Como já disse, há arquivo da USC bastantes fotos sobre a Missão Suíça (agora DM Exchange et Mission da igreja reformista presbiteriana) que me parece foi pioneira na evangelização cristã nos territórios do antigo distrito de Lourenço Marques (LM) a sul do estuário na altura do Espírito Santo, actual de Maputo. Estas fotos são interessantes porque mostram as gentes nativas e os europeus, os pouco e rudimentares edifícios e esses locais há mais de cem anos de forma quase única. Como as legendas são bastante informativas (dão os nomes dos locais e dos missionários, para além da descrição do que se pode observar) podemos relacionar muitas delas. Grande senão das fotos são os pixels muito reduzidos e as datas na maior parte dos casos com períodos muito largos, por isso imprecisas. Uma dos aspectos que poderia ser analisado pelos especialistas em fotografia é quais as fotos que foram feitas em pose demorada e quais as que, devido à melhoria na sensibilidade de filmes, puderam ser já mais naturais e serão por isso mais recentes.
Ao tempo da foto de baixo e de muitas que serão aqui mostradas havia ainda a Missão Romanda que foi uma antecessora da Missão Suíça (história aqui a propósito da sua estação principal no lugar de Khovo em LM).
FOTO 1
Missão Romanda - Capela / Igreja em Tembé com um pequeno campanário |
Como diz a legenda o edifício era em Tembé localidade que aparece num mapa no site da Universidade do Illinois, do qual mostro em baixo a sua secção inferior.
Como não se consegue detectar nesta carta a estação (da missão) de Makulane referida na FOTO 2 procurei por ela em mapas recentes e encontrei uma lagoa denominada Maculane perto da fronteira sul de Moçambique com a África do Sul, pelo que assumo que os missionários da FOTO 2 se estivessem a deslocar para uma estação da sua missão nessas redondezas.
Para mais essa lagoa fica na margem norte do Rio Maputo e há fotos no arquivo da USC de Makulane que associam essa estação a esse rio. Para ser preciso nelas é referido o rio Great Usutu ou Usuthu mas deve tratar-se aí já do rio Maputo (zona vista aqui) pois o Great Usutu, depois de constituir fronteira natural ao sul de Moçambique, quando está já completamente dentro do que foi definido como Moçambique e já recebeu as águas do afluente Pongole (também Pongolo ou outras variantes) passa a chamar-se Rio Maputo. Mas talvez ao tempo destas fotos esse nome não estivesse bem estabelecido tal como o traçado da fronteira, como foi referido no citado artigo do HoM em que se se podem ver mais fotos desses rios e locais (no site do ACTD há mais).
Concluindo é muito possível que a estação de Makulane (Maculane) da Missão Suíça referida para a FOTO 2 fosse mesmo ao sul de Moçambique e que esteja marcada algures no mapa de cima, mas ...
Eis uma das fotos associando Makulane ao rio Great Usutu/Usuthu/Maputo e veremos esta mesma estação em grande detalhe no artigo seguinte:
Secção inferior de MAPA BOREL (clique para aumentar)
Como se pode imaginar o trajecto de Lourenço Marques para sul até à costa de Tembe na direcção da Ponta Mahone (Maone) era feito em barco à vela tradicional. Há algumas fotos no arquivo da missão com veleiros desses no estuário do Espírito Santo e a legenda da seguinte informava que os missionários iam para Makulane, uma localidade que veremos depois tal como Tembé ficava para o sul do estuário e obrigava à sua travessia se se seguisse o trajecto mais directo.
Ao sul de Lourenço Marques vemos Tembé (jim).
O tracejado significa que era acessivel a pé
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A estação de Tembé ficava para sul do que agora é a Catembe (Ka Tembe) que não aparecia no mapa onde para além da estação só aparece "pirâmide" que devia ser a marca para a navegação na baía de que se falou aqui e "Mapai" que não encontro nos mapas actuais. A região chamada Tembe (o acento no "é" terá importância?) que devia ser um regulado devia então ter população dispersa e suponho que as localidades actualmente mais importantes da Catembe e Bela Vista que fica mais para sul devem ter sido criadas depois pelo planeamento português. Nas imagens actuais de Google Earth entra a Catembe e a Bela Vista não encontro nada que pareça ser consequência desta estação de Tembé de há mais de 100 anos mas é capaz de existir..
