Pe. Sacramento, Naylor, Rufino, jornal e lotaria: mais sobre Naylor e a lotaria de LM (6/10)

Rufe NAYLOR c. de 1908 com 26 anos de idade

Nesta série vamos continuar a tentar conhecer melhor o australiano Rupert Theodore NAYLOR (1882–1939) mais conhecido por Rufe ou Rufus NAYLOR (ou NYLOR) e que terá sido sócio do padre Sacramento nos dois primeiros anos da concessão da lotaria de Lourenço Marques (LM), actual Maputo e que nessa altura, entre 1917 e 1919, presumo terá estado frequentemente na cidade.
A dissertação de Andrew MacDonald "Colonial Trespassers in the Making of South Africa's International Borders 1900 to c. 1950" (academia - trespassers no sentido de migrantes) confirma e completa a informação vista anteriormente sobre os primeiros anos da vida profissional de Naylor detalhando um pouco mais a sua intervenção em LM mas no negócio dos casinos, que presumo teria sido paralelo ao da lotaria. 
Primeiro explica MacDonald: "...Lourenço Marques found itself cash-strapped. Ever dependent on the Rand traffic, administrators saw in 'tourism' a useful money spinner after the Great War ... encouraged Union whites to visit. Immediately after the war, the Union (União da África do Sul)  agreed to help facilitate cross-border traffic by liberalizing border-controls for bona-fide 'tourists', a term that until then had not much featured in the Immigration Officers’ rulebooks". Isto significará que a União aceitou não colocar dificuldades aos seus cidadãos que iam ao casino em Moçambique apesar de saber que  eram só "turistas da roleta". 
Continua esse texto: "The popularity of the route meant that the Lourenço Marques-Johannesburg train became informally known for a time as the “Rufe Naylor Express” amongst white South Africans, after the Australian hustler instrumental in establishing gambling and lottery concerns on both sides of the border". Não sei dizer qual terá sido esse casino de Naylor em LM, pois os casinos de que tenho ouvido falar, o Miramaro Costa e o Bello eram de mais tarde, da segunda metade dos anos 30. 
E MacDonald coloca o seguinte numa nota de fim de página, com dados novos e outros já vistos aqui: "Rufus Naylor was a controversial character. As a teenager he was an itinerant bookie in western Australia - until his arrest (in 1906) for fraud at a Perth race course. He reinvented himself a promoter of professional 'foot-running' and 'pedestrianism', taking two competing athletes on a tour to South Africa in 1910. In Johannesburg, Naylor played an important part in establishing sports facilities and came to own a racecourse of his own. He won a seat on the Johannesburg Municipal Council but his interests in the lottery in the Transvaal and Portuguese East Africa tempted him into a bribery scandal. As an ‘undesirable’, he fled to Ceylon and India for some years before returning to Australia in the mid-1920s. He continued to conjure various betting schemes that ran afoul of the law".
Em search trove encontra-se um poster das organizações desportivas em que Naylor esteve envolvido antes de ir para a África do Sul e que no fim de contas lá foi continuar. Este cartaz, donde também retirei a primeira foto, é relativo a uma competição que ele organizou no Reino Unido, no estádio The Willows em Salford que fica na zona de Manchester:
Em 1908 BR Day e A Postle na Inglaterra. 
Ao centro Rufe Naylor que era o promotor e juiz da competição 

