Carta de CGd'E enviada de Lourenço Marques para França em 1899 (esteve à venda no site delcampe.net) |
Neste artigo falaremos de temas complementares e/ou acessórios relativamente à central geradora da Baixa da Compagnie Générale d'Eléctricité (CGd'E) de Lourenço Marques (LM) de que falámos aqui (1), aqui (2) e aqui (3).
1. Central geradora eléctrica da rede pública e a do porto
A central da CGd'E foi a primeira central geradora para a rede pública na cidade e foi instalada em 1898. Dentro do recinto do porto aparece em foto de cerca de 1911 uma Estação central da electricidade que não sabemos quando terá sido construída e também não parecia ser geradora de electricidade dada a ausência de chaminés.
Os equipamentos do porto precisavam de energia mas por exemplo os seus primeiros guindastes e que foram instalados cerca de 1899 funcionavam a vapor. Por volta desse ano o porto era iluminado e parecia não ser a gás mas pela data podia estar já a receber electricidade da central da CGd'E.
Sabemos no entanto que mais tarde o porto tentou autonomizar o fornecimento da energia eléctrica de que necessitava tendo em 1908 feito um contrato particular com a companhia DBDC para ser abastecido a partir da sua central da Av. 24 de Julho, Sabemos também que pelo menos a partir de 1922 o porto e caminhos de ferro passaram a ter uma central geradora própria.
2. Grande plano na conhecida foto
Vejemos com mais detalhe a fábrica que se concluiu ser a central geradora da CGd'E vista para nordeste por trás do Mercado Municipal / Bazar Vasco da Gama no que acaba por ser a sua foto mais completa.
FOTO 1 (grande plano sobre a central geradora)
Três pavilhões, uma chaminé alta e a branco: uma torre mais baixa |
Esta foto é de entre a data em que o Mercado/Bazar foi inaugurado (dúvida se foi em 1901 ou 1903) e 1910, o ano em que a monarquia foi abolida (aparece nesta foto completa a sua bandeira). Como referências de local temos o telhado do Mercado no canto inferior direito e a encosta da Maxaquene para a alta da cidade para o fundo.
A branco vê-se o que parece ser uma torre de refrigeração de forma cilíndrica. O pavilhão mais alto que se vê do lado direito e ficava face à Av. Central, depois Manuel de Arriaga e actual Marx parecia ter o topo virado a sul aberto pelo que se estava a ver a esrutura mas não se pode ter a certeza. Na foto melhor do escritório da CGd'E vê-se o mesmo lado desse pavilhão e estava emparedado.
A branco vê-se o que parece ser uma torre de refrigeração de forma cilíndrica. O pavilhão mais alto que se vê do lado direito e ficava face à Av. Central, depois Manuel de Arriaga e actual Marx parecia ter o topo virado a sul aberto pelo que se estava a ver a esrutura mas não se pode ter a certeza. Na foto melhor do escritório da CGd'E vê-se o mesmo lado desse pavilhão e estava emparedado.
3. Funcionamento duma central geradora (física para "tótós")
Vejamos o esquema e princípios de funcionamento duma central geradora movida a vapor de água gerado por combustão de carvão, para se compreender os elementos constitutivos da fábrica junto ao mercado e que se vêm em cima (mas vê-se só os do exterior).
Esquema de central geradora com o circuito do vapor (branco) e o da água (azul)
Falemos primeiro da necessidade de arrefecer o vapor numa central o que pode parecer paradoxal pois na central faz-se um grande esforço para o aquecer queimando o carvão nas fornallhas das caldeiras. O vapor ao ar livre é formado quando a água aquecida entra em ebulição a 100 graus (ferve). Para se continuar a criar vapor e por isso manter a sua pressão é preciso subtituir a água evaporada por água adicional e quanto mais quente estiver a fornalha mais rápidamente a nova água aquece, cria vapor e por isso aumentará a sua pressão se estiver num circuito fechado (na física há outro princípio de que quanto maior for a pressão menor será a temperatura de ebulição da água mas a pressão do vapor na central tem tendência a baixar porque ele circula para a turbina logo depois de ser criado e por isso a central não beneficia dessa baixa da temperatura de ebulição que está na base do funcionamento das "panelas de pressão").
