MR - Teatro Manuel Rodrigues de LM - CinemaScope e equipamento (VII)

A empresa Manuel Rodrigues procurou estar na vanguarda da técnica e o Teatro Manuel Rodrigues (TMR) de Lourenço Marques, depois Cine África de Maputo foi o primeiro no território português da altura a ter instalado o sistema de imagem e som CinemaScope e mais tarde o de 70 mm: 

FOTO 1
Cartaz no cinema em português de "A Túnica"
 e estreando o CinemaScópio em Moçambique 

FOTO 2
Outra vista com a A Túnica na estreia do CinemaScope no Teatro Manuel Rodrigues

Este artigo da wikipedia sobre CinemaScope explica essa técnica e as concorrentes com muito detalhe. O artigo confima que se trata de altas tecnologias para leigos e fico sem saber se as novas máquinas de projecção eram compatíveis com os filmes de estúdios que não a Fox que o lançou e a acho que o fundamental é perceber-se que se obtinha "widescreen" e som melhorado.
Este é o cartaz a cores do filme "A Túnica" da Fox:

IMAGEM 1
The Robe (A Túnica) de 1953 no imdb

Para além de estrear o CinemaScópio este filme esteve também na origem da época áurea do (sub)género a que os franceses chamaram "péplums" ou seja os dramas históricos de "espadas e sandálias".
Voltando um pouco atrás, adaptando de novo do livro "Uma Obra" de António Rosado o que se refere ao equipamento do TMR. Este texto cobrirá pelo menos o que estava planeado no projecto e foi executado em 1948 e o que se fez até 1953 com a instalação do CinemaScope:  
"Todo o teatro está ligado, internamente, a uma rede telefónica privativa, que assegurará a comunicação entre todas as secções. As cabinas e a central eléctrica própria (constituida por dois geradores «Diesel» G-M (HoM: General Motors?) de 75 e de 5 KWs (HoM: o mais pequeno devia ser para luz de emergência) estão completamente isoladas da sala de espectáculos por materiais (HoM: de isolamento) acústicos e antivibratórios. A aparelhagem de projecção de som é a última palavra da técnica cinematográfica. Os projectores são «Century», o som «Western Electric», as objectivas «Bauch and Lomb Super Cinephor» (HoM: um exemplo aqui mas para filmes de 35 mm/70 mm). O «écran» é «Westrex» e as lanternas são da marca «Ashcraft», de alta intensidade (HoM: aqui uma de 1950). O teatro é o único, em território português, que possui instalação de reforço de som, para espectáculos de palco, da marca «Western Electric Stereophonie». 
Esteve aqui à venda um antigo projector Century com som desenhado em cooperação com a Western Electric, mais ou menos a combinação do equipamento principal do TMR e que pelo aspecto (forte e feio) era capaz de ser do final dos anos 40:

FOTOS 3
Projector Century de 35 mm e a placa do reprodutor de som

Para o final dos anos sessenta o TMR foi adaptado para a projecção de filmes de 70 mm (faixa de 65 mm para imagem e de 5 mm para seis pistas de som) o que como as fitas normais eram de 35 mm permitia melhor qualidade da imagem ou écrans maiores e som de melhor qualidade (breve resumo da tecnologia dos 70 mm feito a partir desta página na wikipedia). 

Relativamente ao TMR e ao que terá sido feito depois do transcrito acima e escrito por António Rosado, da página de facebook arsilnet reproduzo com a devida vénia um comentário de Vitor Marques com excelente informação técnica incluindo a referente à adaptação da sala aos 70 mm. Comparando com o texto de António Rosado os equipamentos pareciam ter sido todos modificados mas nalguns casos podem ser diferenças de grafia. Vitor Marques: Um teatro espectacular. Tinha uma boca de palco reconstruído para adaptar a projecção de filmes de 70 mm. Para teatro tinha as condições necessárias para apresentar espectáculos com a dignidade própria. Tinha 6 Amplificadores Wastrex. Nos filmes de 70 mm existiam na película seis pistas sonoras magnéticas e cada amplificador alimentava uma pista... a fidelidade sonora era de uma qualidade ímpar. Duas máquinas de projectar 35/70 mm Cinemeccanica italianas. A luminosidade ref. à  projecção era a carvão (HoM: significa a "lâmpada" para o projector). O ar condicionado era espectacular. A construção do edifício foi projectada na planta com a preocupação de não permitir a dispersão do som. O hall de entrada era de um luxo requintado. Trabalhei na cabine de projecção tendo como Chefe de Cabine o saudoso Amaral um técnico muito competente com referência à parte de som além de ser um belíssimo electricista. ....
Esta foto penso que é de equipamento cinematográfico antigo do e no TMR :

FOTO 4
Sala técnica em foto de Filipe Branquinho, à direita com
 duas máquinas de projectar colocadas lado a lado

Como na FOTO 4 aparece no projector um módulo com a marca ZENITH X 3000 H fui ver a que corresponderia e descubro o seguinte:


FOTO 5
35 mm Cinemeccanica movie projector with a Zenith X4000H lamphouse (nationmaster)

Temos então na FOTO 5 uma lâmpada ZENITH (duma série superior e provávelmente mais moderna do que a da FOTO 4 do TMR) e acoplada a um projector Cinemeccanica, o que se confirma pela pequena placa à direita.  Por isso na FOTO 4 os módulos ZENITH X 3000 H poderiam estar também acoplados a máquinas Cinemeccanica, a marca que Vitor Marques dizia estava no TMR e é assim possível que na FOTO 4 estejam os projectores a que ele se refere. Se não forem esses dos 70 mm/35 mm podem ser os de versão anterior só com 35 mm, mas não devemos andar muito longe disso. A intenção destas fotos é de ficarmos com uma ideia do que se tratava nop texto de António Rosado e agora de Vitor Marques. 
Neste artigo na última foto via-se a parede donde eram projectados os filmes no TMR mas na FOTO 4 não me parece ver as aberturas que deveriam estar na parede à direita. Por isso não sei se na FOTO 3 será a sala de projecção ou uma outra onde se tenham arrumado estas máquinas.
No próximo artigo desta série falaremos da cena teatral e musical ligada ao Teatro Manuel Rodrigues e à sua empresa.

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