MR - Teatro Manuel Rodrigues de LM - actividade teatral e musical (IX)

Revista local "Ih! Patrão" em cartaz no Teatro Manuel Rodrigues (em 1954)
Esta foto (original à venda pelo site fotoi) mostra um aspecto interessante que é muito desenvolvido por António Rosado no seu livro "Uma Obra" e de que daremos um lamiré. Diz ele que o fundador da empresa Manuel Rodrigues procurou abrir espaço para que actividades artísticas se desenvolvessem em Lourenço Marques (LM), actual Maputo. Foi no entanto após o seu falecimento em 1944 e dispondo do Teatro Manuel Rodrigues (TMR) de óptimas condições que os seus filhos que assumiram as condução da empresa César e Manuel Rodrigues Jr. tentaram criar uma companhia de teatro privativa e permanente.  
Contrataram comediantes "metropolitanos" para a formar que actuaram durante cerca de oito meses levando à cena muitíssimas peças. No entanto essa tentativa correu mal financeira e artísticamente e pelo que me apercebo os irmãos mudaram de estratégia, quer dizer voltaram à que o pai tinha seguindo anteriormente. Passaram a convidar companhias já formadas a vir a Moçambique, incluindo portuguesas e brasileiras, para levarem à cena peças de teatro, operetas e revistas e nalguns casos pedindo-lhes que interpretassem trabalhos de autores e sabores locais.
E por feliz coincidência António Rosado menciona específicamente a peça que estava em cena no TMR na foto de cima (em dois actos e 22 quadros) pelo que podemos datá-la (informação que condiz também com o aspecto geral da zona). Foi então no início de 1954 que veio a Moçambique a companhia de Guiseppe Bastos (na qual reconheço os nomes de Henrique Santos e José Viana) que interpretou três peças teatrais imagino que do seu reportório normal e a revista à portuguesa (género nacional de teatro musical) "Ih! Patrão". Segundo António Rosado esta foi escrita pelos autores locais Vasco de Matos Sequeira e Reinaldo Ferreira com música de Artur Fonseca e teve a participação de membros da Associação Indo-Portuguesa (antigo Instituto Goano) e do Centro Associativo dos Negros (sede no Xipamanine). De notar que no anúncio da revista na foto de cima Artur Fonseca foi esquecido talvez por falta de espaço e que Vasco e Reinaldo aparecem com os apelidos (pseudónimos) Lisboa e Porto. 
Há no entanto muito mais a dizer sobre esses autores e sobre o que criaram. De Vasco de Matos Sequeira diz a wikipedia que escreveu inúmeras peças em Portugal europeu mas que depois se tornou funcionário público em Moçambique. Pelos nomes, as peças "Tatá" e "O Grande Batuque" devem ser da fase africana mas a "Ih! Patrão" referida por António Rosado não consta dessa lista. Também não constam outras duas de Vasco de Matos Sequeira que segundo António Rosado, que era jornalista local e muito interessado em teatro e por isso fonte fidedigna, foram levadas à cena em 1957 também no TMR por uma companhia brasileira. Essas duas chamavam-se "Fogo no Pandeiro" e "Batuca Baião" também em parceria com Reinaldo Ferreira na letra e com Artur Fonseca e nesse caso ainda António Lopes na música 
De Reinaldo Ferreira (filho) que era também funcionário público (deve ser essa a razão para os dois pseudónimos no anúncio) é um reconhecido poeta luso moçambicano na wikipedia diz-se que fez teatro de revista mas não lista os trabalhos. 
Artur Fonseca foi conhecido maestro do Rádio Clube e o artigo minimalista sobre ele na wikipedia não fala destas revistas pelo que alguém poderia adicionar-lhe as novas informações provenientes de "A Obra". O artigo fala no entanto e como não poderia deixar de ser das suas duas mais famosas criações, "Uma Casa Portuguesa" (na interpretação de Amália Rodrigues no youtube) precisamente com letra de Reinaldo Ferreira e Vasco Matos Sequeira e "Kanimambo" (interpretação original de João Maria Tudella no youtube, uma mais funky/jazzy no youtube e uma mais recente e alegre dos Irmãos Catita no youtube) essa só com letra de Reinaldo Ferreira (filho). 
Com estes dados sobrepondo-se questionei-me se algumas destas canções não terão feito parte das revistas representadas no TMR e promovidas pela empresa Manuel Rodrigues. Noto por exemplo que Tudella gravou uma canção Baião Baião de ritmo e temática brasileira, aqui no spotify, faria parte do da revista Batuca Baião?. Kanimambo pela maneira como é contada a sua criação parece que não esteve ligada a estas revistas, noto no entanto que no youtube do original se diz que foi gravado em 1955 com a orquestra do RCM mas na wikipedia está que Tudella disse foi cantada pela primeira vez em 1959. Uma Casa Portuguesa foi pela primeira vez cantada no TMR em Janeiro de 1952 num sarau. Com maior ou menor peso acho que pelo menos algumas destas canções luso-moçambicanas que ficaram internacionalmente famosas nos anos 50 devem ter estado ligadas ao principal de que tenho vindo aqui a tratar, os edifícios dos cine-teatros da família de Manuel Rodrigues e que neste caso pude complementar com informação sobre as pessoas por haver alguma informação histórica disponível.
Ver aqui tributo com 9 minutos de duração ao Maestro Artur Fonseca com interpretação de Kanimambo, Moçambique, uma canção que desconheço e Uma Casa Portuguesa, Os arranjos são de Álvaro Reis.
Sobre estas canções ver uma série de três artigos que se inicia aqui e termina aqui mais específicamente sobre Tudella.

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