Demarcação de fronteira com a ZAR em 1890 - FA até deixar o Ualuize no início de nov. de 1890 (22)


FOTO 1

Rio Uahise [re?]. Cegonha (grou?) ali caçada - ACTD (n3278)

Continuamos aqui a acompanhar Freire de Andrade (FA) na sua missão individual depois penosamente ultrapassado a planície de Mabanine (Mabanini) e de ter passado para as margens do rio Ualuize, agora Chengane. Vimos no artigo anterior que no dia 3 de novembro de 1890 FA esteve no campo marcado na tabela a "azul e branco" e identificado como sendo "no princípio da mata". Vimos a seguir a caçada aos dois dikas com que finalizámos os artigo anterior e neste veremos o que se passou daí em diante e como temos vindo a fazer para além de ler o texto do relatório  pdf aqui -  olharemos em detalhe para a carta de Jeppe que aparece a seguir e para detalhes da tabela do relatório que mostro ao fundo deste artigo.



Canto superior direito da CARTA DE JEPPE de 1892 (clique para aumentar)
disponibilizada pela Universidade de Illinois
Branco: percurso individual de MS, finalmente na direcção de Inhambane
Cinzento: percurso individual de FA, seguindo o rio Ualuize
Castanho: Mabanine genéricamente
Círculo laranja: primeiro ponto do rio Ualuize, actual Chengane, 
que FA encontrou
Laranja: rio Ualuize, actual Chengane nasce nas lagoas da Mabanine
 (na de Chicarre, ligada à Bembe)
Púrpura: Magimane na margem esquerda do Ualuize
Amarelo e laranja: lago das cegonhas, provávelmente na zona da FOTO 1
Outras cores: ver no texto em baixo e nos 
artigos anteriores as passagens relevantes

Excertos relevantes do que FA escreveu para esse trecho da missão, depois dos "dikas": 
pág. 65: dia 3 de novembro"No meio do cannavial e nas lagoas que chegavam por vezes a ter 1 a 1,5 kilometros de largo, ouvíamos os hipopótamos cujas pegadas encontrávamos continuamente nas margens". Lembro que a 27 / 28  de outubro FA tinha já referido hipopótamos o que está marcado na tabela a verde e branco pelo que estes de 3 de novembro serão outros. 
A seguir FA fala da passagem do seu grupo (mancha cinzenta na carta) da margem direita para a esquerda do rio Ualuize e que olhando para a carta se fez mais ou menos dentro da circunferência laranja. 
pág. 67: "Apesar de termos escolhido um local mais estreito (num) canal que reunia duas lagoas, para passar o rio, não só nos atolamos completamente no lodo, mas ainda os dois burros que traziamos, mesmo descarregados, ficaram de tal modo encravados, que foi necessário traze-los para fóra em peso, levantando-os os (africanos) de modo a preservarem-lhes as cabeças fóra de agua". 
Ainda na pág. 67: "Durante um dia (e isto devia ser já a 4 de novembro, pois na tabela o campo indicado por exemplo como tendo sido o de 3 de novembro normalmente terá sido instalado a 3 para ser usado na noite de 3 para 4, se quisermos entrar em pormenores) seguimos a margem do rio (já na esquerda) até à povoação de Magimane (púrpura) ...".
Na foto seguinte tirada junto ao Uahire / Uahise que como vimos será também o Ualuize vemos um senhor mais bem vestido que será ou Loforte, o chefe dos carregadores, ou Hiron o empresário das carretas. A foto terá sido então tirada entre a nascente desse rio nas lagoas de Mabanine e pouco depois da localidade de Magimane a partir de onde como veremos a missão virou para o lado leste.


FOTO 2
Margens do Uahise Uahire  (ACTD web_n3277 )
Continuando com o relatório de FA:da pág. 67 para a 68: "Vimos ali (nas cercanias de Magimane) pela primeira vez um baobab dentro do qual os (africanos) conservam a agua no interior do tronco, uma água suja e amarellada pela quantidade de matéria orgânica que contém ... e porque o seu interior tendo frequentemente vasios e dividindo-se muitas vezes no topo em três ou quatro largos ramos, fórma-se ahi um buraco que communica com o interior do tronco; é, aproveitando-se disso, que os (africanos) se servem d'este como cisterna, onde guardam a agua que bebem durante a estacão secca".
Há no ACTD uma foto dum baobá isolado mas não sabemos se foi o que FA viu em Magimane pois disse também FA nessa parte do texto "Os baobabs existem em grande numero desde o rio dos Elephantes, no caminho que percorremos, tornando-se raros ao chegar a Masibi".