O vapor de água a alta pressão é injectado à entrada da turbina fazendo-a rodar. Quanto maior for a diferença de pressão entre a entrada e a saída da turbina mais rápidamente circulará o vapor pela turbina e mais rápidamente esta rodará. O vapor ao passar pela turbina e ao fazer rodar as suas palhetas perde energia / pressão / calor mas chega ao fim da turbina ainda com pressão. Aí bloqueiaria a entrada de novo vapor necessário para assegurar a continuação da rotação da turbina. Então para que novo vapor tenha "caminho livre" para passar pela turbina, à saída desta coloca-se um condensador que transforma em água (baixa a pressão do vapor para zero se o transformar tuodo) o vapor que acabou de mover a turbina.
Se o condensador não for eficaz, haverá pressão à saída da turbina e para fazer o vapor circular será preciso aumentar a pressão do vapor à entrada. Se quisermos gerar uma certa quantidade de energia eléctrica na máquina geradora teremos de fazer caldeiras mais resistentes à alta pressão e que por isso serão mais caras. Mas principalmente teriamos de fazer mais vapor à entrada aquecendo mais água na caldeira e por isso consumindo mais carvão na central ( e aumentar a quantidade de água disponível partindo já do princípio que esta é reutilizada ao fim do seu circuito)
O princípio de funcionamento do condensador é que para se arrefecer o vapor à saída da turbina este tem de encontrar uma superfície fria, o que se consegue por exemplo se esta superfície estiver em contacto com água fria. Quer dizer dum lado da parede do condensador - que tem de ser boa transmissora de calor (metal) - está o circuito do vapor (branco no esquema) e do outro está o circuito da água (azul no esquema) para arrefecimento do vapor. Esse vapor e a água de arrefecimento nunca entram em contacto directo, so há transmissáo de calor entre eles através das paredes (placas) do condensador. De facto há máquinas em que os dois líquidos utilisados são diferentes pois o que circula no circuito branco precisa de se transformar em vapor a baixa temperatura e o que circula no circuito azul precisa de absorver fácilmente o calor no condensador. A água é uma solução económica de compromisso.
É então preciso que água fria circule pelo condensador, essa água no condensador receberá o calor do vapor (que está noutro circuito do lado oposto da placa) e aquecerá pelo que essa água terá de ser forçada a circular por uma bomba para deixar entrar nova água fria e manter baixa a temperatura no condensador e como vimos manter baixa a pressão à saída da turbina.
A água que era fria e aqueceu no condensador não pode lá continuar nem lá voltar imediatamente e para não se estar sempre a consumir nova água vai-se arrefecê-la. Esse arrefecimento é feito na torre de arrefecimento pelo contacto dessa água ainda "morna" com o ar frio. Pode-se arrefecer doutras maneiras mas por exemplo em zona urbana ou suburbana normalmente não há espaço para espalhar essa água "morna" em lagos à volta da central e as torres são mais prácticas.
No esquema de cima a máquina a vapor era uma turbina mas os modelos iniciais de geradores usvam motores de cilindros a vapor que também precisavam de condensador
O vapor de água a alta pressão é injectado à entrada da turbina fazendo-a rodar. Quanto maior for a diferença de pressão entre a entrada e a saída da turbina mais rápidamente circulará o vapor pela turbina e mais rápidamente esta rodará. O vapor ao passar pela turbina e ao fazer rodar as suas palhetas perde energia / pressão / calor mas chega ao fim da turbina ainda com pressão. Aí bloqueiaria a entrada de novo vapor necessário para assegurar a continuação da rotação da turbina. Então para que novo vapor tenha "caminho livre" para passar pela turbina, à saída desta coloca-se um condensador que transforma em água (baixa a pressão do vapor para zero se o transformar tuodo) o vapor que acabou de mover a turbina.
Se o condensador não for eficaz, haverá pressão à saída da turbina e para fazer o vapor circular será preciso aumentar a pressão do vapor à entrada. Se quisermos gerar uma certa quantidade de energia eléctrica na máquina geradora teremos de fazer caldeiras mais resistentes à alta pressão e que por isso serão mais caras. Mas principalmente teriamos de fazer mais vapor à entrada aquecendo mais água na caldeira e por isso consumindo mais carvão na central ( e aumentar a quantidade de água disponível partindo já do princípio que esta é reutilizada ao fim do seu circuito)
O princípio de funcionamento do condensador é que para se arrefecer o vapor à saída da turbina este tem de encontrar uma superfície fria, o que se consegue por exemplo se esta superfície estiver em contacto com água fria. Quer dizer dum lado da parede do condensador - que tem de ser boa transmissora de calor (metal) - está o circuito do vapor (branco no esquema) e do outro está o circuito da água (azul no esquema) para arrefecimento do vapor. Esse vapor e a água de arrefecimento nunca entram em contacto directo, so há transmissáo de calor entre eles através das paredes (placas) do condensador. De facto há máquinas em que os dois líquidos utilisados são diferentes pois o que circula no circuito branco precisa de se transformar em vapor a baixa temperatura e o que circula no circuito azul precisa de absorver fácilmente o calor no condensador. A água é uma solução económica de compromisso.
