Em Barberton, RSA na peugada de Emily, Thomas, Liz e do ouro: "Cockney Liz", etc (2/)

Continuamos tentando seguir o que fez Emily Fernandes da Piedade depois de sair de Lourenço Marques, LM actual Maputo em 1878. Falámos no primeiro artigo mais do seu marido Thomas Lee mas Emily teve algumas ocupações profissionais em Barberton, uma das primeiras como se diz aqui terá sido a de proprietária dum bar e onde tocava piano chamado "Red Light Canteen", nome que pelo menos agora seria bastante sugestivo. 
Nessa "Red Light Canteen" celebrizou-se a inglesa "Cockney Liz" (Elizabeth Martha Burgess), que por desventuras várias tinha chegado a Barberton em Janeiro de 1886 e se tornou aí empregada de mesa. Liz descobriu então que tinha excelentes dotes de cantora e bailarina para além de suponho decidir revelar melhor os seus insofismáveis atributos físicos que se podem observar na capa do livro de Hans Bornman sobre ela e confirmar com a foto seguinte: 

FOTO 1
Sedutora "Cockney Liz" em Barberton entre 1886 e 1887
Sobre "Cockney Liz" no livro no google "The Marginal Safari" de Justin Fox diz-se:
Liz leiloava-se na "Red Light Canteen", poderia 
a "nossa" Emily ter sido acusada de lenocínio?
Então presume-se que com maior percentagem do seu "part-time" noturno do que com o ordenado e as gorjetas do trabalho da Red Light Canteen, Liz pode muito rápidamente passar de empregada a empresária como é também dito no site umjindi:
"Liz later bought the Red Light Canteen and then having made a small fortune, had a more luxurious saloon built – the Royal Albert Hall – into which she moved on July 17, 1887. This wood-framed, corrugated iron covered building measuring 60’ x 40’, was fronted by an imposing facade, and contained ‘all the usual accessories of a Music Hall".
Podemos ver fotos de Barberton com o grande estabelecimento que Liz criou em 1887, primeiro por Robert Harris:

FOTO 2
Na Crown Street à direita, vê-se a sala de espectáculos e salão de bilhares 
e depois o restaurante do Royal Albert Hall construído por Cockney Liz
A fama de Cockney Liz chegou longe como podemos ver nesta gravura inglesa ou americana de 1887 que faz parte duma folha à venda no ebay e aqui individualmente a cores:

GRAVURA

Salão de bilhares de Cockney Liz em Barberton, no ano em que ela ainda estava lá
Como eu disse antes os artistas faziam estas gravuras só pela imaginação mas como era da época pelos menos as roupas e o "decor" deviam ser aproximados. Supostamente a Cockney Liz devia estar à direita rodeada de admiradores. Há outra gravura nessa folha onde se mostra uma "canteen" em que o ambiente é muito mais rude do que o que se vê aqui, o que deve ter algum significado também (lembremos que ela começou como empregada na Red Light Canteen). 
Vamos ver a zona comercial de Barberton na mesma época das imagens de cima na foto seguinte em que coloco marcas nas ruas e nos edifícios principais que consigo identificar e que veremos melhor depois:

FOTO 3
Verde claro: Pilgrim Street
Laranja claro: Crown Street, mais em baixo na encosta do que a Pilgrim

Preto: praça do mercado, parte de baixo
Rosa: praça do mercado, parte de cima que tinha uma casa ao centro
Roxo: devem ser o restaurante e depois o edifício das colunas de Cockney Liz
Verde: árvore frente a eles como nas FOTOS 2 e 4
Castanho escuro: edifício Lewis & Marks, Bank of Africa
Castanho claro: edifício que foi depois do Barclays Bank

Azul: Temperance Hotel
Vermelho: primeiro edifício da Bolsa ou edifício da primeira Bolsa
Olhando para a FOTO 2, ao fundo da descida do lado esquerdo vê-se o Temperance Hotel que é o que marquei na FOTO 3 a azul. Por isso o Royal Albert Hall (RAH) ficava na parte mais alta do centro da cidade e na FOTO 2 vê-se que à sua frente, do lado oposto da Crown Street estava uma árvore, a qual se vê na FOTO 2 e noutras a seguir. Na FOTO 4 seguinte, que mostra a Crown Street no sentido oposto ao das FOTOS 2 e 3 continuaremos a ver essa árvore: 

