Jardim botânico, actual Tunduru: foto de Lazarus e tentativa de localização (33/)

FOTO 0
Vista do jardim Vasco da Gama para o prédio Lusitana (African Life de 1950) ao fundo
A foto de cima é de cerca de 1954 e mostra a faixa a sul do jardim botânico de Maputo, actual Tunduru, antigo Vasco da Gama em vista para oeste, digamos a partir de metade da sua largura que acaba antes da actual Av. Samora onde estão as palmeiras mais distantes.
Precisava de ter noção mais precisa do declive precisamente desta faixa do jardim, e assumindo ela que não tem sido muito modificada, para tentar localizar a foto dos Lazarus do "cocoa nut palms" mencionada aqui de que ao princípio se desconhecia totalmente a localização mas suspeito que tenha sido daqui. Ela é a FOTO 2 mostrada em baixo e sabemos ser anterior a 1904. 
As primeiras imagens dessa zona em 1886/87 mostravam o jardim a ser feito parte na encosta e parte no terreno abaixo dela, que seria ou no antigo pântano ou na sua borda. Como vimos na FOTO 0 e na FOTO 1 seguinte o jardim mantém essa faixa mais baixa que desce da base da encosta até ao passeio a norte da Av. Manganhela, antiga Álvares Cabral e que suponho não tenha sido necessário aterrar. Os mapas normalmente têm curvas de nível mas para ter mais precisão usei o Google Earth e observei o seguinte:

FOTO 1
Mancha verde clara: faixa quase horizontal (de norte para sul) e plana (de oeste a leste)
Linha vermelha: linha aproximada a norte da mancha verde
onde a encosta começa a subir mais acentuadamente
Laranja: Av. Manganhela, antiga Álvares Cabral a sul do jardim
Roxo: muro do jardim no seu limite sul
Linha azul claro: Av. Samora, antiga D. Luis a oeste do jardim
Rosa: Av. Lenine, antiga Augusto de Castilho/Elias Garcia a leste do jardim
Mancha azul: lago actual
Como está marcado, a faixa a sul do jardim tem no máximo 2 metros de declive à largura, a qual varia entre cerca de 35 metros a leste e 55 metros a oeste, e por isso o declive não é muito notório à vista. Esta noção bem como o conhecimento dos artigos anteriores (por exemplo) será importante para localizar a FOTO 2 em que se vê em primeiro plano um terreno em ligeira subida para a direita e mais para cima o declive aumenta, o que corresponde aos declives registados na FOTO 1. Para mais na FOTO 2 em primeiro plano estão canteiros que correspondiam aos da parte baixa do jardim e acima aparecem árvores e palmeiras que correspondiam ao que se via em fotos antigas da sua zona mais alta, ver FOTO 4 por exemplo em baixo. Estas correspondências são então a primeira pista para localizar a FOTO 2 como sendo na parte baixa do jardim, ou pelo menos na parte baixa da encosta em torno do jardim. Quanto a isso sabemos que para leste do jardim (seria para a direita da FOTO 2) a zona sempre foi despida de árvores, a partir daí as hipóteses seriam ou a FOTO 2 ser do jardim ou ser para oeste dele para onde a faixa arborizada do início da encosta se prolongava (cerca de 1900 e ao fundo da FOTO 1 deste artigo ela aparecia acima do cruzamento da Av. Manganhela com a actual Marx). Mas como veremos com mais precisão em baixo não me parece que a FOTO 2 seja muito afastada do local do jardim.

FOTO 2
Mancha verde: canteiros e a hipótese é de que a sua zona corresponda
 à faixa sul do jardim actual
Linha vermelha: onde o declive começa a subir mais acentuadamente
 e que nunca pode ter sido pântano
Para dar uma perspectiva mais geral veremos fotos tiradas da barreira da Maxaquene para a Baixa da cidade a poente aparecendo a parte mais baixa do jardim à direita. A FOTO 3 à esquerda de 1895 é parte da já conhecida do Arquivo Histórico de Moçambique (Colecção Iconográfica da Câmara Municipal de Lourenço Marques - Icon 7). Mostra o fim da encosta com um grupo de árvores e palmeiras e a faixa quase plana a sul do jardim e penso por isso que corresponde ao que se vê na FOTO 2 à direita mas doutro ângulo. A FOTO 3 â direita é do Rijkmuseum e é semelhante.
Pode parecer difícil associar-se as FOTOS 3 à FOTO 2 dado esta aparentar ser numa zona rural, mas se atentarmos na distância vertical ao solo podemos intuir que a FOTO 2 foi tirada de cima dum edifício próximo dos canteiros. Ora as FOTOS 3 mostram armazéns nas traseiras das Obras Públicas (OP) que devem ter sido construídos cerca de 1890, que por isso existiam ao tempo da FOTO 2 e parecem compatíveis com a forma como ela foi tirada. 