O mapa de cima é específico da Missão Suíça pois mostra as suas estações (missões) e como a maioria devia ser em sítios remotos indica os caminhos que os missionários tinham de seguir. Foi desenhado pelo missionário A. Grandjean em 1892/93 mas no canto inferior esquerdo é mencionado um Borel (na casa de ou na firma de?) que talvez fosse um dos membros da igreja que fez muitas fotos de LM em 1907 (aqui na visita do Príncipe Real).
FOTO 2
Missionários suíços partindo para Makulane cerca de 1901 |
O MAPA BOREL tinha boa resolução mas não cobria a parte setentrional de Moçambique que ia de Tembé e até ao paralelo da fronteira actual de Moçambique com a África do Sul (Natal). Mas se repararmos bem no período de 1892/93 em que o mapa foi feito, essa fronteira ainda não estava bem delimitada pois esse trabalho luso - britânico - transvaaliano aconteceu só em 1896/97 como disse aqui. A fronteira que foi definida por estes poderes entre o sul de Moçambique e a África do Sul tem para o interior uma parte natural ao longo dum rio que veremos em baixo e depois mais para o litoral passa a ser uma linha recta paralela ao equador até ao mar.
Há outro mapa posterior ao de cima, com o território completo ao sul do Save do Moçambique actual onde estão sublinhadas as estações da Missão Romanda/Suíça mas a resolução disponível na net é ridícula e por isso não se percebe porque a DMO se dá ao trabalho de o divulgar se o seu objectivo for que alguém estude estes assuntos.
Há outro mapa posterior ao de cima, com o território completo ao sul do Save do Moçambique actual onde estão sublinhadas as estações da Missão Romanda/Suíça mas a resolução disponível na net é ridícula e por isso não se percebe porque a DMO se dá ao trabalho de o divulgar se o seu objectivo for que alguém estude estes assuntos.
CARTA TRANSVAAL E DISTRITO DE LM
Vermelho: presumo que a estação de Tembé, baseando-me no mapa anterior Makulane: não se consegue ver essa missão marcada na carta |
Para mais essa lagoa fica na margem norte do Rio Maputo e há fotos no arquivo da USC de Makulane que associam essa estação a esse rio. Para ser preciso nelas é referido o rio Great Usutu ou Usuthu mas deve tratar-se aí já do rio Maputo (zona vista aqui) pois o Great Usutu, depois de constituir fronteira natural ao sul de Moçambique, quando está já completamente dentro do que foi definido como Moçambique e já recebeu as águas do afluente Pongole (também Pongolo ou outras variantes) passa a chamar-se Rio Maputo. Mas talvez ao tempo destas fotos esse nome não estivesse bem estabelecido tal como o traçado da fronteira, como foi referido no citado artigo do HoM em que se se podem ver mais fotos desses rios e locais (no site do ACTD há mais).
Concluindo é muito possível que a estação de Makulane (Maculane) da Missão Suíça referida para a FOTO 2 fosse mesmo ao sul de Moçambique e que esteja marcada algures no mapa de cima, mas ...
Eis uma das fotos associando Makulane ao rio Great Usutu/Usuthu/Maputo e veremos esta mesma estação em grande detalhe no artigo seguinte:
FOTO 3
Desembarcadouro em Maculane (pelo que a estação dos missionários não deveria ser longe daqui) |
A legenda da FOTO 3 (adaptada) era: em Makulane fotografia de um grupo de homens, mulheres e crianças à beira do Grande Usutu por ocasião da partida de um grupo de missionários para Gabeni. Da esquerda para a direita, no barco, Luisita Molina e Marion Lenoir, na canoa/piroga, Samuel Bovet. Na margem, à direita, crianças da escola e de ascendência africana. Ao fundo, o rio e a margem oposta.
É aí referida uma nova localidade - Gabeni (aqui numa foto mostrando que ficava também na margem do Great Usutu/Rio Maputo) - que presumo não devia ficar longe de Maculane pois o barco das missionários não tem vela - e onde é provável que houvesse outra estação da Missão Suíça. Mas não consigo localizar essa Gabeni nem em mapas actuais nem no segundo mapa de cima.