FOTO 3
Baobab embondeiro  (ACTD web_n3260)
Acho que dos números das fotos no ACTD, pelo menos de algumas, podiamos fazer também a sua sequenciação em relação ao caminho que FA percorreu mas ...
pág. 68: "Foi perto de Maginiani (presumo que Magimane, púrpura) que deixámos o Ualuize (laranja), cortando ..." (desvio para a direita que se pode ver na carta).... "Desde o Ualuize até Masibi, a região cheia de grandes e magnificas arvores, de lagoas e de caça, é magnifica, quasi um parque". De facto na tabela o campo de 3 de novembro é referido como sendo "ao princípio da mata" (azul e branco) pelo que é coerente que FA descreva depois a mata que encontrou. 
Ainda na pág. 68: "Depois de sair de Magimane, seguimos sempre oeste, ... Demais a caça grossa escasseava e unicamente se apanhavam alguns patos e cegonhas". Marquei amarelo e laranja na tabela o "campo no lago das cegonhas a 5 de novembro de 1890" data que mais ou menos corresponde ao calendário de FA pois ele tinha referido que no dia 3 ou 4 tinha passado para a margem esquerda do rio Chaise ou Ualuize, onde estava a localidade de Magimane. Marquei também a amarelo e laranja na carta a posição do que me parece ter sido esse campo.
Pelas coordenadas na tabela (latitude 22°53'35.6"S e longitude 33°41'35.2"E) esse lago seria por aqui no google maps e curiosamente na zona, embora esteja já afastada do rio agora Chengane, antigo Ualuize aparece um lago Manhene e mais depressões que parecem lagoas em volta desse. É então capaz de ter sido dessa zona, em que se vê água ao fundo mas dita ser do rio Uahise ou Ualuize, a cegonha caçada (ou o grou, FA confessava que não era especialista em zoologia ...) da FOTO 1.
Na FOTO 4 seguinte mostro patos que terão sido caçados dias antes do descrito na página 68. Estes estavam na zona de Mabanine, pelo que diz a legenda e porque a vegetação parece ser a de arbustos espinhos com que FA (e MS) a descreveram. Mas vamos ficando com ideia geral dos animais e da paisagem por onde FA e MS (separados) andaram entre o final de outubro e a primeira semana de novembro de 1890:


FOTO 4
Um pato de Mabanine (ACTD web_n4009 )
Continuamos para a frente no relatório de FA, até uma parte onde nos aparece de novo uma data precisa, a de 9 de novembro de 1890 e que pelos locais mencionados, olhando para a carta, se confirma que ele se ia afastando do rio Ualuize. Lembro que última data precisa que tinhamos tinha sido retirada da tabela e era relativa ao "campo no lago das cegonhas a 5 de novembro de 1890", o "amarelo e laranja" ainda perto do rio.
pág. 69: "De Macane (presumo que Macanhe, verde escuro, para leste do rio Ualuize) até Masibi onde chegámos no dia 9 de novembro o terreno apresentou-se sempre o mesmo ... ". 
Noto que a tabela assinala ainda dois campos anteriores a Masibi e levantados a 6 e 7 de novembro em localidades que não encontro na carta mas que devem ser na zona de em torno de Barute. Como dessa a localidade para leste termina a carta de Jeppe, a partir de Masibi que FA alcançou a 9 de novembro deixo de acompanhar a sua missão em pormenor. Mas como ainda faltava a FA mais de um mês e uma semana para chegar a Inhambane e muitas dificuldades teve de ultrapassar e muitas peripécias lhe aconteceram, leitor interessado pode conhecê-las lendo o relatório e para se orientar olhando para a tabela completa pois ela continua para além do que mostro a seguir e cuja parte final é a pertinente para este artigo:

TABELA DO RELATÓRIO DA COMISSÃO
Entre Chicualacuala a 22 de setembro e o afastar-se do rio Ualuize
 a caminho de Masibi a 9 de novembro

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