No artigo anterior falei já de Emily ou Emilie, uma inglesa originária de Durban que chegou Lourenço Marques (LM), actual Maputo como noiva do português Manuel Fernandes da Piedade (MFP). Como disse aí Emily deve ter sido a primeira senhora de origem europeia a viver em LM e devia ser muito corajosa, determinada e dinâmica pois o marido dedicava-se à importação e exportação e ela acampanhava-o nas frequentes viagens de barco ao longo da costa e ajudava-o no trabalho por ex. na correspondência e preparação de documentos para os navios, o que devia ser raro na altura.
O jornal LM Guardian em 1907 publicou as suas lembranças em que revelou muitos pormenores dos primeiros tempos de LM que doutro modo não se saberiam agora. LM quando ela chegou era um pequeno burgo numa ilha (parte da actual Baixa) rodeada de pântano e primeiro ela foi viver para a Rua Tenente Valadim que tinha partes que ainda davam para a praia. Disse ela que as ruas eram de areia e que ao andar se ficava enterrado até ao tornozelo e que o aspecto de tudo era repugnante. Contra a opinião geral decidiu então viver fora da linha de defesa (muralha em volta da "ilha" da cujas portas eram fechadas à noite) porque achava que era melhor correr o risco de ser assaltada pelos nativos do que de morrer de doença se vivesse com o pântano em redor e que só começou a ser drenado cerca de 1880. A sua casa era junto à aldeia dos Maxaquene / Mpfumo e como o seu marido trabalhava durante o dia Emily dava passeios a cavalo e via por vezes caça na Ponta Vermelha. No ano seguinte, em 1867, o casal deixou o negócio em LM entregue a um procurador e mudou a actividade para Quelimane só tendo regressado a LM em 1872 e tendo daí partido de vez em 1878.
Adiantava ainda APL e/ou o jornal que Emily depois do falecimento do marido português MFP casou com um inglês de apelido Lee e que estava estabelecido em Barberton, cidade na África do Sul criada em 1884 a partir dum acampamento de mineiros numa área onde foi descoberto ouro e para onde acorreram pouco depois cerca de 10 000 aventureiros de todo o mundo.
Barberton fica em linha recta (voando sobre a Swuazilândia / eSwatine) a uns 155 km de LM e dela tinhamos falado aqui a propósito da sua ligação por ramal à linha de caminho de ferro entre LM e Pretória inaugurada em 1895.
O jornal LM Guardian em 1907 publicou as suas lembranças em que revelou muitos pormenores dos primeiros tempos de LM que doutro modo não se saberiam agora. LM quando ela chegou era um pequeno burgo numa ilha (parte da actual Baixa) rodeada de pântano e primeiro ela foi viver para a Rua Tenente Valadim que tinha partes que ainda davam para a praia. Disse ela que as ruas eram de areia e que ao andar se ficava enterrado até ao tornozelo e que o aspecto de tudo era repugnante. Contra a opinião geral decidiu então viver fora da linha de defesa (muralha em volta da "ilha" da cujas portas eram fechadas à noite) porque achava que era melhor correr o risco de ser assaltada pelos nativos do que de morrer de doença se vivesse com o pântano em redor e que só começou a ser drenado cerca de 1880. A sua casa era junto à aldeia dos Maxaquene / Mpfumo e como o seu marido trabalhava durante o dia Emily dava passeios a cavalo e via por vezes caça na Ponta Vermelha. No ano seguinte, em 1867, o casal deixou o negócio em LM entregue a um procurador e mudou a actividade para Quelimane só tendo regressado a LM em 1872 e tendo daí partido de vez em 1878.
Adiantava ainda APL e/ou o jornal que Emily depois do falecimento do marido português MFP casou com um inglês de apelido Lee e que estava estabelecido em Barberton, cidade na África do Sul criada em 1884 a partir dum acampamento de mineiros numa área onde foi descoberto ouro e para onde acorreram pouco depois cerca de 10 000 aventureiros de todo o mundo.
Barberton fica em linha recta (voando sobre a Swuazilândia / eSwatine) a uns 155 km de LM e dela tinhamos falado aqui a propósito da sua ligação por ramal à linha de caminho de ferro entre LM e Pretória inaugurada em 1895.
Então Emily (Emilie) saiu de LM em 1878 e pelo que dissemos em cima não é crível que ela tenha ido para Barberton antes do "gold rush" de 1884-85. Sabemos ainda que esteve em LM entre 1899 e 1902 durante a guerra anglo-boer e que fez a visita em 1907 mas há um grande intervalo na sua vida de que não sabíamos nada e como foi uma pioneira de LM fui tentar ver o que encontrava e encontrei alguma coisa como veremos aqui.
FOTO 1
Barberton no Transvaal vista da colina Scott (foto assinada por T.L.) |
A zona mineira de Barberton era chamada "De Kaap Gold Fields" como foi inscrito na foto que deve ser de entre o final do século XIX (19) e início do XX (20). Em primeiro plano a chegar ao vale temos uma zona residencial e o centro de negócios da cidade aparece ao fundo, encostado a outras colinas.
Tentando então ir para além do que APL escreveu no seu livro, uma pista sólida daqui é a Fernlea House de Barberton ter sido construida para uma Emily Lee. Diz o site também que Emily (Emilie) foi considerada a "mãe de Barberton" pelo que presumo que tal como aconteceu em LM como inglesa, terá sido a primeira mulher a viver na nova localidade mineira.
