Estação telegráfica e cabos submarinos em LM - cabos submarinos e o aterro - hipóteses HoM (3/13)

FOTO 1
Foto origem holandesa com data muito vaga (1890-1910)
Falámos já neste artigo de por onde vinha o pelo menos par de cabos submarinos entre a baía, o estuário e a enseada da Maxaquene e qual o traçado aproximado até à estação tendo para isso de subir a barreira. Em cima vemos a estação do cabo submarino da Eastern Telegraph Co. (E.T.) na Ponta Vermelha (PV) de Lourenço Marques (LM), actual Maputo. 
Neste artigo explanarei hipóteses HoM pois penso que nalgumas das fotos tiradas no decurso dos trabalhos do aterro da enseada da Maxaquene aparecem elementos relacionados com os cabos submarinos que tinham estado até altura na enseada. 
Penso que esses cabos primeiro devem ter sido levantados do leito da enseada (podiam estar directamente enterrados ou dentro de tubos) dado que depois do aterro (que foi feito com altura de 1 a 8 metros dependendo da posição) seria no futuro muito difícil aceder-lhes em caso de avaria. Os cabos devem então ter sido colocados dentro dum novo tubo (um único para simplificar o trabalho) sobre pilares com altura tal que quando se completasse o aterro o tubo ficasse enterrado à profundidade normal. Esta altura para proteger os cabos e ao mesmo tempo não ser muito difícil aceder-lhes seria de cerca de um metro. Penso que é esse tubo ainda visível à espera que se complete o aterro em volta dele que aparece neste artigo nas suas FOTOS 2 e 3. E mostro esse tubo na foto adicional seguinte: 


FOTO 2
Amarelo: teria sido o ponto de amarração do cabo submarino na praia
Preto: tubo que suponho ter tido o cabo submarino no interior.
Estava à vista enquanto se continuava o aterro da antiga enseada 
Rosa: início da subida pela barreira do cabo terrestre para a estação telegráfica 
Carmesim: muro de suporte do aterro da Maxaquene, 
face ao estuário do seu lado sul e face ao aterro do seu lado norte
Temos mais duas fotos que vêm do ARPAC (no facebook- Instituto de Investigação Sócio Cultural e que pertencem à pasta “Maputo Cidade XI, Monumentos e Locais Históricos”. Já as tinhamos visto separadas neste e neste artigo, juntámo-las agora para cobrirmos o aterro de leste = esquerda a oeste = direita e observar o pormenor do mesmo tubo:

MONTAGEM 1 (clique para aumentar)
Aterro da enseada da Maxaquene visto da barreira para sul
com o muro de suporte desta ao fundo antes do estuário
Na MONTAGEM 1 vê-se mais claramente um tubo horizontal apoiado em pilares que ia da barreira até limite a sul do aterro. Como disse penso que contivesse os cabos submarinos e que estivesse por isso à espera que o aterro em sua volta se completasse. Isso tinha acontecido numa faixas já com aterro finalizado que ele cruzava e onde o tubo  e os pilares tinham "desaparecido". 

Quanto ao facto de haver três cabos submarinos enterrados (de acordo com um dos mapas) e aparecer nestas fotos só um tubo, a justificação pode ser a seguinte. Mesmo que um tubo único levasse a que os cabos se afastassem do traçado inicial, ao fazer-se este trabalho seria lógico concentrá-los num só tubo. Esse tubo deveria ficar ao centro da enseada e é aí que ele aparece na MONTAGEM 1, saíndo da parte mais interior da sua curva. Se esta hipótese se confirmasse, nas fundações das novas construções feitas nos últimos anos ao centro do antigo aterro talvez se tenha achado ou venha a achar partes deste tubo e no seu interior estarão ainda cabos telegráficos de L.M., o que a acontecer seria belo património para ser colocado num museu. 
Eis então um mapa onde desenhei esse possível tubo com os cabos transferidos para lá.


