Jardim botânico, actual Tunduru: estufa, no exterior parte 2 (38/)

Continuando o tema deste artigo, a foto que se segue é de Harrison Forman e do site da Universidade de Wisconsin Milwaukee (UW-M) e da primeira metade de 1961.

FOTO 1 (ver completa aqui)
Vista do edifício Tonelli sobre o jardim para a Baixa de Lourenço Marques

Relembro aqui a foto com que tinhamos concluído o artigo anterior e com vista muito semelhante à da de cima.

FOTO 2
Azul: pavilhão longo de estufa que foi agora "reabilitado"
Rosa: telhado do pavilhão agora "reabilitado" pouco inclinado
Preto: desenho nas ripas na fachada
Laranja: traseira da Vila Jóia
Roxo: telhado do edifício do escritório do jardim, antiga casa do caseiro
Vermelho: Scala visto pela traseira
Como a FOTO 1 é de 1961 em princípio não deveria apresentar grandes diferenças em relação à FOTO 2 que é de 1964 ou (pouco) posterior, sendo o enquadramento físico e até vegetal quase similar nas duas. Mas onde estava o edifício da estufa na foto de 1961? 
O pavilhão longo da estufa actual na FOTO 2 começa à esquerda = para leste da direcção do edifício do escritório (antiga casa do caseiro) e nessa direcção na FOTO 1 vê-se muita vegetação. Mas para a direita e para lá desse edifício os mais atentos notarão um telhado de duas águas muito inclinado e totalmente coberto de vegetação, que vai da fachada lateral a leste para oeste. Essa seria a estufa em 1961 e concluímos daqui que o pavilhão longo actual da estufa que é o da FOTO 2, em relação a ele era mais alongado na direcção este-oeste e de telhado muito menos inclinado e por isso foi construído depois do início de 1961, a data da FOTO 1.
Nos mapas dtese de doutoramento de Lisandra Franco de Mendonça (LFM) esta evolução pode ser observada em geral pois temos a situação de 1946 que equivalerá à da FOTO 1 e a de 1998 que equivalerá à da FOTO 2

Pormenores de plantas de 1946 (página 403) e 1998 (página 407)
Verde: presumo que seria a estufa "camuflada" da FOTO 1 
porque está em posição semelhante e individualiza-se do resto na zona
Azuis: estufas da FOTO 2, o pavilhão longo é o que vimos no artigo anterior
Carmesim: entradas da do pavilhão longo actual da estufa
Roxo: escritório que fica para norte do caminho principal, comum nas duas plantas
Laranja: Vila Jóia, comum nas duas plantas
Amarelo: caminho principal, comum nas duas plantas

Com estas duas plantas conclui-se que a estufa antiga (verde) estava acima do caminho principal o que não era fácil de observar na FOTO 1 mas parece razoávelmente plausível. Quando se construiu a estufa actual a antiga terá sido demolida e esse espaço passou a estar livre e continuou assim até agora. 
Não considerendo a legenda da planta de 1946, olhando para a FOTO 1 de 1961 não é claro o que estaria na zona do "9", se haveria estufa, pérgolas ou canteiros pois parece uma grande área ocupada por elementos do mesmo tipo. Mas tudo o que teria por aí existido terá desaparecido quando a nova estufa foi por aí construída (depois de 1961) tendo o lado a leste desta ficado alinhado com a frente do edifício do escritório.
Não sei se a estufa "camuflada" da FOTO 1 seria a inicial do jardim porque não sei em que ano essa foi construída nem qual terá sido o seu desenho.
Sobre a estufa moderna de notar ainda que a planta de 1998 com as marcas azuis mostrava só dois pavilhões sendo o de entrada mais longo mas muito mais estreito que o outro colocado mais abaixo na encosta (ver actualmente aqui no google maps ao centro). Também de notar que a FOTO 2 mostra só o pavilhão mais a norte da estufa actual pelo que os outros, situados mais para baixo na encosta, terão sido construidos em fase(s) posteriore(s) na zona onde se viam palmeiras. 
Para complementar o que se pode deduzir a partir das fotos disponíveis do exterior da(s) estufa(s) o que é sempre limitado, transcrevo agora com a devida vénia as páginas 404 e 405 na tese de doutoramento de Lisandra Franco de Mendonça (LFM) escrita cerca de 2013/14 e intitulada "Conservação da Arquitetura e do Ambiente Urbano Modernos - A Baixa de Maputo". 
"A estufa/laboratório de feição modernista era constituída por uma estrutura mista de ferro e betão (coberta com treliças de ferro e painéis translúcidos, de onde pendiam candeeiros de vidro) e forrada com um ripado de madeira pintado de verde. A estufa desenvolve-se em vários níveis e conta com um arranjo paisagístico sofisticado, onde se destacam uma fonte com cascata, um espelho e percurso de água, vários percursos em calçada portuguesa e uma escultura em mármore de Carrara de Leopoldo de Almeida de 1971. O interior tinha os pavimentos em calçada portuguesa em muito bom estado, os lagos (à exceção de um) e a cascata estavam secos mas os revestimentos estavam em bom estado mas não tinha podido apurar o estado dos mecanismos de alimentação e saída de água. A escultura estava intacta. As paredes mantinham-se revestidas a ripado de madeira (com várias lacunas) e a estrutura de betão não acusava fissuras de nota ou assentamentos, notando-se sobretudo na cobertura a falta de placas translúcidas e a corrosão das traves. 
Ainda sobre o estado da estufa antes da reabilitação, na página 406, como legenda da Figura 213 LFM escreveu: "Os pavimentos em calçada portuguesa estavam em muito bom estado no final de 2013, os lagos (à exceção de um) e a cascata estavam secos mas os revestimentos estavam em bom estado (não pude apurar o estado dos mecanismos de alimentação e saída de água). A escultura de Leopoldo de Almeida estava intacta. As paredes mantinham-se revestidas a ripado de madeira (com várias lacunas) e a estrutura de betão não acusava fissuras de nota ou assentamentos, notando-se sobretudo na cobertura a falta de placas translúcidas e a corrosão das traves".
Isto sobre o que existia antes de reabilitação e grande parte do que LFM disse pode ser observado nas fotos destes dois últimos artigos e do que o complementará sobre o interior. No artigo seguinte transcreveremos o texto de LFM relativo ao projecto de reabilitação e também a análise à sua execução (página 368 da tese) pelo menos até ter atingido uma fase adiantada. Da estátua trataremos em artigo separado. 

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