É então preciso que água fria circule pelo condensador, essa água no condensador receberá o calor do vapor (que está noutro circuito do lado oposto da placa) e aquecerá pelo que essa água terá de ser forçada a circular por uma bomba para deixar entrar nova água fria e manter baixa a temperatura no condensador e como vimos manter baixa a pressão à saída da turbina.
A água que era fria e aqueceu no condensador não pode lá continuar nem lá voltar imediatamente e para não se estar sempre a consumir nova água vai-se arrefecê-la. Esse arrefecimento é feito na torre de arrefecimento pelo contacto dessa água ainda "morna" com o ar frio. Pode-se arrefecer doutras maneiras mas por exemplo em zona urbana ou suburbana normalmente não há espaço para espalhar essa água "morna" em lagos à volta da central e as torres são mais prácticas.
No esquema de cima a máquina a vapor era uma turbina mas os modelos iniciais de geradores usvam motores de cilindros a vapor que também precisavam de condensador
Temos então no exterior duma fábrica movida a vapor quase sempre:
1. uma chaminé donde se vê sair o fumo da combustão do carvão para aquecer água e criar vapor a alta pressão para o circuito de vapor. Esse fumo é escuro pois contém CO2 mais algumas cinzas e por isso a chaminé que tem de ser alta para não poluir as casas em redor. ;
2. uma torre para arrefecimento da água do circuito da água do condensador donde se vê a sair um fumegar do calor. A torre tem no interior uma serpentina por onde a água circula maximizando o seu contacto (via parede da serpentina) com o máximo de ar fresco possível.
1. uma chaminé donde se vê sair o fumo da combustão do carvão para aquecer água e criar vapor a alta pressão para o circuito de vapor. Esse fumo é escuro pois contém CO2 mais algumas cinzas e por isso a chaminé que tem de ser alta para não poluir as casas em redor. ;
2. uma torre para arrefecimento da água do circuito da água do condensador donde se vê a sair um fumegar do calor. A torre tem no interior uma serpentina por onde a água circula maximizando o seu contacto (via parede da serpentina) com o máximo de ar fresco possível.
Se olharmos para a FOTO 1 vemos a chaminé alta e ao seu lado esquerdo o que pode ser a torre de arrefecimento. Na chaminé alta não há fumo à vista pelo que a fábrica ou não tinha começado a laborar, ou estava parada nesse dia, ou tinha sido desactivada ou estava muito vento.
Comparando a central da FOTO 1 com uma central actual (a carvão ou atómica) ou mesmo com a posterior central geradora da Avenida 24 de Julho, esta torre de arrefecimento seria minúscula mas a necessidade de arrefecimento depende da potência mecânica gerada e que depois é transformada em eléctrica e que nessa altura devia ser muito pequena (poucas centenas de kW cada). Neste periodo ainda da Monarquia (antes de 1910) a quase única utilização da electricidade era para iluminação pois ainda não havia muitos aparelhos ou máquinas movidas a electricidade. Por isso em muitas cidades quando se fez a electrificação instalaram-se também os carros eléctricos (e muitas vezes pela mesma companhia) pois o consumo destes era mais diurno contráriamente ao consumo de iluminação pública ou doméstica que era mais noturno, conseguindo-se assim que a central geradora tivesse uma carga mais ou menos constante. Quando o consumo de electricidade passou a ser mais uniforme ao longo do dia, haver eléctricos desse ponto de vista deixou de ter interesse o que justifica em parte o seu gradual desaparecimento nas cidades.
