Estação telegráfica e cabos submarinos em LM - edifício da E.T. e a estrada da Ponta Vermelha (2/13)

Prosseguimos com o tema da estação telegráfica ou de cabo submarino de Lourenço Marques (LM), actual Maputo da companhia inglesa Eastern Telegraph (ET) e situada entre a Ponta Vermelha (PV) e a Polana. 
Primeiro uma foto do site Memory of the Netherlands sem data atribuída na origem. Como vimos antes o edifício foi inaugurado em 1879 e os mapas indicam genéricamente que esteve onde agora é o recinto da actual Escola Secundária Josina, antigo Liceu Salazar. 

FOTO 1
Frente do edifício principal da estação telegráfica, acessível por um arruamento largo 
em forma de "L" rodeando a poente um grande jardim (aqui ainda em formação)
Segue-se uma foto de FOWLER do álbum da companhia de caminhos de ferro de McMurdo publicado em 1887 para a inauguração da linha para Ressano Garcia. Esta foto em que o edifício principal da ET teria já alguns anos de existência dá uma visão do local mais abrangente do que a FOTO 1.

FOTO 2
Como a FOTO 1 mas mais recuada, aparecendo a vedação do terreno, em 1886/87
Agora uma foto claramente posterior às duas anteriores como se pode comprovar pelo desenvolvimento do jardim.


FOTO 3
Um pouco mais adiantada que a FOTO 2, aparecendo a estrada
e vedação do terreno â mesma distância do mastro
Em frente ao jardim, como se vê nas FOTOS 2 e 3 pela vedação, passava a Estrada da Ponta Vermelha que seguia conforme o local mais ou menos afastada da crista da barreira. Esta era essa estrada vista aqui a uns 500 metros para poente da estação telegráfica (há mais imagens antigas da estrada da PV neste artigo).

FOTO 4
Roxo: estrada da Ponta Vermelha, que ficava para a direita após subida
A FOTO 4 é dita ser de cerca de 1900 e como se vê a estrada da PV era ainda um caminho rural. Se pensarmos que a FOTO 2 é cerca de treze anos anterior à FOTO 4, está explicado porque na FOTO 2 a estrada da PV - para cá da vedação do jardim da ET - era não tinha o aspecto duma rua moderna. Parece-me que 
em primeiro plano se vê uma lomba de terreno (mais elevada) e que é mais ou menos paralela à vedação que também fica num plano mais elevado. Penso então que é essa primeira lomba de terreno que esconde a estrada da PV que passaria então ao fundo entre os dois planos inclinados, o que desce da lomba e o que sobe para a vedação. 
Se não for isso, outra possibilidade seria que a estrada da PV estaria para baixo do que foi fotografado na FOTO 2, quer dizer que o fotógrafo estava no alto duma lomba e logo a seguir, para norte passava a estrada ao fundo dessa lomba. Nos dois casos a estrada da PV estaria a um nível inferior ao do terreno da estação. 
Na FOTO 3 a estrada parece estar a um nível mais elevado do que estaria na FOTO 2 mas é normal que essa faixa de terreno (ainda bastante larga pelo menos neste local) entre a vedação da estação e o topo da barreira, tenha com os tempos sido aterrada e uniformizada, transformando a estrada da PV inicial na Avenida da Raínha, depois Miguel Bombarda, depois Brito Camacho e que é agora a Av. Lumumba. 
O mapa seguinte que é um dos mais antigos e detalhados dos disponíveis mostra bem essa situação. A ele adicionei o traçado do cabo terrestre que penso se integra bem com o resto da informação:


Mapa de 1903 (Salm)
Castanho escuro: curvas de nível na barreira da Maxaquene
Vermelho: edifício principal da estação telegráfica  
Branco: vedação no limite a "sul" do jardim em frente à estação
Roxo: antiga Estrada da PV, actual Av. Lumumba
Verde escuro: Av. 24 de Julho, antiga Francisco Costa
Verde claro: Rua do Telégrafo, actual Av. Nduda
Círculo azul claro: Hotel Cardoso
Laranja claro: presumo que caminho do cabo terrestre
Rosa: cabo terrestre entre o ponto de amarração e a estação telegráfica
Noto que o edifício principal da estação da ET tinha forma rectangular com a frente bastante mais larga do que a profundidade e é isso que se vê no mapa. Parece lógico que a sua orientação tivesse sido escolhida de forma tal a que o eixo perpendicular à sua fachada principal apontasse na direcção de onde chegava o cabo submarino e como penso que era importante para onde ficava o porto. Em consequência dessa escolha essa fachada faria um ângulo de cerca de 40 graus com a direcção da barreira, da qual ficava mais próximo o lado esquerdo do edifício. Da frente do edifício à barreira a distância mais curta seria de uns 125 metros e na mesma direcção o jardim à frente do edifício devia ter uns 50 metros de comprimento.
Presumo que o caminho dos traços laranja claro (que também aparece no mapa de 1904) estivesse relacionado com o cabo, embora pudesse também estar com as instalações da rede de água existentes nessa zona, tanto em cima como em baixo da barreira, já nessa altura. 

Melhor justificação da conclusão de cima sobre a Estrada da PV, actual Av. Lumumba, passando na FOTO 2 frente ao jardim da ET
1. Em termos de calendário a FOTO 1 é um pouco anterior à FOTO 2 pois vê-se que as árvores que rodeiam o caminho na FOTO 2 estão mais crescidas. A FOTO 1 terá de ter sido tirada no intervalo entre 1879 (data da inauguração do edifício) e 1886/87 (data das fotos de Fowler em LM e PV que era uma vila separada).
2. O comprimento do jardim frente ao edifício parecia variar de foto para foto nas que conhecemos, por exemplo nestas parece maior na FOTO 1 do que na FOTO 2. Mas nas duas vê-se nas proximidades um caminho na diagonal do arruamento lateral para o mastro ao centro do jardim e daí pode imaginar-se que a FOTO 1 tenha sido tirada logo a seguir ao portão que se vê na FOTO 2. 
Isso quer dizer que o comprimento do jardim (medido desde o edifício até ao seu limite a sul perto da barreira) nestas duas fotos será o mesmo e penso que se pode generalizar esta conclusão para as outras fotos. 
3. Segundo texto penso de Alfredo Pereira de Lima (ver aqui) os primeiros edifícios na PV sem relação com a ET foram erguidos por volta de 1883/84 pela companhia de caminho de ferro de Mc Murdo preparando-se para a construção da linha para Ressano Garcia. A estrada da PV deve ter existido então pelo menos desde 1883/84 e por isso quando Fowler tirou a FOTO 2 em 1886/87 seria de esperar que ela estivesse a passar para cá da vedação da FOTO 2. Quanto ao que esperar que ela fosse ao tempo da FOTO 2, em 1895 António Enes descreveu uma viagem noturna a cavalo da Baixa até a PV e daí deduzo que mesmo dez anos depois da FOTO 2 ter sido tirada a dita Estrada era ainda um caminho pelo mato e é isso que temos de ter em mente ao olhar para a FOTO 2. 

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