Estações de correios no site do Museu das Comunicações - na cidade do século XIX ao XXI

O Museu das Comunicações de Moçambique está localizado na Praça 16 de Junho em Maputo, antiga dos Pioneiros de Lourenço Marques (LM) e tem um site em fase de implantação onde colocou por exemplo imagens dos antigos edifícios dos Correios em Moçambique. Aqui mostrarei com a devida vénia uma pequena selecção do que desconhecia até agora na cidade. A maioria são imagens dum livro de M. Lourenço Mano com título "OS SERVIÇOS DOS CORREIOS E TELÉGRAFOS" publicado em 1941 (esteve aqui à venda?). No site memória de áfrica encontra-se num MDT de 1936 um ar tigo com parte do conteúdo do livro que terá certamente sido desenvolvido depois. Outras fotos do site do Museu vêm da Revista dos Correios de Moçambique do tempo português. Com esses e outros elementos posso mostrar o antes e o depois para algumas estaçõese para outras fornecer mais alguns dados com foco nas localizações. 
A primeira antiga estação dos Correios será a instalada no porto de LM. Tinhamos falado aqui dela num primeiro edifício mas podemos ver agora outro que foi construido em 1955 entre o primeiro e a plataforma do cais (ver no Google Maps ao centro):


FOTO 1
Edifício modernista dos Correios no porto de LM
Esses edifícios aparecem em duas fotos de anos recentes do Google, a primeira em vista para leste de Little B e tirada com a Baixa da cidade ao fundo:

FOTO 2
Vermelho: Correios no porto de 1955
Amarelo: primeiros Correios no porto
Roxo: alfândega dos anos 20
Verde: armazéns que substituiram os "especiais"
Castanho escuro: novo mastodonte ao centro da histórica Rua Araújo, 
actual Bagamoyo pelo que pode dizer-se que esta "foi-se"
A segunda foto é penso que de Azem Demirli e foi tirada para sudoeste e com o estuário ao fundo: 


FOTO 3

Vermelho: correios no porto de 1955 da FOTO 1
Amarelo: primeiros correios no porto
Roxo: alfândega dos anos 20
Verde: armazéns que substituiram os especiais
Rosa: prédio da direcção do porto e CFM
Preto: antiga central geradora do porto e CFM
O texto do citado artigo no MDT de M. Lourenço Mano relativo aos correios em LM na segunda metade do século XIX (19) diz com muitas adaptações o seguinte: +Em 1853 no Presidio de Lourenço Marques as funções do correio-assistente eram desempenhadas pelo Feitor do Presidio (visto não existir tesoureiro-almoxarife) e a calxa do correio estava do lado externo da porta do quarto que lhe servia de residéncia." 
Presumindo eu que a entrada nesse quarto fosse pelo pátio interior da Fortaleza, não se entende bem a relevância da foto seguinte para o livro e que mostra o exterior da muralha da Fortaleza do lado oeste = poente e da sua legenda em relação ao tema do Correio.

FOTO 4
Legenda original do livro de M. Lourenço Mano: 
Árvore na Fortaleza de NS da Conceição, vê-la aqui também
Esta árvore à primeira vista fez-me pensar nas que eram usadas como marco de correio entre navegantes de passagem em sítios isolados da costa, mas Lourenço Marques era habitado mais ou menos permanentemente há muito tempo e por isso esse sistema não era aí necessário. Para mais a povoação não ficava directamente nas principais rotas de navegação no Índico, por isso se houve ponto de troca de correspondência na sua costa deveria ser noutro ponto. De qualquer modo o citado artigo no MDT de M. Lourenço Mano não fala desse método primitivo de correio nem em geral nem em relação a esta árvore, pelo fica um ponto de interrogação sobre o destaque que le é dado na legenda da FOTO 4.
Prosseguindo com a informação do livro, "em 1878 o Correio continuava anexo à Alfândega" (mas ao ser referido para 1853 a ausência dum tesoureiro-almoxarife eu esperaria que estivesse anexo à Fazenda embora as duas autoridades pudessem estar combinadas) "tendo em 1881 sido criada uma Direcção dos Correios separada. De acordo com um relatório de Março de 1882, cinco anos após a chegada da expedição das Obras Públicas, a situação em LM era que a Secretaria do Governo, a Repartição da Fazenda, a Câmara, o Tribunal, a Escola e o Correio continuavam  a «funcionar em casas nada em harmonia com o decoro do serviço publico»", o que dá a entender que eram usadas várias casas. "Mas em Abril de 1882 todas as repartições iriam passar para um único edificio" e pelo que percebo do artigo no MDT, como resultado da saída de algumas delas da Fortaleza poderia ser aí "criado um compartimento separado para a Repartição do Correio". 
O novo edifício referido no artigo devia ser o da Alfândega antiga que tinha começado a ser construido em 1877 e que depois de algumas interrupções deve ter ficado pronto em 1882. Sabe-se que anos mais tarde, em 1890, esse edifício incluía a Alfândega, a Secretaria do Governo e a Tesouraria Distrital mas pelo que leio no artigo do MDT e noutros textos - que também não são muito claros - dá-me ideia que mesmo nessa altura continuou a haver dispersão dos serviços públicos mas só entre esse novo edifício e o da Casa Amarela que lhe ficava próximo. Relativamente aos Correios fico sem saber se a partir da alteração em 1882 referida no artigo quanto tempo continuou na Fortaleza e/ou passou para a Alfândega e/ou para a Casa Amarela. Depois disso sabe-se como vimos aqui que em 1901 os Correios tinham sido instalados num primeiro edifício próprio na actual Av. 25 de Setembro o qual em 1904/5 edifício tinha sido substituido pelo da actual sede dos Correios.
Podemos vêr o mesmo lado da Fortaleza da FOTO 4 na seguinte já conhecida da Universidade do KwaZulu-Natal - Campbell Collections.

FOTO 5 
Árvore frente à porta na muralha virada a oeste da Fortaleza cerca de 1880. 
Correios, que faziam parte da Alfândega ou da Fazenda, estariam no interior
Desviando do assunto Correios, note-se que M. Lourenço Mano chamava à Fortaleza "presídio" enquanto que como expliquei aqui Alexandre Lobato (AL) no seu livro Xilunguíne dava esse nome à zona da vila de LM digamos em torno de onde agora começa a Travessa da Catembe a partir da Rua Consiglieri Pedroso. Essa zona era tratada por AL num capítulo específico (Página 221, Outra  História do Presídio) escrevendo ele por exemplo "primeiros homens do presídio puseram no chão uma gávea" o que aponta para a Rua da Gávea um pouco mais para norte na ilha, que "em 1874 o presídio encheu-se de forasteiros e começou a esboçar-se a Rua Araújo", rua que passava uns 50 metros para sul desse ponto, etc. Essa zona histórica da cidade que seria digamos um círculo com 150 metros de raio centrado aqui no Google maps aparece em muitos artigos no HoM citando a Travessa da Catembe.
Mas por definição (e tal como foi seguida por M. Lourenço Mano) "presídio" devia ser um forte e pelo menos desde os anos de 1700 o de LM parece ter estado no local da actual Fortaleza que fica afastado mais de 250 metros da zona onde AL parece focar a sua definição de presídio e com a zona non aedificandi pelo meio, o que para um pequeno burgo me levaria a dizer que eram locais diferentes. A noção de AL de presídio parece assim um tanto imprecisa mas ele era luso-moçambicano e professor da Universidade de Moçambique por isso saberia do que falava.
No próximo artigo ainda baseado em alguma da informação do site do Museu das Comunicações de Moçambique veremos estações de Correios em redor da cidade.

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