FOTOS 3 (de 1895 e da mesma época)
Castanho: uma das janelas do armazém das traseiras das OP
 donde a FOTO 2 pode ter sido tirada
Mancha verde: possivel zona dos canteiros da FOTO 2 alguns anos depois 
mas é possível que fossem mais para a direita = norte estando escondidos deste ângulo
Laranja claro: aprox. onde foi depois aberta a actual Av. Manganhela
Rosa: onde foi depois aberta a Av. Castilho, actual Lenine
e que é o limite a nascente = leste do jardim
Azul claro: Av. D. Luis/Aguiar, actual Samora, limite a poente = oeste do jardim
Nas FOTO 3 onde está a mancha verde de facto não consigo ver canteiros mas eles podem ter sido aí criados depois de 1895 ou eles podiam estar mais afastados do edifício das OP e escondidos pelas árvores para a direita. É também possível que em vez de estarem entre as traseiras da OP e as árvores estivessem um pouco mais para o fundo da FOTO 3, isto é mais próximo da Av. D. Luis/Aguiar, do meio para a esquina actual do jardim a sudoeste. 
A FOTO 4 seguinte tal como as FOTOS 3 dá vista da Maxaquene para a Baixa a poente. Deve ser mais recente que ela pois na zona entre a encosta e a parte baixa da cidade o jardim aparece já bem arborizado, em vez da predominância de palmeiras das FOTOS 3 e também da FOTO 2.

FOTO 4
Laranja claro: terreno terraplanado 
Mancha verde: onde teriam estado os canteiros da FOTO 2
Rosa: Av. Castilho, actual Lenine no limite a nascente = leste do jardim
O terreno terraplanado na FOTO 4 indicaria que a actual Av. Manganhela devia estar já pelo menos traçada junto aos armazéns, imediatamente a norte deles. Das plantas mostradas nos artigos anteriores ficámos a saber que o jardim nunca passou abaixo do terreno que veio a ser ocupado pela actual Av. Manganhela pelo que o que se vê na FOTO 2 seria sempre da marca laranja para a direita nas FOTOS 3 e 4. 
A partir desta localização geral da FOTO 2 tentemos uma mais precisa pois reparando bem nela aparece a Casa de Ferro (CdF) na sua instalação inicial que por exemplo detalhei aqui e é na foto identificável pelos telhados mais claros e que se vêm ao comprido. Neste artigo a CdF aparecia vista ao longe a partir da traseira do cinema Gil Vicente e o que aí se via está no quadro inserido em medalhão mais junto ao canto inferior esquerdo na FOTO 1. Fácilmente se conclui que se está a ver na FOTO 5 - pormenor da FOTO 2 a CdF duma posição muito semelhante à que se via do Gil Vicente pois aparecem em ambas dois telhados paralelos em duas águas estando o mais perto do lado de cá com a esquina cortada.  

FOTO 5 - pormenor da FOTO 2 (clique para aumentar)
Amarelo: pontos mais marcantes do telhado da CdF
do seu lado virado para a esquerda = para o estuário vista do cinema
quadros azuis escuro: Casa de Ferro (CdF) vista dos canteiros de jardim
quadro rosa (mais em baixo)CdF vista da traseira do cinema Gil Vicente

Mancha verde: canteiros e a hipótese é de que a sua zona corresponda
 à faixa sul do jardim actual
Linha vermelha: posição acima da qual o declive se acentua 
e aparecem as primeiras árvores e as palmeiras na encosta
Com mais atenção pode-se observar que vista dos canteiros das FOTOS 2 ou 5, a face da CdF virada para a esquerda = para o estuário aparece um pouco mais de frente (ou seja menos de perfil) do que vista a partir do cinema Gil Vicente (no quadro rosa). 
Marcaremos então nas plantas seguintes a linha que vai do Gil Vicente à CdF (linha preta) e a que viria da CdF para os canteiros da FOTO 1 (linha cinzenta) que seria um pouco mais para a esquerda = baixo = sul do que a primeira. Sabendo-se onde existe a transição entre terreno plano e encosta na baixa de LM que é ao longo da actual Av. Manganhela, com essas linhas e posições ficamos mais aproximadamente a conhecer a localização dos canteiros das FOTOS 2 ou 5 na cidade.

Mapas de 1903 a 1926
Azul: Casa de Ferro (CdF) na Av. 5 de Outubro, actual Josina
Linha preta: linha de vista do Gil Vicente na Av. Aguiar, actual Samora para a CdF
Linha cinzenta: linha de vista para se ver um pouco mais da face à esquerda
 da CdF tal como se via nas FOTOS 2 ou 5
Círculo vermelho: pagode chinês
Castanho escuro: limites relevantes para esta localização do quarteirão do jardim
Linha laranja: margem norte da Av. Álvares Cabral, actual Manganhela
Mancha verde clara: por onde onde a linha cinzenta intersecta a linha laranja,
constatando-se ser na faixa a sul do jardim
Linha vermelha: posição acima da qual o declive se acentua
e aparecem as primeiras árvores e as palmeiras na encosta
O ângulo entre as linhas cinzenta e preta não é exacto mas um pouco mais para a esquerda ou para a direita devo ter localizado os canteiros das FOTOS 2 ou 5. Como podemos ver era próximo do que tinha estimado inicialmente por foi por aí que no quarteirão a sul do do jardim existiram os armazéns das OP referidos nas FOTOS 3 e donde penso foi tirada a FOTO 2 dos Lazarus.
Os canteiros da FOTO 2 estariam assim entre a actual Av. Manganhela e o início da encosta onde estavam os coqueiros, as árvores e alguma mata. Ao fundo da FOTO 2 vê-se também umas casas que provávelmente estariam fora do jardim. Mas ficam-me certas dúvidas porque existiram por aí um ou mais lagos que não são visíveis na FOTO 2 (podiam estar afastados para os lados ou para a direita) o que pode pôr em causa esta localização. Mas também não vejo muitas alternativas para ela na cidade, tendo em conta os declives de terreno e a posição dos canteiros e das árvores e da Casa de Ferro. Outra questão é se o local fosse o jardim porque teriam decidido os Lazarus destacar na legenda da foto os coqueiros em vez do jardim mas isso ...

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