Tentando então ir para além do que APL escreveu no seu livro, uma pista sólida daqui é a Fernlea House de Barberton ter sido construida para uma Emily Lee. Diz o site também que Emily (Emilie) foi considerada a "mãe de Barberton" pelo que presumo que tal como aconteceu em LM como inglesa, terá sido a primeira mulher a viver na nova localidade mineira.
E aqui confirma-se que se trata da "nossa" Emily pois era também chamada Fernandez, apelido herdado do primeiro marido, sobre essa casa dizendo-se: "This wood and iron house was built for Mrs. Emily Fernandez in the early 1890’s. She married Mr. Thomas Lee, owner of a photography and drapery business in town". Ficamos daqui a saber que o marido de Emily se chamava Thomas Lee e seguindo agora a informação do especialista em fotografia em Moçambique Paulo Azevedo (autor do livro "Joseph e Maurice Lazarus - Photographos Pioneiros de Moçambique" ele nasceu em 1862 e faleceu em 1934 e foi em 1886 para Barberton prospectar ouro tendo para além da fotografia entrado depois também no negócio de roupa e tecidos (de "drapery" que normalmente seria de cortinados mas que de acordo com a wikipedia "in South African parlance" quer dizer "clothing and fabrics").
Podemos ver a casa construída por Emily e Thomas numa zona arborizada de Barberton, penso que em fotos depois e antes da recente reabilitação:
FOTOS 2
Fernlea House construída para Emily e reabilitada para o Museu de Barberton |
Numa das fotos do site Barberton Buzz (conjuntos 1 - 2 - 3 - 4 - 5) tem-se uma perspectiva antiga mais completa do local aparecendo uma ala para a esquerda de quem vê mas presumo que ela estivesse mais recuada e que terá entretanto desaparecido dado a casa ser de ferro e madeira e este local estar sujeito a enxurradas.
FOTO 3
Fernlea House original de Emily e Thomas no sopé das colinas de Barberton |
FOTO 4
Vermelho: Fernlea House Preto: seta indicando o centro histórico Barberton, a uns 200 metros daí |
Ficando junto a um regato (onde foi descoberto o primeiro ouro da zona) e à mata não seria de admirar que por aí houvesse muitas das tais "fernleas" que parece ser um nome de flor. Também não será muito "achismo" do HoM dizer que o nome de Lee Road (ou Street) vem de Thomas Lee. Já o conhecemos por ter feito fotos de LM como foi revelado no site ma-schamba (do site grand monde) e já mostrámos algumas, aqui da Baixa (a primeira do artigo), aqui do Hotel Cardoso e aqui do Hotel Club (o HPIP diz que a foto de Thomas Lee é de 1889 mas estará errado por dez anos). Escreveu ainda Paulo Azevedo no seu livro que TL chegou a ter um estúdio em Lourenço Marques nessa altura.
Diz um livro, de que veremos parte depois, que a maior parte das fotos antigas de Barberton foram tiradas por Thomas Lee e suspeito que a FOTO 1 o seja pois foi assinada por um T.L. A foto seguinte com uma sua "carte-de-visite" é-o confirmadamente (ver no canto superior esquerdo):
Diz um livro, de que veremos parte depois, que a maior parte das fotos antigas de Barberton foram tiradas por Thomas Lee e suspeito que a FOTO 1 o seja pois foi assinada por um T.L. A foto seguinte com uma sua "carte-de-visite" é-o confirmadamente (ver no canto superior esquerdo):
A casa das FOTOS 2 a 4 indicava um certo desafogo económico do casal mas como veremos pelo menos na segunda metade dos anos 80 Emily deve ter tido bom rendimento profissional e podido daí contribuir para a financiar e não sabemos também que pecúlio teria mantido após o falecimento do primeiro marido.
Referimos em cima o Rimer's Creek que vem das montanhas e passa por trás da casa e ele pode ser visto nesta foto bucólica reproduzida do FB Barberton Bliss com o poema evocando a lavagem da rocha à procura do ouro:
No próximo artigo voltamos a Emily para ver a sua ocupação profissional nos tempos áureos de Barberton. Veremos mais tarde o que ela fez depois de em 1907 ter estado de visita a LM, actividade essa que se prolongou por muitos anos.
Referimos em cima o Rimer's Creek que vem das montanhas e passa por trás da casa e ele pode ser visto nesta foto bucólica reproduzida do FB Barberton Bliss com o poema evocando a lavagem da rocha à procura do ouro:
FOTO 6
Foto de Thomas Lee com poema de Graham Lawrence em 1894 |
Notas:
Sites donde extraio muitas das fotos e info para estes artigos com a devida vénia:
FB Barberton Bliss
Molengenealogy
Barberton History and Mining Museum (FB)
Barbeton Buzz photo: 1 - 2 -3 - 4 - 5 (fotos com o quadro cor de rosa)
Fotos e "estórias" no FB
Mpumalanga happenings
Muitas das fotos antigas devem estar também publicadas no livro Barberton Photo Album de Hans Bornman.
Sites donde extraio muitas das fotos e info para estes artigos com a devida vénia:
FB Barberton Bliss
Molengenealogy
Barberton History and Mining Museum (FB)
Barbeton Buzz photo: 1 - 2 -3 - 4 - 5 (fotos com o quadro cor de rosa)
Fotos e "estórias" no FB
Mpumalanga happenings
Muitas das fotos antigas devem estar também publicadas no livro Barberton Photo Album de Hans Bornman.
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