Mais duas fotos de Lenoir com barcos e missionários no mesmo rio, à esquerda deve ser a sua esposa com várias malas de viagem:
Como se pode ver nestas fotos o rio tinha grande caudal e junto a Makulane / Maculane havia um desembarcadouro o que leva a crer que a navegação fluvial fosse aí comum mas não sei se seria possível vir pelo rio de LM até aí. De qualquer modo vendo nestes três casos concretos os barcos a ser movidos com o pau no fundo, presumo que estas viagens se limitariam a atravessar o rio duma margem para a outra seguindo depois a pé ou nos carros de bois. É isso que se mostra na foto seguinte:
Noto que o missionário David Paul Lenoir fotografado na foto de cima em 1901/1907 foi o autor de muitas da fotos que constam do arquivo da USC.
Veremos mais imagens do mesmo tipo da FOTO 5 noutro artigo sobre as deslocações de missionários feitas por terra para o/ a sul do estuário de LM.
Uma foto de Madame Lenoir numa aldeia da zona em postal que esteve à venda no site delcampe.net:
Sobre a presença de missionários estrangeiros e protestantes em terras de Maputo / Tembe escreveu o Padre Gonçalves no Portugal Missionário em 1928 entre muita coisa o seguinte relativo a cerca de 1906: "A êste tempo a missão Suíça, tinha missionários europeus instalados na Catembe, Djino Boy, em Matutuine, Medihisa e em Catuane. Cada um dos missionários era auxiliado, na sede das suas missões, por uma missionária europeia, que dirigia, na séde, os trabalhos escolares; os trabalhos religiosos e a direcção superior das escolas indígenas, que eram ás dezenas e regidas por professores catequistas indígenas, adrede (de propósito) preparados, quer pelas missões citadas quer por outras, eram dirigidas por aqueles missionários. À acção dos missionários suissos, para o quadro ficar perfeito, temos a acrescentar a dos missionários ingleses e americanos, que tinham uns e outros, no Catembe e em terras do Mahlungulo, o seu director europeu, dirigindo dezenas e dezenas de professores catequistas indígenas, educados quer numa escóla-chefe que tinham nos Libombos, quer em outra que existia no Transvaal. O número de escólas-igrejas, no Maputo, pertencentes a missões estrangeiras, elevava-se a perto de cento e cincoenta ! ! E qual o número de escolas indígenas da missão portuguesa? Resumia-se apenas a sete!"
Mais duas fotos de Lenoir com barcos e missionários no mesmo rio, à esquerda deve ser a sua esposa com várias malas de viagem:
FOTO 5
"Mr and Mrs Lenoir on a journey. The road to Makoulane [Makulane]" |
Veremos mais imagens do mesmo tipo da FOTO 5 noutro artigo sobre as deslocações de missionários feitas por terra para o/ a sul do estuário de LM.
Uma foto de Madame Lenoir numa aldeia da zona em postal que esteve à venda no site delcampe.net:
FOTO 6
Mme Lenoir nas cercanias de Makoulane |
Sobre a presença de missionários estrangeiros e protestantes em terras de Maputo / Tembe escreveu o Padre Gonçalves no Portugal Missionário em 1928 entre muita coisa o seguinte relativo a cerca de 1906: "A êste tempo a missão Suíça, tinha missionários europeus instalados na Catembe, Djino Boy, em Matutuine, Medihisa e em Catuane. Cada um dos missionários era auxiliado, na sede das suas missões, por uma missionária europeia, que dirigia, na séde, os trabalhos escolares; os trabalhos religiosos e a direcção superior das escolas indígenas, que eram ás dezenas e regidas por professores catequistas indígenas, adrede (de propósito) preparados, quer pelas missões citadas quer por outras, eram dirigidas por aqueles missionários. À acção dos missionários suissos, para o quadro ficar perfeito, temos a acrescentar a dos missionários ingleses e americanos, que tinham uns e outros, no Catembe e em terras do Mahlungulo, o seu director europeu, dirigindo dezenas e dezenas de professores catequistas indígenas, educados quer numa escóla-chefe que tinham nos Libombos, quer em outra que existia no Transvaal. O número de escólas-igrejas, no Maputo, pertencentes a missões estrangeiras, elevava-se a perto de cento e cincoenta ! ! E qual o número de escolas indígenas da missão portuguesa? Resumia-se apenas a sete!"
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