1a transferência de diplomatas em LM na 2a GG - americanos (4/4)

Continuo a série sobre a transferência de diplomatas, homens de negócios, religiosos, turistas, estudantes e outros civis que tinham sido apanhados em países que passaram a ser inimigos quando o Japão declarou guerra aos Estados Unidos no decurso da segunda grande querra. Como vimos antes a primeira dessas transferências foi realizada em Lourenço Marques (LM), actual Maputo em 1942 e sobre ela temos dois novos elementos. 
O primeiro é o video com a chegada do paquete Asama Maru a LM a 22 de Julho de 1942. Acompanhado do paquete Conte Verdi, este navio trouxe do Japão e doutros portos do oriente para LM cerca de 800 repatriados americanos e regressou depois ao Japão levando antigos internados japoneses nos EUA incluido o embaixador japonês Almirante Nomura. Estes tinham chegado a LM vindos do ocidente no navio Gripsholm, o qual na volta levou para os seus paises de origem no continente americano quem veio do Japão ou de territórios que tinham ficado sobre o seu domínio.
O video de getty images é falado em japonês e por isso perde-se informação essencial mas parece-me que mostra o Asama Maru a chegar a LM com os passageiros ocidentais, o desembarque desses passageiros e que depois que mostra o navio já com os japoneses transferidos a zarpar de LM para o oriente e por fim a chegar ao Japão. Mostro assim três capturas desse video, na primeira presumo que o Asama Maru manobrava para atracar em LM e como podemos ver num ponto do cais um pouco para oeste = montante no estuário em relação ao Gripsholm:

FOTO 1
Gripsholm atracado na ponte-cais Gorjão visto a partir do Asama Maru.
Para jusante = leste deve estar espaço vago para o Conte Verdi.

A proa do Gripsholm estava virada para leste pois via-se ao fundo a Ponta Vermelha pelo que chego à conclusão que é possível que o esquema da troca dos passageiros em terra terá sido este.
Na imagem seguinte podem ver-se as bandeiras japonesa do Asama Maru e sueca do Gripsholm:


FOTO 2
Ao fundo com a bandeira sueca vê-se a popa do Gripsholm
com o letreiro que se via à esquerda da FOTO 1

Terceira imagem do video gettyimages:

FOTO 3
Vista do Asama Maru para as instalações portuárias 
e a baixa da cidade de LM e o resto subindo pela encosta

