Electricidade em LM - CT II até 1963 - livro da Sonefe (4/9)

Continuando a série sobre o passado sistema eléctrico de Maputo, antiga Lourenço Marques (LM) agora um artigo principalmente baseado num pequeno livro publicado pela SONEFE sobre a Central Térmica II (CT II). Complementa-se assim as informações dos artigos anteriores (este e este) muito baseados no texto do Eng. Lino Pires. 
Este livro da SONEFE foi impresso em Março de 1963, por isso com os dois primeiros geradores da CT II em funcionamento mas antes da instalação do seu grupo de turbina a gás de 17.5 MW em 1966/67 e do terceiro grupo (o quarto no total da CT II e o sexto das CT I e CT II) a carvão de 15 MW de potência eléctrica que estava em instalação em 1968 e que penso foi inaugurado em 1970. 
A CT I e a CT II ficaram interligadas eléctricamente para garantir maior segurança e elasticidade de operação, por exemplo quando o consumo obrigava ao lançamento dum gerador que estivesse de reserva. Como já detalhámos no artigo anterior em termos físicos as duas CT ficaram instaladas uma ao lado da outra num grande terreno à entrada do lado nascente do vale do Infulene nos arredores de LM.
A primeira foto retirada do livro da SONEFE mostra o conjunto da CT I e CT II (a que genéricamente se pode chamar "a central" pois ela era assim apercebida do exterior) vendo-se o interior das terras para o fundo e para a direita. É uma foto aérea tirada sobre a margem norte do estuário e a cidade de LM estaria para o lado direito conforme aponta uma das setas verdes na estrada nacional que passa próxima da central. 

FOTO 1
Vermelho: CT II da SONEFE de 1961/62
Laranja: CT I de 1959, inicialmente do Estado mas depois outorgada à SONEFE
Amarelo: edifício de escritório, laboratório e armazém da central
Creme (encostado ao anterior): grupo diesel de socorro, na previsão do pior
Roxo: subestação da central para as linhas de alta tensão 
para Matola, Machava e Mahotas
Preto: parque de carvão
Azul: condutas da estação de bombagem colocada no estuário 
e que não se vê nesta foto
Castanho claro: vale do Infulene
Agora dois esquemas técnicos do mesmo livro. No primeiro vemos a implantação das instalações com as cores principais correspondentes às de FOTO 1 e a que faço alguns acrescentos:

ESQUEMA 1
Azul: estação de bombagem no estuário ligada pelas condutas à central
Preto: parque de carvão
Cinzento: pórtico do parque de carvão
Verde: estrada nacional entre LM e Matola, neste troço a nascente 
do atravessamento do Vale do Infulene
Manchas azul e castanha: estuário e sua costa antes da central
Agora o corte geral das instalações das CT I e CT II que aparecem ao centro da imagem e de que se podem ver pormenores técnicos no interior dos seus edifícios conjuntos. 
Na legenda destaco alguns elementos em redor:

ESQUEMA 2
Roxo: subestação da central para as linhas de alta tensão 
para Matola, Machava e Mahotas (transformação de 10.5 kV para 30 kV)
Preto: silo do carvão ligado ao parque de carvão
Cinzento: pórtico do parque de carvão
O livro da SONEFE nota que as condições técnicas para o vapor à entrada das turbinas e da água ao longo do circuito água-vapor e a disposição geral dos equipamentos da CT II seguiram as da CT I, de modo a que qualquer gerador de vapor pudesse alimentar qualquer dos grupos turbo-alternadores das duas centrais e ganhar-se flexibilidade na sua operação por exemplo em situação de avaria (ou de pico de consumo, caso um deles estivesse de reserva). 
Vemos a seguir os dois grupos (motor mais alternador) geradores iniciais da CT II, cada um de 15 MW de potência nominal e fornecendo tensão a 10.5 kV, trifásica e a 50 Hz.

FOTO 2
Sala das máquinas da CT II: dois grupos turbo-alternadores iniciais de 15 MW
Sublinhe-se que o contrato de concessão da SONEFE de 1957 era para instalação e laboração regular dum grupo turbo-alternador completo de 15 MW e gerador de vapor mas dada a previsão de evolução do consumo do distrito de LM, foi decidido instalar dois grupos de 15 MW que entraram ao serviço em Novembro de 1961 e Abril de 1962. Noto que o Eng. Amilcar Silva Guerra de que voltaremos a falar, num relatório dos anos 60 afirmou que nas condições prácticas da rede estes geradores tinham potência de 17 MW.

O carvão para a central provinha das minas do Transvaal, chegava por um ramal da via férrea que vinha da África do Sul para a cidade e passava ao lado da central e era descarregado dos vagões para o parque respectivo que vimos à esquerda da FOTO 1. Como já dissemos, daí entrava num silo de onde uma tela (que aparece cortada no segundo esquema) o transportava para o cimo das caldeiras dos geradores de vapor. Estes estavam dotados de dispositivos de regulação automática da queima comandando a proporção de carvão e ar admitidos. As caldeiras poderiam ser adaptadas a combustível líquido através da montagem dos queimadores respectivos, como já dissemos penso que na perspectiva de utilização do gás de Pande. As cinzas do carvão consumido na central eram transportadas em vagonetas para um silo, marcado à direita da CT I a castanho escuro no ESQUEMA 1.

FOTO 3
Sala de fogo: frente das duas caldeiras da CT II
A água do circuito água-vapor que fazia rodar as turbinas dos alternadores era desmineralizada. A água do circuito de refrigeração do vapor à saída das turbinas era salgada e captada numa estação de bombagem colocada no estuário que tinha sido instalada para a CT I e adaptada e ampliada para a CT II. Depois de atravessar os condensadores de vapor e os refrigeradores de óleo e ar essa água era restituída ao estuário. Podemos ver essa instalação no estuário, presumo que ainda só para a CT I, na foto seguinte reproduzida do site do centro de documentação da fundação edp.


FOTO 4
Condutas ligando a central à estação de bombagem no estuário
 cuja margem sul é visível ao fundo
Num próximo artigo falaremos da CT II, que vimos aqui no início da operação, numa fase seguinte com novos equipamentos.

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