MAPA com a posição possível dos cabos depois do aterro (hipótese HoM)
Castanho escuro: topo da barreira da Maxaquene
Mancha castanha clara: aterro da Maxaquene feito entre 1915 e 1920
Carmesim: muro de suporte do aterro da Maxaquene a sul, face ao estuário
Amarelo: pontos de amarração dos cabos, um novo em baixo, o original em cima
Vermelho: estação telegráfica, seu terreno com o edifício ao centro
Preto: novo tubo onde novas secções de cabos foram colocadas na preparação do aterro. Iria da praia ao muro de suporte do aterro
Laranja acastanhado (à esquerda): novas secções dos 3 cabos ou o 
reaproveitamento das existentes, colocadas dentro do novo tubo
Laranja normal (à direita):  secções existentes dos 3 cabos que seguiam para a baía
Círculos laranja acastanhado: juntas submersas entre as secções 

mencionadas acima e as secções existentes mencionadas em cima 
Rosa: cabos terrestres subindo para a barreira e continuando para a estação
Laranja claro: caminho dos cabos terrestres entre a crista da barreira 
e o terreno da estação telegráfica 
Roxo: actual Av. Lumumba, antiga estrada da PV, etc.
Verde escuro: Av. 24 de Julho, antiga Francisco Costa
Verde claro: Rua do Telégrafo, actual Av. Nduda
Azul escuro: actual Av. Allende, antiga Princesa Patrícia
Círculo azul claro: Hotel Cardoso
Para os eventuais novos cabos "laranja acastanhado" faço duas cores ligeiramente diferentes porque eles podiam ter duas partes. A que ficava dentro dos tubos podia ser um cabo terrestre e só depois de passar o muro de suporte para o estuário tinha de ser cabo submarino. Mas podiam ter optado por fazer tudo em cabo submarino (que tem maior protecção e por isso mais volume do que o terrestre) porque a opção pelos dois cabos exigia que se fizesse uma segunda junta na cercania do muro de suporte, o que é sempre um ponto onde há perdas e vulnerável a avarias.. 
Questão equivalente à do estuário se punha no troço da base da barreira à estação - continuarm a ser usados os cabos antigos ou passaram-se cabos novos nesse último troço? 
Para se fazer as juntas das secções novas dos cabos aos cabos existentes no estuário  que indico no desenho, tinha de se levantar essas duas partes da água, fazer-se a junta (fechada depois em invólucro impermeável) no navio de apoio e lançar depois os cabos agora unidos para a água. Neste caso até se podia levantar só o cabo existente do leito do estuário e fazer a junta dele com o novo cabo e só depois lançar este para a água onde seguiria até ao muro de suporte do aterro, pelo menos. 
É possivel que nalgum arquivo existam relatórios detalhados sobre estes trabalhos do tubo, da colocação e tipo de novos cabos e das juntas que terão sido feitos para o aterro em LM. Como desconheço essa informação aqui tento simplesmente avaliar o que pode ter sido feito, com uma parte de conhecimento e como outra boa parte de imaginação. Seria interessante poder-se encontrar esses relatórios e comparar com estas hipóteses HoM.
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Ponho ainda a hipótese da instalação que se via no aterro ser uma de outras duas coisas:
a. sistema de drenagem da água da enseada: a água seria primeiro aspirada pelos pilares (que seriam também tubos mas verticais) e depois conduzida pelos horizontais para atravessar o muro de suporte e saír para o estuário. Não sei se tal ideia seria mecânica e eléctricamente factível/realizável na época, segunda metade dos anos dez do século passado;
b. conduta para levar água duma fonte na barreira para o estuário. Alfredo Pereira de Lima e Lisandra Mendonça disseram que havia uma fonte natural algures na barreira da Maxaquene e onde históricamente os navios à vela vinham fazer aguada (abastecer-se de água potável para as viagens, mas só as chatas chegariam lá). Se essa água ainda aí corresse não poderia ir encharcar o aterro estragando a drenagem em curso mas no mapa de 1903 estavam por aí marcadas instalações da companhia das águas que suponho aproveitasse a fonte para o sistema de abastecimento público (ver aí mapa mais completo do sistema). Por isso não acho que em 1915-1918 fosse necessário levar água doce da barreira para o estuário, seria até um contrasenso numa cidade que já na altura ia buscar água para consumo ao rio Umbelúzi. 
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Recordo as duas recentes teses académicas que cobrem o tema do aterro da enseada e que foram por isso por mim largamente consultadas para os artigos relacionados:
Teodoro Cândido Vales
Título da tese: De Lourenço Marques a Maputo : genèse et formation d'une ville.
Architecture, aménagement de l'espace. Université de Grenoble, 2014. Français. <NNT :
2014GRENH012>. <tel-01155128>
HAL Id: tel-01155128
https://tel.archives-ouvertes.fr/tel-01155128
Título da tese: Conservação da Arquitetura e do Ambiente Urbano Modernos: A Baixa de Maputo
Orientadores: Professores Doutores Arquitetos Walter Rossa e Giovanni Carbonara
Coorientador: Professor Doutor Arquiteto Júlio Carrilho
Ramos de conhecimento: Arquitetura e Urbanismo/Restauro da Arquitetura

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