Para esta competição, Naylor tinha contratado um atleta profissional seu conterrâneo australiano, Arthur B. Postle, The Crimson Flash, recordista mundial de várias curtas distâncias até 200 metros. O seu oponente anglo-irlandês (a independência da Irlanda foi em 1922) era B.R.Day ou seja Beauchamp Day também um atleta de renome. 
O programa das corridas mostrava fotos dos atletas e dados anteriores pois elas envolviam apostas para além dos prémios aos atletas, a que presumo se refere os "prémios dados de parece GBP 8756" do anúncio. Note-se que segundo Andrew MacDonald em 1906 Naylor tinha sido banido por fraude nas corridas de cavalos e preso na Austrália e que se tinha reinventado (quer dizer aplicado o mesmo conceito de negócio) como promotor de corridas de atletismo. Mais em cima dizia-se que Naylor tinha ido para a África do Sul em 1908 e vê-se na lista de corridas de A. Postle que participou lá uma corrida em Fevereiro de 1908 presumo que já organizada por Naylor, o qual estaria lá a residir há pouco ou a pensar mudar-se para lá. Na biografia de Postle aparece referida outra corrida na África do Sul em que participou e organizada por Naylor: "Postle and American runner Charles Holway challenged Donaldson to a race at Johannesburg in February 1910 to decide who would be crowned World Champion over a one-hundred yard sprint" (cerca de 100 metros). Por essa altura Naylor tinha entre 28 e 30 anos e estando a organizar competições entre atletas profissionais de alto nível internacional e em diferentes países - entre os quais as longas deslocações só podiam ser feitas em navio - e com a actividade de apostas associada dá bem ideia de que ele era "muitíssimo desenrascado". 
Aqui Naylor ouvido por um jornal em 1933 sobre atletismo dizia que "of the 260 sporting carnivals ... organised in different parts of the world, foot-running accounted for a majority. He had brought B R. Day to Australia, and had arranged the first world's title at Kalgoorlie in 1906 against Postle. It drew a crowd of 14,000 He had also promoted all the famous matches between Postle and Donaldson, and, in fact, from 1906 to 1912 the contests for the world's title had been in his hands". Quer dizer a receita de Naylor não era só feita nas apostas era também nos bilhetes para o público que com 14 000 espectadores devia ser uma maquia grande. 
Para termos melhor ideia de como funcionavam essas organizações, para a digressão do cavalo Winooka na América, de que falaremos no próximo artigo 7, Naylor estava à espera de três possibilidades: organizadores locais dariam um prémio de presença, dariam uma percentagem das receitas de bilheteira ou se tais oportunidades não surgissem Naylor organizaria ele próprio as competições entre o Winooka e cavalos americanos.
Continuarei esta série a seguir a interessante existência de Rupert Naylor, que pelo que vejo na net até agora tem sido referido muito de passagem na literatura referente a Moçambique na segunda década do século XX (20).

PS: Encontro uma série de perguntas e repostas sobre Rufus Naylor, o que é curioso pois leva a pensar quem estará agora interessado em saber isto quase académicamente:
"- At what age did Naylor leave school? Naylor left school at the age of twelve.
- What was Naylor's first occupation as a licensed bookmaker? Naylor's first occupation as a licensed bookmaker was a miner (acho que a pergunta correcta seria "antes de ser" bookmaker)
- What event was organized by Naylor in 1909? A Johannesburg event was organized by Naylor in 1909.
- What was the name of the theater chain Naylor managed in London from 1913 to 1917? The name of the theater chain Naylor managed in London from 1913 to 1917 was African Theatres Trust Ltd.
- What was the name of the newspaper Naylor ran in South Africa? The name of the newspaper Naylor ran in South Africa is Life, Sports and Drama.
- Where did Naylor return in 1925? In 1925, Naylor returned to Sydney.
- What did Naylor do in 1930? In 1930, Naylor ran a scam to sell "shares" in lottery tickets.
- What did Naylor publish after leaving the racing business? Naylor published Racing Reflections and broadcast "Racing Revelations" on the radio station 2KY after leaving the racing business (não encontro traço de livro com esse nome da sua autoria, talvez fosse uma revista).
- What was Naylor banned from? Naylor was banned from registered racecourses.
- Who did the Australian Jockey Club appeal to have their ban overturned? The Australian Jockey Club appeal to the Palatinate Council to have their ban upheld" (o AOJ tinha proscrito Naylor, este tinha obtido dum tribunal a anulação dessa decisão mas o AOJ tinha levado o caso ao tribunal superior para que o banimento fosse mantido, aqui o julgamento do caso entre ele e o Australian Jockey Club, também num livro aqui).

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