Rede de telefones em Lourenço Marques, actual Maputo nos anos 30

A Delagoa Bay Development Company (DBDC) foi pelo menos até 1911 a concessionária dos telefones em Lourenço Marques (LM), actual Maputo mas a rede era muito limitada pois havia 166 assinantes em Julho desse ano e parecia não estar em crescimento pois tinha tido 161 assinantes no ano anterior. 
Provávelmente essa concessão da DBDC terminou pouco depois (ver em baixo, ou no fim do prazo ou por acordo com o Estado) e uns 20 anos depois, em 1934, revista O Ilustrado do Jornal Notícias publicou uma curta reportagem sobre a rede de telefones em LM donde reproduzo as primeiras destas fotos. Este é sumário dos seus dados mais técnicos, complementando o artigo anterior no HoM (mas não sei ainda encadear estas informações). A central telefónica manual estava instalada no edifício da Direcção Geral dos Serviços de Correios e Telégrafos na Av. da República da Baixa de LM (HoM: o dos Correios actual). A maioria dos funcionários era telefonista, de dia trabalhavam as do sexo feminino e de noite os do mascullino. A rede entrou ao serviço em 1914 (HoM: o que é mais tarde do que tinha aparecido nos textos anteriores mas antes devia ser de telégrafo, isto deve querer dizer que a DBDC saiu de cena por esse ano) e em 1934 havia 880 assinantes. A rede cobria os distritos de LM e de Inhambane e podiam-se também fazer chamadas internacionais para a África do Sul (desde 1931), para a Rodésia e para os países europeus via Londres. A média de chamadas diária com todo o tráfego incluído era de 2 000 (HoM: suponho que fosse o número de chamadas de saída).

Vista completa das posições das telefonistas como tinhamos visto aqui em 1929
Meninas telefonistas com os seus cabos e cavilhas
 Bastidor de contadores electromecânicos na central telefónica de LM
Reutilizando parte de texto anterior no HoM, o senhor Valdemir Zamparoni na sua tese fala dos telefones na cidade de LM para dizer principalmente o seguinte em parte de acordo e em parte em desacordo com a revista "O Ilustrado": "Outros ícones da modernidade, que os contemporâneos faziam questão de destacar, eram a rede telefônica e a estação telegráfica .... Em 1931 Lourenço Marques já contava com 980 números telefónicos (HoM: mais do que os 880 que a revista dizia para 1934?) e, o mais importante, sua rede passou, em dezembro daquele mesmo ano, a estar integrada com a África do Sul, o que expressa o dinamismo dos negócios que os uniam."
Zamparoni fala também das telecomunicações intercontinentais e sobre isso falámos aqui dizendo que durante alguns anos a CPRM esteve em concorrência com o cabo submarino da E.T.: "A estação telegráfica, instalada em 1927 pela empresa Rádio Marconi, empregava o sistema de ondas curtas dirigidas, considerado então o mais moderno e eficiente, pois praticamente assegurava a confidencialidade das comunicações e, segundo um contemporâneo, o governo português poderia vangloriar-se de possuir a única estação deste tipo que ligava o continente africano à Europa." 

Saltando para 1937, podemos ver um dos postes da rede exterior de LM. Suportava pares de linhas para cada uma das residências ou firmas ligadas à rede. 
Poste em LM em 1937 muitíssimo carregado
Este poste estava sobrecarregado de linhas de telefone e de telégrafo e tinha na parte inferior um ponto de distribuição (caixa de 20 pares?). Não tenho ideia de ver estas "salgalhadas aéreas" em LM pelo que deduzo que entre 1937 e o final dos anos 50 a rede deve ter passado a subterrânea, um progresso que dava um ar bastante "civilizado" a qualquer cidade.

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