Edifícios rurais do sector da saúde nos anos 50 - Chibuto, Bela Vista e edificação da MCT (3/4)

Continuando o tema abordado no artigo anterior sobre edifícios rurais do sector da saúde em Moçambique refiro agora a dissertação de mestrado "Estado colonial português e medicinas ao sul do Save, Moçambique (1930-1975)" que se pode descarregar aqui e foi preparada pela estudante universitária brasileira "Morais, Carolina Maíra Gomes" em 2014. 
Óbviamente o tema aí tratado é vastíssimo e como tudo o que seja ligado à colonização é político e/ou ideológico e por isso a sua avaliação pode ser polémica. Na prática há a eterna questão do copo meio cheio ou meio vazio, de se saber os como, quando, para quê, para quem e os porquês do que foi feito, com que recursos e quais as alternativas e para julgarmos teriamos de definir um ponto de comparação nessa época. E como temos o benefício do muitíssimo tempo passado desde então, poder-se-á comparar a realidade actual no que se refere às "massas populares" rurais com o que poderia ter sido feito se ...
Uma leitura ligeira à dissertação de Carolina Morais foi o suficiente para ver que tem muita informação sobre os princípios, estrutura, pessoal, construções e equipamentos dos serviços de saúde da administração portuguesa em Moçambique e particularmente na zona sul do território. Trata também dum assunto interessante que é a medicina tradicional (curandeiros e feiticeiros) e como eram vistos e se relacionavam pela / com a medicina ocidental e estruturas sanitárias oficiais. O âmbito do HoM é muito mais restrito e aproveito para este artigo por exemplo a foto seguinte do anexo / página 157 originalmente dum Relatório dos Serviços de Saúde portugueses dos anos de 1928 e 1929: 1930, p.182. 

FOTO 1
Enfermaria regional para indígenas, Chibuto em 1928/29 - aspecto lateral
O Chibuto é uma localidade a norte de Lourenço Marques, actual Maputo e por isso deve ter sido considerado no plano português outro dos pontos onde devia ser instalada mais uma destas enfermarias da rede sanitária rural. A já referida equipa do CIAUD – Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica e do Instituto de Higiene e de Medicina Tropical da Universidade Nova, ambas de Lisboa mostraram outra imagem desta instalação na apresentação ao referido CONGRESSO INTERNACIONAL SABER TROPICAL EM MOÇAMBIQUE: HISTÓRIA, MEMÓRIA E CIÊNCIA realizado em 2012:


FOTO 2
Enfermaria do Chibuto em foto aérea e vista doutro ângulo relativamente à FOTO 1
Na FOTO 2 temos em primeiro plano o lado do recinto virado para uma avenida da vila vendo-se ao centro dessa frente o edifício principal, o qual na FOTO 1 esta à direita para o fundo. Para confirmar-se que é o mesmo local pode ver-se que a FOTO 1 foi tirada do topo do edifício de forma "cúbica" e de dois pisos que se vê por fora da cerca exterior ao centro esquerda da FOTO 2.
A enfermaria do Chibuto tinha o mesmo nível e pode-se confirmar estrutura física semelhante à da Bela Vista que recordo em baixo do artigo anterior através da maquete do IHMT do início dos anos 50 publicada na nota de investigação e da imagem Google Earth actual. Tinhamos nos dois casos os três edifícios maiores à entrada, um espaço central com rondáveis - que eram em muito maior número no caso do Chibuto - estando alguns separados em pequena zona murada colocada num canto para as doenças infecto-contagiosas e mais três edifícios auxiliares em volta e perto da cerca exterior.
Noto que se na FOTO 2 do Chibuto a entrada para o recinto a partir da avenida está na parte inferior da imagem, ela na MONTAGEM da Bela Vista é apresentada na parte superior.

MONTAGEM da Bela Vista
à esquerda: maquete de 1951 do IHMT da enfermaria regional da Bela Vista
à direita: situação actual dessas instalações em posição equivalente
Para a Bela Vista a maquete em termos de estrutura geral está conforme a situação recente salvo que a cerca ao lado do espaço para isolamento não foi colocada tão fundo como aí representado dando ideia que a maquete foi mais baseada no projecto do que na realidade. A utilisação dos edifícios que inseri na maquete foi a dada pelo IHMT para c. de 1950 e segundo o qual os três de serviços de apoio eram para cozinha, lavadouro e sanitários. 
Como vemos para este caso a maquete da Bela Vista é útil para seguir a evolução mas causou-me certa estranheza o destaque dado às maquetes pela referida equipa de Lisboa na publicação aqui e na apresentação ao congresso. Sendo claro que elas terão despoletado do interesse dos autores no assunto das construções feitas por Portugal em África no campo da saúde, na ordem das coisas as maquetes deviam ser consideradas um aspecto menoríssimo do todo envolvido. Mesmo as construções não seriam muito importantes as que como as que vemos nestes casos, o importante seria a cobertura e os cuidados que eram prestados. De facto e específicamente para o caso de Moçambique a situação foi "recomposta" pela nota de investigação em que os autores aprofundam muito mais a estratégia de cobertura e de pessoal para zonas rurais, neste caso individualisadas pela Instalação Sanitária do Maputo / Centro de Saúde da Bela Vista que vimos e pelas do Hospital do Zóbuè da Missão de Combate às Tripanossomíases (MCT), de Maternidade Tipo Gabinete de Urbanização Colonial, da Maternidade de Marracuene e do Hospital do Bilene de que o IHMT tem também maquetes antigas. Essa nota de investigaçâo pode ser então combinada com a dissertação de mestrado de Carolina Morais para o conhecimento dos serviços de saúde nesses tempos. Pessoalmente fico satisfeito que isso esteja a ser feito e espero que esses estudos factuais sobre a presença portuguesa em África sejam alargados e que a sua divulgação seja melhorada e facilitada.
Seguindo a bibliografia da publicação da referida equipa de Lisboa, os registos iconográficos do IHMT foram digitalizados pelo site memoria-africa.ua.pt onde se encontram várias caixas de fotos. A que tem mais edifícios, incluindo o da sede da Missão de Combate à Tripanossomíase que mostramos no primeiro artigo desta série é a caixa 1. Infelizmente essas fotos não têm legenda no site e assim há muitas que claramente são de África mas fica-se sem saber de qual dos territórios ultramarinos portugueses seriam. Por exemplo a seguinte é da MCT em zona rural e não se sabe se seria em Angola ou em Moçambique onde esse problema existia e era combatido. Segundo Carolina Morais em Moçambique a mosca tsé-tsé e a doença do sono era mais prevalescente no centro e norte do território. 

FOTO 3
Edifício modernista da MCT em zona rural, em que província do antigo Ultramar português? 
Significado de "PO": Posto de Observação / Operacional?

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