O video em torno desta terceira imagem mostra que os navios atracaram para montante = oeste da estação de caminhos de ferro. Vê-se a sede do Clube Ferroviário ao centro direita ainda na zona baixa e tinhamos suposto que ela tinha sido inaugurada em Dezembro de 1943 mas conclui-se daqui que no terceiro trimestre de 1942 parecia estar já concluída. Um pouco para a sua direita vê-se grande hangar das antigas oficinas dos CFM. Para o fundo vê-se também a central geradora da Av. 24 de Julho com a torre de arrefecimento bem iluminada pelo sol da tarde e as chaminés um pouco mais acima. Vê-se também no video a torre do campanário da Catedral que em 1942 estava em construção.
Para completar este assunto relativamente ao que se passou em LM temos um interessante relato de Robert A. Fearey (1918-2004) que quando jovem foi secretário pessoal (ou ajudante de campo de golfe ...) do embaixador americano no Japão Joseph GrewDepois do início da guerra com o ataque japonês a Pearl Harbour, o pessoal diplomático americano esteve confinado na embaixada cerca de oito meses e veio na transferência para LM precisamente no Asama Maru. Eu desconhecia o que aconteceu nos bastidores antes do Japão atacar Pearl Harbour que é muito interessante mas focarei nas referências a LM que traduzo e sumarizo da seguinte forma: 
Só quando chegaram a 22 de Julho os diplomatas dos EUA transferidos do Japão souberam que podiam saír do navio e visitar LM. O Asama Maru e o Conte Verdi ficaram atracados com o Gripsholm entre eles. A passagem dos americanos do Asama Maru e Conte Verdi para o Gripsholm caminhando ao longo do cais foi feita na manhã de 23 de Julho (e no sentido contrário para os Japoneses). De 23 para 24 parece que Robert A. Fearey dormiu no Hotel Polana (mesmo na noite seguinte nem todos os americanos tinham sido instalados nas suas cabines no Gripsholm, outro texto explica que a organização da logistica para tal foi muito difícil - sobre as listas ver também aqui ponto 4). A 24 de Julho Robert foi com o embaixador jogar golfe no campo junto ao Polana e havia laranjeiras em volta do oitavo buraco. Passeou à tarde e à noite foi ao cinema (ver Dive Bomber de 1941) e ao casino. A 25 foi de carro às compras de manhã, à tarde jogou ténis e à noite foi dançar ao Clube Naval com companhia feminina local. A 26 foi às compras e depois de táxi ver o zoo e no caminho reparou na pobreza nos subúrbios. Diz que Moçambique não produzia nada e que vivia das receitas dos magaíças que iam (contentes) para as minas da África do Sul, o que não é muito simpático de ouvir mas não é grande mentira. Robert voltou ao porto às 13:00, altura essa em que o Asama Maru tinha largado do cais e o Conte Verdi estava a começar a largar, partindo esses dois paquetes para oriente. Japoneses que tinham ficado em LM diziam adeus como se viu aqui. Robert almoçou no navio e fez mais compras à tarde, à noite viu mais um filme e deu um passeio de carro, o seu cicerone foi o filho do cônsul americano em LM. A 27 de Julho passeio pela cidade até às 13:00 e depois largada do Gripsholm de volta à América (mas informação mais consistente é que a partida foi a 28 de Julho).
O maior "incidente" da estadia em LM foi quando os embaixadores Grew e o japonês Nomura (que estava com o embaixador Kurusu que o tinha ajudado em derradeira instância como enviado especial aos EUA) se cruzaram na cidade de LM. Os dois eram velhos conhecidos e Nomura ia jovialmente cumprimentar Grew mas este fez só uma pequena vénia com medo de que esse encontro fosse fotografado e seguiu impertubável o seu caminho. 
Artigo (Kokansen no combinedfleet.com) com mais informação: "On 11 June 1942, at New York harbor, Japan's ambassador to the United States, Admiral Nomura Kichisaburo, along with other Japanese dignitaries boarded the neutral Swedish liner MS GRIPSHOLM that had been chartered to the U. S. State Department. GRIPSHOLM sat at anchor until all final details were settled between the two governments and departed for Brazil on 17 June. At Rio de Janeiro, GRIPSHOLM picked up additional Japanese, then rounded the Cape of Good Hope and made for Portuguese East Africa. Meanwhile on 17 June 1942, in Japan, the first diplomatic exchange got underway. U. S. Ambassador Joseph Grew and other American diplomats left their compound in Tokyo and arrived by train at Yokohama where they boarded the NYK liner ASAMA MARU. The ship also sat at anchor until final details were worked out and finally sailed for Hong Kong on 25 June. ASAMA MARU picked up additional Americans and foreign nationals at Hong Kong and then proceeded to Saigon and Singapore where more repatriates were boarded.
On 22 July 1942 (JST), ASAMA MARU arrived at Lourenco Marques carrying approximately 800 American and foreign national civilians from Japan, South-East Asia and the Philippines. She was accompanied by the Italian repatriation vessel CONTE VERDE, with about 600 passengers from Shanghai. Together, the two ships carried 1,450 passengers. GRIPSHOLM arrived at Lorenco Marques later that day carrying 1,096 Japanese nationals. On 23 July 1942, the actual exchange took place. Shortly thereafter, ASAMA MARU sailed to Singapore and then Yokohama and GRIPSHOLM sailed to Rio de Janeiro and then to New Jersey. Both ships also carried mail and food packages to prisoners of war."
Este artigo diz que o Asama Maru chegou a LM antes do Gripsholm mas tal contraria Robert A. Fearey que diz que viu o Gripsholm atracado quando chegou a LM e contraria o a reportagem contemporânea do jornal Notícias de LM que diz que o Gripsholm chegou a 20 de Julho. Por isso no início do filme da getty images quando se vê o Asama Maru fora do cais e o Gripholm atracado, o Asama Maru estaria mesmo a aproximar-se do cais (de facto podia estar a afastar-se mas aí a montagem do filme nâo tinha grande lógica). 
O relato completo de Robert A. Fearey sobre a sua passagem por LM
I will here quote from a diary I kept of this part of the trip:
“July 22. Up at 7:00, in sight of coast of Africa. Strong wind, very cold (winter down here of course). About 8:00 Verdi, leading then, picked up pilot while still moving and proceeded across bay toward Lourenzo Marques, 20 miles off. A few minutes later we did the same. Nothing has so brought home to me the distance we have traveled as the sight of the four coal black Negroes who rowed the Portuguese pilot alongside. From the same rail we had seen the same operation performed at Tokyo, Hong Kong, Saigon, and Singapore. It seemed no time at all ago that we had been buying papayas from chattering, red-lipped (betel nut) Annamese down below, and now from African Negroes. We followed Verdi, caught up and passed her, drew near promontory behind which lay L-M, passed around point and right by tanker flying American flag, blowing its whistle to beat the band. British ships on other side doing same. Much cheering and shouting back and forth. Mrs. Grew and I standing on top deck had been trying to decide whether a large white ship up ahead was the Gripsholm or not. Now we could make out the name in big black letters on the side. Ambassador joined us to say the Port Captain now on board had seen him and been most agreeable, even saying we might go ashore as soon as we landed if he wished. We had been speculating for days whether we would be allowed ashore. Now it appears we will.
