Defesa de LM em 1894 - barricadas na praça e ruas da Baixa em outubro (6/14)

Continuo a série sobre o cerco de Lourenço Marques da segunda metade de 1894. A ilustração seguinte feita a partir de foto é como a que vimos no artigo anterior do JORNAL THE GRAPHIC de Dezembro de 1894 e tinha como título principal "Defesas portuguesas de Lourenço Marques":

IMAGEM 1
Barricada de rua com barricas de ferro e trollies (carrinhos), 
o que não se vê bem na imagem

Diz o livro de Eduardo Noronha (EN) "Defesa de Lourenço Marques" disponibilizado pelo site malhanga (que contém a segunda parte do livro a "A Rebelião dos Indígenas de LM de 1894) que depois do ataque mais alargado e arrojado de 14 outubro e constatada a vulnerabilidade da cidade, o governador decidiu fazer barricadas na praça 7 de março, actual 25 de junho para o caso as exteriores serem ultrapassadas. Como vimos aqui na praça antes havia só o posto de defesa (PD 6) da alfândega pois suponho que as barricadas do lado oriental da Baixa (de que EN não dá detalhes) estivessem afastadas da praça. 
As barricadas da praça seriam guarnecidas pelos marinheiros da corveta Rainha de Portugal. Como dissemos antes à noite toda a população da cidade alta que não estivesse armada vinha para a praça e as mulheres iam dormir nos navios ancorados no estuário pois ainda não havia ponte-cais onde eles pudessem acostar. Para evitar que alguns homens menos corajosos tentassem fazer o mesmo havia guardas nas pontes de em/desembarque. Durante o dia ao soar um tiro de alarme a população da Baixa deveria refugiar-se na praça.
Estas eram então as barricadas na Baixa de LM já numa fase adiantada do cerco à cidade e que seria o último reduto contra um ataque que ultrapassasse a linha de defesa dos blockhaus:


PLANO DE ARAÚJO de 1892 / 95 
com a estimativa das barricadas de pós 14 de Outubro de 1894
Azul escuro: barricada exterior da Rua Araujo 
Azul médio: barricada exterior da Rua D. Luis I, actual Consigieri Pedroso
Laranja claro: Av. D. Carlos, actual 25 de setembro
Pretos: barricadas viradas a norte na travessas da Av. D. Carlos 
para a Rua da Gavea e D. Luis I, actual Consiglieri Pedroso, veremos neste artigo
Verde médio: praça 7 de março, actual 25 de junho
Vermelho, carmesim e amarelo: barricadas viradas para oeste da praça
Verde escuro: barricada virada para norte da praça
Roxo: actual Av. Samora, antiga Aguiar
Castanho escuro: fortaleza
Púrpura e branco: praça da estação, depois Mac Mahon, actual dos Trabalhadores


Note-se que as barricadas azuis para Oeste da praça e pretas para Norte já existiam antes de 14 de outubro. Antes existiam também barricadas nas ruas Lapa (da Alegria, actual Slovo) e NS da Conceição (actual de Timor Leste) que EN não menciona para esta altura, essas podiam ter sido desactivadas dado terem aparecido entretanto cinco BH do lado leste da cidade (BH 8 a 12) mas não é certo.
Como se vê a barricada "verde escuro" podia fazer fogo para norte se os atacantes aparecessem por esse lado já depois de terem atravessado parte da cidade e descido a encosta. É a ela que a IMAGEM 1 corresponde dado aparecer a nível mais elevado a igreja paroquial do telhado "vermelho", vista como na FOTO 3.c deste artigo e que estava onde agora está a sede da RM. Essa barricada estaria actualmente ao centro da Av. Samora ao lado do prédio Rubi mas se estivesse um pouco afastada da Praça podia estar mais ao lado do prédio Paulino S. GilEntão a travessa barricada em primeiro plano na IMAGEM 1 seria a da Fonte, o que é também coerente com ver-se por trás das árvores um telhado que  aí parece enorme e seria da casa de ferro de que falámos aqui.
Podemos acresentar que segundo EN a barricada exterior "azul escuro" era guarnecida por pessoal dos CF e estava armada com uma peça de artilharia, o mesmo armamento de que dispunha a barricada "azul médio". 
Como se pode ver as barricadas "vermelho, carmesim e amarelo" podiam fazer fogo para oeste da praça cobrindo as ruas D. Luiz, actual Consiglieri Pedroso; dos Mercadores, depois Araújo, actual de Bagamoyo; e 28 de Maio, actual M. de Inhaminga quando estas se estivessem já invadidas pelos rebeldes que nessa alturam estariam já a desferir a "estocada final" nos defensores da cidade. Para essas barricadas poderam fazer fogo para essas ruas em segurança, foi organizado um sistema de luzes entre elas e as exteriores (aí eram duas mas aqui tinham sido três) de modo a que os defensores das segundas sinalizassem quando iriam recuar perante um ataque que não podiam suster. Estava combinado por que outras ruas esses defensores recuariam para a praça e/ou em que locais se refugiariam, dando assim a possibilidade das barricadas da praça dispararem à vontade nessas direcções.  
Na foto seguinte já conhecida do HoM podemos ver a Rua Araújo (ou seria ainda dos Mercadores?) em 1895, quer dizer pouco depois do cerco. Era então para esta rua que a barricada carmesim da praça podia fazer o seu fogo quando a barricada exterior "azul escura" tivessse sido ultrapassada pelos atacantes e os seus defensores deixado de estar em ponto de mira.

FOTO 1
Ao fundo da rua Araújo foi instalada em 1894 a barricada exterior "azul escura" 

Note-se que ao fim da rua, actual Bagamoyo via-se um espaço aberto que não parecia estar ainda bem definido. No PLANO DE ARAÚJO ela corresponderia à praça "púrpura e branco", que actualmente é a dos Trabalhadores, o que mostra que demorou algum tempo ao plano ter sido transformado em realidade. Meso a rua Araújo tinha ainda o piso ainda em terra / areia, isto mostra como era a cidade que estava a cidade a ser atacada e defendida.
A barricada da praça mais a norte e virada a oeste dava para a rua Consiglieri Pedroso. Com a imagem seguinte podemos ver qual era a perspectiva desse local uns seis anos depois do cerco:


IMAGEM 2
Verde: lados norte e oeste da praça 7 de março, actual 25 de junho
Amarelo: Casa Amarelaque ainda está aqui - Museu da Moeda
Vermelho: barricada da praça para a rua D. Luis I, actual Consiglieri Pedroso
Azul: ao fundo dessa rua. a barricada exterior para a praça da estação
Castanho: prédio do Consulado Britânico, clube inglês

No próximo artigo falarei mais sobre as cinco barricadas viradas a norte e marcadas a preto no PLANO DE ARAÚJO de 1892 / 95 visto em cima e que eram as mesmas ou modificação das marcadas aqui de A a E..

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