Comparando a central da FOTO 1 com uma central actual (a carvão ou atómica) ou mesmo com a posterior central geradora da Avenida 24 de Julho, esta torre de arrefecimento seria minúscula mas a necessidade de arrefecimento depende da potência mecânica gerada e que depois é transformada em eléctrica e que nessa altura devia ser muito pequena (poucas centenas de kW cada). Neste periodo ainda da Monarquia (antes de 1910) a quase única utilização da electricidade era para iluminação pois ainda não havia muitos aparelhos ou máquinas movidas a electricidade. Por isso em muitas cidades quando se fez a electrificação instalaram-se também os carros eléctricos (e muitas vezes pela mesma companhia) pois o consumo destes era mais diurno contráriamente ao consumo de iluminação pública ou doméstica que era mais noturno, conseguindo-se assim que a central geradora tivesse uma carga mais ou menos constante. Quando o consumo de electricidade passou a ser mais uniforme ao longo do dia, haver eléctricos desse ponto de vista deixou de ter interesse o que justifica em parte o seu gradual desaparecimento nas cidades.
4. Mapas com "Elect" no quarteirão da central acima do Mercado Municipal
Começamos pelo mapa A. de 1903 mais ou menos contemporâneo da FOTO 1 olhando para o quarteirão acima = para norte do do Mercado Municipal (MM) e onde estava a central como se vê nessa foto.
A. Mapa de 1903
Presumo que o mapa A. fazia referência à Compagnie Générale d'Eléctricité.
O mapa B. de 1906 e actualizado em 1910 seguinte mostra que nesse quarteirão havia uns "works" (pode significar serviços ou oficinas) mas não se percebe a palavra principal havendo algumas hipóteses para a palavra principal: (..) RATE; (..) CIDADE?; ELECTRICIDADE? + WORKS
Do lado direito está D4 L3 sem significado aparente (noto que com o quadrado vermelho mostro que não estava marcada a central da DBDC na Av. 24 de Julho, o que é estranho dado este mapa ter sido elaborado pela/para a DBDC mas ...).
A. Mapa de 1903
No local da fábrica acima do quarteirão do MMl estava escrito Compa.. Electric |
O mapa B. de 1906 e actualizado em 1910 seguinte mostra que nesse quarteirão havia uns "works" (pode significar serviços ou oficinas) mas não se percebe a palavra principal havendo algumas hipóteses para a palavra principal: (..) RATE; (..) CIDADE?; ELECTRICIDADE? + WORKS
Do lado direito está D4 L3 sem significado aparente (noto que com o quadrado vermelho mostro que não estava marcada a central da DBDC na Av. 24 de Julho, o que é estranho dado este mapa ter sido elaborado pela/para a DBDC mas ...).
B. Mapa de 1906 - 1910
Dentro do rectângulo laranja, quarteirão acima do "new market": Hipóteses vagas para a palavra principal: (..) RATE; (..) CIDADE?; ELECTRICIDADE? + WORKS |
No mapa C. seguinte que será de cerca de vinte anos depois da FOTO 1 e do mapa A. de 1903 era indicado que as instalações nesse quarteirão eram da DBDC. Esta companhia na altura era a concessionária da água, telefones e carros eléctricos e a partir de 1910 tinha tomado conta da concessão de electricidade que tinha pertencido à CGd'E.
C. Mapa de 1925/26
DBDC = Delagoa Bay Development Corporation Mercado Municipal no quarteirão imediatamente a sul |
5. A rua da Electricidade
Como podemos ver nos três mapas de cima a rua da Electricidade estava alinhavada no mapa A. de 1903 e aparece claramente representada no mapa C. de 1925/26 onde era a única via de ligação nesta zona ao fim da encosta da alta para a Baixa da cidade e entre as actuais Avs Marx e Magaia, antiga Paiva Manso porque a Av. Fernão de Magalhães não existia (estava planeada no mapa de 1925/26).
Essa pequena rua que se continua a chamar Rua da Electricidade pode-se ver neste mapa dos anos 40-50 confirmando-se passava pela esquina a norte da central geradora.
Rectângulo azul: edifícios da central geradora, aproximadamente
Círculo preto = posição da chaminé da central olhando para a FOTO 1
Linha azul: rua da Electricidade
Verde: Mercado Municipal
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Como a central funcionou até 1912 e pelos mapas não se sabe que a rua já existia nessa altura pode ser que o baptismo da rua da Electricidade tenha sido feito quando a central geradora já não funcionava no local. Mas como se pode ver no mapa C. de 1925/26 o local continuou a pertencer à companhia de electricidade e deve ter mantido elementos da rede eléctrica pelo que o nome pode ter sido dado à rua em relação à actividade nolocal pós central geradora mas de facto não podemos ter a certeza.
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