“We berthed in front of Gripsholm, with Verdi behind her. L-M dock is a long (1/2 mile) siding - ships berth sideways in single file. Port facilities - cranes, warehouses, etc. – excellent. During afternoon I handled distribution of first class mail brought aboard by State Department man from Gripsholm. Much pleased to find good sized packet for myself. Informed that exchange of our group of about 800 with the Japanese would begin tomorrow at 9:00 a.m. and we could go ashore afterwards.
July 23. Next morning people started to line up at 8:00 to exchange. I arranged with Muir (other State Dept. representative) to get Ambassador and Mrs. Grew off without meeting Ambs. Nomura and Kurusu. We four marched off the boat first, I carrying the locked box containing Grew’s report as I had from Tokyo to Yokohama, and onto Gripsholm. A long line of Japanese coming off Gripsholm and going up the pier to get on Asama was beginning to form. Aboard Gripsholm we waited in smoking room until Grews’ cabin cleaned and ready, then all up to eat fabulous buffet lunch, buy escudos (L-M currency). Spent most of day with press boys, Hill, Bellarie, Tolischus, and Alsop.
July 24. Arrived back at gangplank with Moran 9:00 a.m. from Polona Hotel to find Ambassador, Williams, and Crocker itching to get out on the golf course. Took taxi to American Consulate, picked up Preston (consul) who look us to Polona Golf Club. Fine club house. Crocker and I played Ambassador and Williams. Fairways terrible, greens fine. None of us expected to even touch the first ball, not having held a driver for 8 months. I drove first, and just as my first drive in Japan, hit one right down the middle 250 yards, and then soon reverted to type. Had a 50. We only played nine. Funny sort of hard shelled oranges all over the eighth hole.
“Back to ship for lunch. During afternoon Clara Hamasaki deposited baby with husband Jimmy and we saw the town. Same in evening, starting with movie “Dive Bomber” and ending at Casino. Am working to get them better cabin. Got Wills up to first class from Fifth and have helped others. Terrible yakamashi (barulho) about slow cabin allotment. People sleeping all over lounges and decks as night before.
July 25. Went shopping with Jane and Cynthia Smith-Hutton in Preston’s car all morning. Afternoon played tennis with Benninghoff on private court with girl we met at Casino night before. Evening, dance at Yacht Club with same.
July 26. Took Cynthia with me while I bought toothpaste etc. and then out to zoo. Taxi trip out there of 25 minutes gave some idea of African country, natives carrying bundles on head, poverty. Mozambique produces almost nothing, lives by levying head tax on its Swazi natives sent (gladly) to South African mines. Fine zoo, lions, leopards, baby elephants, pythons, etc. spread over about 30 acres, finely landscaped, loud speaker playing jazz all the time. Cynthia wandered away from me for a second and when I looked up she was patting what looked like a two-ton lion on the head through the bars.
When we got back at 1:00 the Asama had pulled out a hundred yards into harbor and Verdi was just dropping her ropes. Japanese ashore (diplomatic transferees) and on ship were waving flags, shouting banzai. Asama and Verdi sailed slowly out together.
I was probably the only American in the whole town who felt anything like mixed emotions as we watched them go. Cynthia felt no emotion, informing me that she felt the call, so we went back on board Gripsholm, and thence to lunch. Mr. Dooman saw me on deck and asked if I would like to sit with Mr. and Mrs. Stanton (Hong Kong) mother of Fearon, (St. Marks), Mrs. Shields, Lois Fearon and him at meals, so there I will be for the voyage. In the afternoon back on shore and more shopping with Cynthia, and in the evening a drive and a movie with Preston Jr., son of American consul. Preston Sr. was consul in Norway when Germans came in. Preston Jr. works in “Joburg” and is just back from flight training in Scotland.
July 27. Sightseeing with Jane and Cynthia until 1:00 p.m. when we all had to be on the ship. Sail tomorrow 7 a.m.”
July 27. Sailed 3:00 p.m.” (nota: esta linha deve ser para 28 de Julho)
One incident which I neglected to include in my diary is of some interest. Grew had worried as we approached Lourenzo Marques what he should do if he met Japanese Ambassador to the U.S. Admiral Kichisaburu Nomura in the street. They were longtime friends and he would normally have been glad to greet him, but now Nomura was an Ambassador of a country with which the U.S. was at war. Grew had no desire to have a photograph of Nomura and him chatting together shown all over the Free World. He decided that if they met he would bow stiffly and pass on without pausing. And meet they did, in the main street. Nomura was accompanied by Ambassador Saburo Kurusu, who had been sent to Washington a month or so before the outbreak of war to assist Nomura. I happened to be with Grew. Nomura smiled broadly at Grew and started over with his hand outstretched, trailed by Kurusu. Grew never slackened his pace. Bowing coldly, he ignored the outstretched hand, and passed on. The incident long rankled with him, but he never doubted that he had done the right thing.
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The Gripsholm was chartered to the U.S. State Department during World War II, from 1942 to 1946, as an exchange and repatriation ship, under the protection of the Red Cross, hence the term “mercy ship”. The first exchange was made in Lorenco Marques, Mocambique. The Japanese disembarked on one gangway, while the Americans embarked on another. The Americans had lived on two cups of rice per day in captivity, and had to spend 30 minutes to take out the worms from the rice before eating. The majority was not military personnel, but civi­lians who had been captured. One American journalist, normally weighing 160 lbs, weighed 64 lbs when he was carried on board. The 1,500 Americans had to wait on Gripsholm’s deck while the cabins were cleaned. There were buffets prepared on the decks, and many Americans kneeled and prayed when they saw the food, while the Swedish crew wept. - Source: Lars Hemingstam

