar por essa altura.
Sobre esta avaria pode ver-se aqui uma entrevista feita no ano de 2000 por MJ Seixas (MJS) a J. Raposo de Magalhães, que tinha sido alto quadro do BNU em Moçambique (mais aqui): ver resumo na NB 2 em baixo.
d. Data e legendas das fotos no site da Universidade de Wisconsin Milwaukee
Sobre a data das fotos é dito que são de "cerca de 1961" o que indica que não foram bem anotadas de origem. Olhando para o avanço da construção da CT II parecia que faltava muito a fazer para que em Novembro de 1961 ela entrasse ao serviço mas numa outra foto desta colecção há um cartaz para um evento que decorreria a 22 e 23 de Abril de 1961 e que por isso não devia ser uma data muito distante. Daí podiamos assumir que as fotos serão do início de Abril de 1961 o que quer dizer que o resto do trabalho para a CT II foi feito em ritmo acelerado. O limite das fotos seria Maio de 1961 pois via-se nelas a CT I a laborar o que aconteceu só até esse mês tendo depois, como vimos, interrompido a produção até a avaria ter sido reparada em meados de 1963.
Quanto à informação das legendas originais, para uma das fotos é "pile of chrome ore near factory" e para duas "processing plant and chrome ore". As notas do fotógrafo são: Mozambique: Chrome ore, Processing plant e Industry Lorenco Marques. Isso quer dizer que o autor das fotos e/ou das legendas confundiu o carvão mineral usado como combustível desta central geradora com o minério de crómio que seria matéria prima de uma fábrica de processamento para se obter esse metal, e a partir daí falhou o resto.
Notícias recentes sobre o fornecimento de energia a Maputo são que uma nova central térmica de ciclo combinado entrou em funcionamento em 2018. Gera 106 MW (megawatt) de electricidade a partir de gás natural de Temane em Inhambane e os planos para ela tinham sido anunciados aqui. É dito que a central fica no bairro Luis Cabral de Maputo pelo que me leva a crer seja o local das antigas CT I e 2 ainda a ser usado. Em artigo seguinte falaremos mais do peso do passado na evolução das redes eléctricas (ou de outras).
No artigo seguinte falaremos mais específicamente do estado da CT II em 1963.
NB 1: Tentando decifrar a partir do pouco que é dito pelo Eng. Lino Pires e com a dificuldade de ser tema técnicamente complexo, a acusação da SONEFE aos SMAE terá sido de que o problema da CT I começou com avaria(s) de tipo curto-circuito nos cabos de alta tensão entre ela e o posto de seccionamento principal dos SMAE e/ou entre este e os clientes principais em alta tensão caso dos CFM, CIFEL (fundição), UFA (borracha), etc. A rede dos SMAE devia ter automáticamente seccionado o cabo afectado mas não o fez. O caso mais grave seria um "curto circuito" no cabo logo à saída da CT para o seccionamento do qual deveria haver equipamento à saída desta, mas não sei se esse equipamento pertencia à SONEFE (produção) ou aos SMAE (transporte e distribuição). Os dois geradores da central, dado que tinham passado a funcionar em paralelo desde a alteração solicitada pela SONEFE (os motivos para tal pedido não são muito claros), como a protecção não funcionou do lado da rede devem ter tentado responder a essa procura exagerada de corrente. Como não teriam protecção de modo a interromper o esforço antes de atingirem os seus limites mecânicos avariaram, se tivessem "sido desligados" antes do ponto de ruptura não tinha acontecido. Também se só um dos geradores estivesse a alimentar a parte da rede onde começou o problema, mesmo se as protecções dos SMAE não tivessem funcionado, só um deles teria avariado. Com estes elementos e como é comum a todos os acidentes graves em sistemas sofisticados que em princípio os deviam evitar, parece-me "à distância" que as causas do acidente terão sido múltiplas (e não falámos ainda dos factores equipamento e humano durante a operação) e que as culpas da sua origem e não resolução atempada terão sido repartidas entre as duas partes interligadas.
NB 2: Entrevista de MJS a JRM no jornal Público em que é referida a central e a SONEFE:
JRM: .... Isso pode ter acontecido na noite em que chegou o Sarmento Rodrigues, ao iniciar as suas funções como Governador-Geral de Moçambique...... Tinha havido uma avaria na Central de Electricidade de Lourenço Marques. Estivemos três semanas sem luz. O Almeida Teixeira era Director da Sonefe. Veio ter comigo ao Banco e disse-me: 'Se me deres hoje oitenta mil contos, eu garanto-te que no dia da chegada do Governador-Geral a cidade estará iluminada!' Não olhei nem para a esquerda nem para a direita. Emprestei-lhe logo os oitenta mil. E não lhe podia emprestar sequer um tostão!
MJS - Porquê?
JRM - Porque a Sonefe estava falida. E o Estado nunca lhe tinha avalizado as dívidas. Até se dizia que Sonefe significava Sociedade de Negócios Felizes! Nenhuma dependência do Banco podia conceder crédito à Sonefe. Escrevi então uma carta para Lisboa, ao Conselho de Administração, explicando que, perante a situação de angústia que se vivia na cidade (havia brigadas organizadas, andávamos todos armados - já tinha estalado a guerra no Norte! - os pretos, coitaditos, para poderem circular tinham que apresentar uma espécie de salvo-conduto...) e ao abrigo das prerrogativas que me estavam atribuídas, tinha decidido, individualmente, autorizar aquela operação. Fiz isto para não entalar os outros membros da Directoria, caso o Conselho de Administração em Lisboa reagisse mal. A carta nunca teve resposta, sabendo eu que tinham dado a maior sorte à minha atitude. Chegaram mesmo a pensar demitir-me!...
MJS - E a Sonefe pagou?
JRM - Pagou.
Como Sarmento Rodrigues iniciou o mandato como Governador Geral de Moçambique em 1961 em geral (mas não consigo verificar o mês da sua chegada a LM) esta descrição coaduna-se com o acidente na CT 1 que como vimos em cima aconteceu em Maio de 1961.
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