Continua a adaptação do texto de António Rosado do seu livro "Uma Obra" publicado em 1958. Depois do átrio, neste artigo vamos ver a sala de espectáculo do novo Teatro Gil Vicente (TGV) e seus pormenores técnicos. Sigo ainda o texto do programa da inauguração preparado em 1933 pela empresa de Manuel Rodrigues que no original tinha muitos adjectivos que aqui cortei.
«A instalação eléctrica da sala de espectáculo (HoM: refere-se aqui à sua iluminação) feita pelo moderno processo de difusão, em atraentes painéis, concorre para o seu embelezamento bem como as decorações em que predominam o azul e ouro. A boca do proscénio com as suas colunas e as duas cortinas trabalhadas eléctricamente, a primeira a seda azul com traços a ouro, a segunda a seda dourada com traças a azul, concorrem também para o conjunto de gosto."
«A instalação eléctrica da sala de espectáculo (HoM: refere-se aqui à sua iluminação) feita pelo moderno processo de difusão, em atraentes painéis, concorre para o seu embelezamento bem como as decorações em que predominam o azul e ouro. A boca do proscénio com as suas colunas e as duas cortinas trabalhadas eléctricamente, a primeira a seda azul com traços a ouro, a segunda a seda dourada com traças a azul, concorrem também para o conjunto de gosto."
No mesmo programa da inauguração fazia-se alusão à acústica do teatro, conseguida com "a configuração especial das paredes e do tecto por tratamento adequado com materiais próprios. Pelas paredes encontravam-se espalhados 10 000 discos, semelhantes a um diafragma telefónico que eram cobertos por um reboco poroso e que as ondas de som, infiltrando-se por ele, faziam-nos vibrar, aumentando o poder ressonante da sala e distribuindo o som uniformemente". E explicava-se a seguir que "este moderno processo tem a enorme vantagem de reduzir ao mínimo os ruidos estranhos que, com frequência, costumam ouvir-se nos espectáculos de cinema sonoro".
Conforme se pode ver aqui o primeiro filme com som gravado é de 1926 mas só em 1929/30 essas produções se começaram a generalizar. Em Março de 1931 equipamento para cinema sonoro foi instalado no primeiro TGV mas no projecto do novo TGV que se iniciou pouco depois pode-se preparar o próprio edifício para essa técnologia. O facto dela ser tão recente explicará a forma pormenorizada como o tema foi tratado na reportagem do jornal Notícias durante a construção (ver no primeiro artigo) e no programa da inauguração do novo TGV que vimos em cima.
Conforme se pode ver aqui o primeiro filme com som gravado é de 1926 mas só em 1929/30 essas produções se começaram a generalizar. Em Março de 1931 equipamento para cinema sonoro foi instalado no primeiro TGV mas no projecto do novo TGV que se iniciou pouco depois pode-se preparar o próprio edifício para essa técnologia. O facto dela ser tão recente explicará a forma pormenorizada como o tema foi tratado na reportagem do jornal Notícias durante a construção (ver no primeiro artigo) e no programa da inauguração do novo TGV que vimos em cima.
Continuando com esse programa: «O palco do «Gil Vicente» está apto a receber as maiores companhias teatrais, quer pelas suas enormes dimensões - palco de 13 metros de fundo por 23 de largura e 16 de altura - quer pelo material eléctrico de que está apetrechado e que permite reproduzir as mais variadas cores e intensidades de luz».
Ilustrando os textos, primeiro fotos mais ou menos recentes:
Plateia, palco ao fundo e os últimos camarotes de lado (foto de Filipe Branquinho, ver referências em baixo) |
Nesta foto do interior do TGV de 2011 o interior era colorido em tons pérola ou de brilho acetinado e não sei se inicialmente teria sido assim ou não. Note-se que a decoração em vidro do tecto (os painéis referidos no programa por dentro do quais a luz era difundida) eram no mesmo estilo que os dois fachos luminosos largos colocados na vertical na fachada principal.
Agora três fotos do bloguista norte americano "Ramblin Randy" que visitou Maputo em 2018 tendo publicado um artigo em que falou do Teatro Gil Vicente e a que voltaremos para outros temas de arquitectura "retro". Os seus comentários são interessantes e como a sala estava escura as fotos foram iluminadas:
Vista do balcão e da parede donde se projectava os filmes |
Pelo que observo na foto de cima notam-se infiltrações de água na parede ao fundo o que seria a causa para que placas de cobertura das paredes se estivessem a descolar da parede. No tecto viam-se alguns dos painéis difusores de luz partidos e outra peças soltas.
Mais imagens da sala noutras direcções
Vista do balcão para o proscénio (palco) |
Foto tirada no limite inferior do balcão, a plateia à esquerda em baixo e uma das fiadas de camarotes ao fundo |
Passamos a fotos tiradas na plateia doutros dois autores:
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Cadeiras forjadas para "GV": Foto de Eric Lafforgue em 2006 |
Para se poder comparar com a situação recente de novo a foto da sala mostrada no primeiro artigo:
Plateia e os camarotes dos dois lados até 1958
Não sei quem estava representado nas estátuas que estavam junto ao palco mas no primeiro Teatro Gil Vicente tinham estado bustos desse dramaturgo e do poeta Luis de Camões. Comparando com a situação recente essas estátuas desapareceram e os quadros que as rodeavam foram alterados mas penso que essas modificações terão sido feitas antes de 1975 para se modernizar o interior do teatro. É surpreendente que o exterior ainda agora pareça moderno precisando só de reabilitação mas que o interior nesta foto parecesse tão datado, mesmo que a tentássemos vê-lo com os gostos do final dos anos 60 ou início dos 70s (acho até que se tivesse mantido assim agora já pareceria clássico e por isso estéticamente aceitável enquanto que nos anos 60/70 pareceria simplesmente antiquado).
Interessante (e com muitos adjectivos) este texto publicado na República de Moçambique nos 75 anos do novo = actual Teatro Gil Vicente (se fosse sobre o primeiro esse teria feito em 2008 uns 101 anos). |
Da Revista da LAM em 2008 |
Referências para a primeira foto: Filipe Branquinho, Cine theater Gil Vicente, Audience , 2011, Interior Landscapes, Impression jet d'encre sur papier Hahnemuhle Rag, Papier : 30 x 45 cm, Edition de 3 ex + 1 AP, Signé, titré et numéroté sur vignette, © Filipe Branquinho, Courtesy Galerie MAGNIN-A, Paris, N° Inv. FBR1507049A.
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