Vimos no artigo anterior Caldas Xavier (CX) no bote a começar a descer o Limpopo após a conclusão da demarcação de fronteira entre Portugal (Moçambique) e a ZAR e a carta completa de 1890 com o percurso seguido por ele entre o Pafuri e Chicualacuala.
Sigo ainda o texto escrito pela parte portuguesa dessa comissão, por Freire de Andrade (FA) e Matheus Serrano (MS) (pdf aqui) e as fotos disponibilizadas pelo ACTD. Como disse antes o ACTD tem uma pasta chamada "Reprodução de desenhos sobre expedições" e na reprodução seguinte, como a legenda já o indicia, teremos o bote e equipa de CX de que temos estado a falar e como iremos observar.
Sigo ainda o texto escrito pela parte portuguesa dessa comissão, por Freire de Andrade (FA) e Matheus Serrano (MS) (pdf aqui) e as fotos disponibilizadas pelo ACTD. Como disse antes o ACTD tem uma pasta chamada "Reprodução de desenhos sobre expedições" e na reprodução seguinte, como a legenda já o indicia, teremos o bote e equipa de CX de que temos estado a falar e como iremos observar.
GRAVURA 1
Legenda original: Caldas Xavier - N.Napuri [homens empurrando canoa] |
A legenda do ACTD não identifica o ano ou missão de CX que está
representada e no relatório da comissão escrito por FA e MS não está mencionado
este rio ou variantes. CX também escreveu um relatório mas não o encontrei /
li. Também verifiquei na wikipedia se um
rio Napuri ou com nome parecido será afluente do Rio Limpopo mas pelo menos dos
maiores não é. Todavia penso que os dois barris / estabilizadores no bote
(improvisado) e haver uma equipa com CX e dois auxiliares não deixam muita
dúvida de que se trata da representação da missão de que vimos falando. Se o
que está na gravura aconteceu mesmo, entre outras hipóteses podia ser que a
equipa tivesse guardado o bote num braço do rio e estivesse aí a conduzi-lo
para o braço principal para prosseguir viagem, etc, etc.
Podemos então rever as duas fotos
mostradas no artigo anterior com o bote já em acção, parecendo as duas ser dum
mesmo local atendendo à grande semelhança do que existia na(s) margem(ns)
oposta(s):
MONTAGEM
Vista no Limpopo, Bote no Limpopo, |
Vou
assumir que as fotos estão na posição horizontal correcta pois sendo as duas
concordantes no sentido de deslocação do bote a probabilidade de erros
simultâneos reduz-se.
Assim
pode afirmar-se que elas foram tiradas por FA provávelmente da margem esquerda
= norte do rio porque o bote está a seguir para a esquerda (para a sua foz no
oceano Índico). Vejamos então na carta de JEPPE, que coloquei no canto superior
direito da montagem seguinte, o percurso seguido a pé (com as carretas e os
auxiliares) por FA e MS do Pafuri a Chicualacuala acompanhando a experiência de
CX no bote, de que vimos o percurso nesta carta.
GOOGLE MAPS com inserção da CARTA de JEPPE de 1892 (clique para aumentar)
Outra curiosidade “científica” sobre esta parte da
missão ou expedição pós-demarcação vem de observar a parte da tabela que mostra os campos em que FA e MS
pararam entre o Pafuri e Chicualacuala. Sem estar a localizar as coordenadas desses campos no mapa (provávelmente as longitudes também não
seriam exactas em absoluto mas a relação entre elas deve ser correcta) olhando para os valores da longitude parece-me poder identificar entre que campos foram feitas as três travessias
do rio Limpopo que Jeppe representou na carta e que FA descreve no relatório
(NB 2 em baixo). A partir daí podemos também ter melhor noção de quantos foram os campos
/ acampamentos feitos numa e noutra margem, o que não está marcado com pormenor na carta de Jeppe.
Marquei com as setas quando me parece que houve travessias dado terem acontecido variações mais acentuadas na Latitude (eixo oeste – leste) entre campos Por exemplo a primeira travessia (vermelha) terá sido feita digamos entre 8 e 10 de setembro porque a latitude sobe 11 graus (a passagem da margem direita para a esquerda é um movimento para leste). No relatório (NB 1) FA refere que fizeram um campo numa ilha já no leito do rio que tinha aí 2 km de largura, pelo que presumo que o campo 45 aberto a 11 de setembro tenha já sido na margem esquerda do Limpopo. E mostra a tabela que no mesmo dia 11 de setembro foi aberto o campo 46 em Chicualacuala pelo que o percurso final depois de passar o rio foi rápido. Certo é que a tabela mostra que foram feitos 8 campos até Chicualacuala e que esse percurso (se sairam do Pafuri a 3 de setembro) demorou c. de 9 dias.
Faço aqui notar de novo que actualmente Chicualacuala aparece na
margem esquerda do Limpopo (google
maps) mas na carta de 1890 estava para norte na margem esquerda do
Uanetsi pelo que estaria por
aqui.
Na carta de Jeppe vê-se então que FA e MS, sairam do PafurI que
estava na margem direita do Limpopo e só passaram para a esquerda mais ou menos
a 2/3 do caminho para Chicualacuala e segundo o relatório de FA essa passagem
pelo rio foi difícil devido às carretas e animais tendo eles até feito um acampamento no meio do "rio". Por isso, mesmo não tendo que ir com as carretas atrás não é de esperar
que alguém tenha passado para a margem esquerda do rio (que se via aqui à direita da confluência) antes disso só para
tirar essas fotos de CX no bote (ver NB 1 em baixo). Daí parece-me que as fotos do
bote terão sido tiradas já na zona de Chicualacuala, pouco antes de CX e os
auxiliares terem partido de vez rumo à foz do Limpopo no Indico. É o que as
fotos e a carta de Jeppe mostram mas ...
