Doca da Capitania de LM: redondezas nos anos 50 e 60 (8/8)

Para terminar a série sobre a doca da Capitania e suas redondezas, voltamos a ver o espaço da cidade conquistado ao estuário e que ficava a sul da Praça 7 de Março, actual 25 de Junho e da Fortaleza e que englobou depois a Praceta de António Enes, o extremo a leste = nascente do recinto do porto, ficando a doca no seu limite a sul. 
Esta FOTO 1 é inédita no HoM e o seu original pertence ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Portugal. Como foi tirada do prédio dos Organismos Económicos terá de ser de 1944 pelo menos.

FOTO 1
Vista para a praceta de António Enes, Doca da Capitania e estuário do Espírito Santo

O que há de mais interesse nessa foto:

FOTO 1 com marcas
Verde médio: monumento a António Enes ao centro da praceta de mesmo nome 
e onde está agora construído o museu da pesca
Mancha verde clara: aterro a sul da fortaleza feito entre 1918 e 1920
Preto: linha férrea, ver em baixo
Rosa: edifício do relógio
Laranja escuro: limite a norte da Doca da Capitania
Laranja claro: doca da Capitania ainda tinha reentrância 

onde estavam as escadas, que estavam tapadas nesta foto
Verdes escuros: par de farolins à entrada da doca
Castanho claro (à esquerda): parede do prédio dos organismos económicos
Carmesim: armazém com letra A do porto
Azul claro: draga do porto atracada dentro da doca
Liláses: navios fundeados pela proa no estuário 
quando a maré estava a encher, penso...

A FOTO 2 é semelhante à FOTO 1 mostrando a Praceta de António Enes em primeiro plano mas terá sido tirada da fachada virada a nascente do edifício dos Organismos Económicos e com a objectiva mais aberta. Permite assim ver-se à esquerda o Capitania Building que provávelmente estaria lá também na FOTO 1. Como este terá sido demolido por volta de 1955 (ou 1958?) a FOTO 2 será no máximo desse ano. 

FOTO 2
Capitania Building parece arruinado, sem cúpulas nos torreões, 
edifício do Relógio do PortoDoca da Capitania e estuário

Neste artigo tinhamos tentado ver por onde teria passado entre cerca de 1911 e 1922 a linha de caminho de ferro que ligava a estação na Praça Mac Mahon à praia da Polana passando pela Baixa. Tinhamos colocado hipóteses, a principal era que a linha vinha pelo recinto do porto até ao sul da Praceta de António Enes e depois segundo o que Alexandre Lobato dizia curvaria para a Rua de Nossa Senhora da Conceição, actual de Timor Leste. Mas não se tinha conseguindo confirmar essa hipótese nem encontrar outra.
Na FOTO 2 com atenção podemos ver uma linha férrea passando a sul da Praceta de António Enes e seguindo em direcção à nova Capitania do Porto. A secção dessa linha até à Praceta podia ser a mesma da antiga linha da Polana mas daí para leste não podia porque a faixa de terreno por ela ai atravessada só foi aterrada cerca de 1919/20, por isso muito depois da linha da Polana ter começado a funcionar. 
A secção da linha para leste da Praceta aparece também na foto seguinte do início dos anos 50 e a partir daí penso começa-se a esclarecer para que servia ou tinha servido:


FOTO 3 (clique na foto para aumentar)
Verde médio: monumento a António Enes na praceta
ao fundo da Praça 7 de Março, actual 25 de Junho
Castanho escuro: fortaleza antes da reconstrução
Mancha verde clara: aterro feito a sul da fortaleza feito entre 1918 e 1920
Azul: doca seca
Cruz creme: nova Capitania do porto de cerca de 1920
Tracejado preto: secção da linha férrea entre a praceta de António Enes e a doca seca
Amarelo: cancela por onde me parece passava a linha férrea
Tracejado branco: continuação dessa linha férrea 
em direcção à Capitania a partir da doca seca
Laranja escuro: limite a norte da Doca da Capitania
Castanho claro: prédio dos Organismos Económicos na primeira fase
Vermelho: posto de abastecimento da Shell

Vemos assim que a linha férrea ligava no início dos anos 50 o recinto do porto à zona da doca seca para onde podiam ter de ser transportadas cargas pesadas chegadas ao cais.. A linha parece ainda seguir daí para nordeste passando em frente à nova Capitania do Porto e podia ser para outras firmas metalo-mecânicas presentes na zona ou para o armazém da capitania também próximo. 
Do que existiu por aí no passado temos nos artigos sobre a doca seca a FOTO 1 de c. 1929 e a FOTO 3 de c. 1936. Estes mostravam claramente tal linha a vir da zona do cais e embora não fosse aí evidente que ela entrasse dentro do recinto da doca seca (penso no entanto que estaria colocada entre os carris onde se movimentava o guindaste da doca e a vedação desta) via-se que ela passava por fora da vedação da doca seguindo em direcção ou à Capitania ou por exemplo à oficina que tinha sido do Hugh Le May.
Abordando outro pormenor da zona, marcamos na FOTO 3 a vermelho um posto Shell que podemos ver mais próximo numa imagem diferente do mesmo local:


FOTO 4
Posto Shell próximo do canto a sudeste da fortaleza, 
nesta foto de depois da sua reconstrução

Provávelmente este posto de abastecimento era dedicado aos barcos de pesca ou recreativos que estavam atracados na doca da capitania sendo o combustível levado para lá em tambores.
Finalmente uma foto aérea já mostrada no HoM e tirada sobre o estuário com vista para norte = alta da cidade. Vê-se a aí traços largos o que existia na primeira metade dos anos 50 e que em parte era o mesmo das FOTOS 1 a 3 mas notavam-se algumas evoluções / mudanças na zona, nomeadamente na fortaleza pelo menos em relação à FOTO 3:

 FOTO 5
Azul escuro: armazém onde tinha sido a primeira doca e já existia na FOTO 2
Carmesim: mesmo armazém antigo da letra "A" das FOTOS 1 e 2
Castanho claro: edifício dos Organismos como na FOTO 3,
antes do acrescento com a pirâmide no topo
Castanho escuro: fortaleza reconstruída pós FOTO 3, não se via nas FOTOS 1 e 2
Laranja claro: reentrância na doca da capitania, ainda com a escadaria
Laranja escuro: limite norte da Doca da Capitania
Bolas verde e rosa: monumento de António Enes e edifício do relógio na mesma

Verdes escuros: par de farolins à entrada da doca da capitania como na FOTO 1

Concluimos assim esta série sobre a doca da Capitania e as construções nas suas redondezas desde os anos 10/20 até aos tempos actuais.

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