Podemos ver como tinham sido antes da guerra os três navios envolvidos na primeira transferência. Primeiro o Gripsholm que foi de Nova York a LM e regressou:


FOTO 4
Paquete Gripsholm em porto sueco

Agora os dois navios que foram do Oriente a LM e regressaram ao oriente:

FOTO 5
Paquete Asama Maru que originalmente ligava o Japão à costa oeste dos EUA
FOTO 6
Paquete Italiano Conte Verde da Lloyd Triestino

Texto que acompanha o vídeo da getty images: The Asama-Maru arrives at the port of Lourenço Marques in Portuguese South Africa where the MS Gripsholm waits as Japanese and American consular staffs, expatriates, and students are exchanged for return to their native countries; the Asama-Maru and Conte. 
Noto que a data do video é dada como sendo 25 de Agosto o que corresponderá à sua finalização dado que esses dois navios como se vê no derbysulzers aportaram em Yokohama de regresso ao Japão a 20 de Agosto.
Wikipedia: In accordance with diplomatic treaties, the United States and Japan negotiated the repatriation of their diplomats via neutral territory. In July 1942, Grew and 1,450 other American and foreign citizens went via steamship from Tokyo to Lourenço Marques in Portuguese East Africa (now Maputo, Mozambique) aboard the Japanese liner Asama Maru and her backup, the Italian liner Conte Verde. The Japanese Ambassador to the United States, Kichisaburo Nomura, along with 1,096 other Japanese citizens, steamed from New York City to Lourenço Marques on board the Gripsholm, an ocean liner registered in Sweden. On July 22, the exchange of personnel took place, and then the Gripsholm steamed to Rio de Janeiro, Brazil, and thence to New Jersey.

Termina esta digressão por esta tema supostamente interessante de Lourenço Marques. Verificações do que foi apressadamente alinhavado nesta série de artigos ficam para os senhores bolseiros para justificarem o que ganham ...

NB: o ACTD tem do ano de 1942 e por isso correspondente ao que vimos em cima um dossier das Obras Públicas que certamente seria interessante verificar sobre "PORTO DE LOURENÇO MARQUES. DESEMBARQUE DE DIPLOMATAS E SÚBDITOS AMERICANOS E JAPONESES NO PORTO".

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