FOTO 4 
Crown Street a subir, à esquerda primeiro o restaurante e depois 
a sala de espectáculos e salão de bilhares do RAH que Liz construiu
Noutra foto que podemos ver aqui podemos ver esses dois estabelecimentos em funcionamento (pelo menos mantinham ainda as mesmas tabuletas) mas anos depois das FOTOS 2 e 4 pois aparecia uma árvore que tinha crescido entre eles.
Vimos então em cima que "Liz later bought the Red Light Canteen" que tinha sido de Emily talvez em 1887 mas pelo texto seguinte não é certo que Emily a tivesse mesmo vendido, embora mostre que as duas continuavam ligadas nos negócios:
Livro no google: Gold Never Rusts de Paul-Constant Smit 
Este livro diz então que Emily acumulava a gerência da sua Red Light Canteen com dois dos estabelecimentos de Liz, o já falado Royal Albert Hall (RAH) e o Crown Hotel, este último que não sabemos se Liz tinha comprado ou se também tinha construído de raíz como o RAH. 
Esse Crown Hotel aparece na foto seguinte da praça do mercado e podemos daí ver que estaria algures para a frente e à direita da FOTO 4:


FOTO 5
Laranja claro: Crown Street das FOTOS 2 e 4
Laranja normal: Crown Hotel de Cockney Liz

Verde claro: Pilgrim Street, primeira acima da Crown
Preto: praça do mercado, parte de baixo
Rosa: praça do mercado, parte de cima
Castanho escuro: edifício Lewis & Marks, Bank of Africa
Castanho claro: futuro edifício do Barclays Bank
aqui com o telhado levantado como na FOTO 3
Vermelho: telhado da Transvaal Share & Claim Exchange
No google maps pode ver-se o centro de Barberton uns 130 anos depois das fotos que temos por aqui visto. As ruas estão lá e felizmente mantém os nomes mas houve alteração onde havia a praça do mercado (marcada a rosa e preto em cima), pois como se pode ver aqui ao centro no espaço anteriormente livre estão agora edifícios. Na parte mais alta está um de telhado verde maior do que o que existia no século XIX e que deixava espaço livre entre a sua frente e a Pilgrim Street, e na parte mais baixa da antiga praça, entre a Pilgrim e a Crown, está o Tourism Office e o Victoria Tea Garden. O Royal Albert Hall de Cockney Liz teria então estado na perto da esquina para o lado direito desse novo pequeno quarteirão.
De notar que como dissemos aqui o primeiro marido de Emily tinha criado em LM em 1874 o Hotel Real / Royal Hotel que foi o primeiro do burgo e por isso ela estaria muito à vontade no sector em que se veio a envolver em Barberton (meninas à parte ou não?). 
APL disse que Emily tinha enviuvado de Manuel Fernandes da Piedade mas não disse onde vivia o casal e que ano era quando tal aconteceu. Por isso não sei o que Emily terá feito entre a saída de LM em 1878 e o ter contratado em 1886 Cockney Liz para sua empregada na Red Light Canteen em Barberton, por exemplo em que ano chegou ela à cidade. 
Voltando a Cockney Liz que surgiu em Barberton no início de 1886, segundo o livro sobre ela de Hans Bornman, figuras como "Abe Bailey, Sammy Marks (influente empresário na África do Sul em muitos sectores), Hirschel Cohen e Alfred Beit (magnata do ouro e diamantes)" protegeram-na e segundo um resumo do livro (site Mpumalanga Happenings) Alfred Beit até lhe propôs casamento. Os três últimos eram cidadãos de origem judaica e este site fez uma excepcional recolha sobre outros seus correligionários em Barberton. 
Todavia Liz deve ter decidido casar "por amor" com um tal Percival Scribbens mais anónimo o que aconteceu em Janeiro de 1888. Mas pouco depois foi submetida a chantagem devido ao seu passado e com umas "pimentas" pelo meio findou-se o seu matrimónio "cor-de-rosa". Ora é um tanto inverosímil que esse Percival Scribbens que a conheceu em Barberton (no intervalo também esteve em LM onde adoeceu gravemente e foi por isso que regressou a Barberton suponho porque tinha bom clima para ele recuperar) só tivesse descoberto qual tinha sido a vida de Liz depois de ter casado, mas tal estará seguramente melhor explicado no livro de Hans Bornman. 
Quanto ao que foi edificado em Barberton por sua iniciativa, tendo Liz deixado a cidade em para o final de 1887 / início de 1888 vê-se aqui que cerca de 1890 o Royal Albert Hall tinha sido transformado em escola e que depois lhe foram demolidas as escadarias na entrada e que passou a ser a loja de James Stopforth mas na imagem seguinte essa loja aparece entre o RAH e a esquina com a Praça:


FOTO 6 (com inserção da FOTO 2)
Padaria de James Stopforth virada para a praça 
Na FOTO 6 vê-se uma das colunas da frente do RAH para a esquerda do edifício, por isso esse lado ficava na Crown Street e o que vemos de frente na FOTO 6 ficava virado para a praça.
No próximo artigo aproveitaremos para conhecer um pouco mais do centro de Barberton entre cerca de 1880 e 1890.

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