TABELA DO
RELATÓRIO DA COMISSÃO DE DEMARCAçÃO
Coordenadas dos campos ou tiradas entre campos desde o Pafuri até aos da segunda presença em Chicualacuala |
Marquei com as setas quando me parece que houve travessias dado terem acontecido variações mais acentuadas na Latitude (eixo oeste – leste) entre campos Por exemplo a primeira travessia (vermelha) terá sido feita digamos entre 8 e 10 de setembro porque a latitude sobe 11 graus (a passagem da margem direita para a esquerda é um movimento para leste). No relatório (NB 1) FA refere que fizeram um campo numa ilha já no leito do rio que tinha aí 2 km de largura, pelo que presumo que o campo 45 aberto a 11 de setembro tenha já sido na margem esquerda do Limpopo. E mostra a tabela que no mesmo dia 11 de setembro foi aberto o campo 46 em Chicualacuala pelo que o percurso final depois de passar o rio foi rápido. Certo é que a tabela mostra que foram feitos 8 campos até Chicualacuala e que esse percurso (se sairam do Pafuri a 3 de setembro) demorou c. de 9 dias.
Pela tabela vê-se que pelo menos FA e MS terão voltado à margem direita = sul entre 11 e 14 de setembro e passados uns
dias, certamente depois de 15 de setembro, regressaram à margem esquerda (não
estive a verificar se isto se alinha com as datas no relatório de FA mas não
deve andar muito longe). É aí, na zona de Chicualacuala,
que estavam os três membros da comissão quando se dá a separação entre CX que
segue no bote pelo Limpopo abaixo enquanto FA + MS que seguem juntos, a pé
e com as carretas, se dirigem mais para nordeste.
NB 1: passagem para a margem esquerda do Limpopo ente Pafuri e
Chicualacuala
Relatório de FA: "Comquanto as povoações se achem ao longo do
rio, a pequena distancia o terreno eleva-se em uma pequena serie de collinas e
montes, que lhe seguem parallelos até algumas milhas ao sul de Sondolotane,
onde avançam até ao rio, de modo que se tornava difficil, senão impossível, a
passagem das carretas, não tanto pelo escarpado do terreno, senão pelo denso
matagal que o cobre e que exigia muitas semanas de trabalho para se poder abrir
qualquer passagem.
Tratámos portanto de procurar uma passagem para a margem esquerda do
Limpopo, muito mais commoda de seguir. Não era fácil, nâo só pelo espesso
arvoredo junto do rio, mas ainda pelo escarpado ds margens e largura do leito,
todo de uma areia quartzosa, extremamente solta.
Depois de procurar qual o melhor vau, decidimos passar o rio perto de M'sia ou Enchláa, onde tem 2
kilometros de largura, mas o leito molhado era bem menos largo, formando
ali as areias uma pequena ilha. Descarregadas as carretas, foram as cargas
transportadas para a ilha, onde se acampou, e em seguida para a margem
esquerda. As carretas descarregadas, só passaram com grande difficuldade, por
isso que as rodas entravam na areia até quasi ao eixo e os animaes puxavam-nas
com difficuldade, gastando-se dois dias na passagem, comquanto a agua não
tivesse ali mais de 0,30 m de profundidade"
NB 2 - detalhes da viagem de FA e MS por terra entre Pafuri e Chicualacuala
pág 49 - dia 3 de setembro pelo texto do relatório (ou 4 pela tabela) CX e MS saíram do Pafuri acompanhando
por terra CX que ia no bote pelo rio e seguiram para Chiculacuala
pág 50 - demoraram 3 dias para chegar a Sondolotane, na margem direita do
Limpopo. Passaram para a margem esquerda (num ponto marcado na carta de Jeppe) em M'sia
ou Enchláa e antes de Banemaio foram ao ponto elevado de separação de águas entre o Limpopo e o Uanetsi (neste caso o do norte, que vem do actual
Zimbabwe). O rio Uanetsi tinha pouca água à superfície mas ela aparecia na areia do seu
leito até ao máximo de 0.5 m de profundidade.
pág 52 - chegaram a Chicualacuala a 11 de setembro (data na tabela, campo
46)
pág 53 - deixaram Chicualacuala para voltar a um campo anterior para
regular os cronómetros. Estiveram em Mahêsse (deve ser Mohassi na
carta de Jeppe). FA fala da origens do rio Zilaue que deve ser o Litaue na carta. Decidiram ir ao campo 30 e depois iniciaram o regresso a Chicualacuala
passando por Machaquete (está na carta na margem esquerda do Limpopo, o chefe
era subordinado de Mahossi, outros nomes em cima)
pág 55 - dia 20 chegaram a Chicualacuala na segunda vez (tabela diz que chegaram a 22
de setembro)
pag 56 - dia 23 de setembro FA e MA partiram de Chicualacuala para
Inhambane, ao mesmo tempo que CX partiu no bote para o Bilene (era o nome da
região do interior para o litoral entre Limpopo a norte e o Incomáti a sul,
onde terá depois aparecido a vila da Macia).
pag 57 - dia 15 de outubro - Matheus Serrano deixa FA.
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