Depois de falarmos do projecto em geral e da fachada do «Teatro Manuel Rodrigues» (TMR) de Lourenço Marques, actual Cine África de Maputo, continuamos a adaptação do livro de António Rosado "Uma Obra" e publicado em 1958:
"As casas de espectáculo destinadas a teatro e cinema seguem o processo clássico com a plateia, e, sobrepondo-se-Ihe, do meio para o fim, o balcão e camarotes. O TMR foge a essa regra, pois o balcão nào é mais do que o prolongamento da plateia, da quaI se separa apenas por um corredor. E assim, porque o balcão segue o pIano inclinado natural do pavimento, a visibilidade é perfeita de todos os lugares e é reduzida ao mínimo a possibilidade dos que entram nas coxias, e por elas caminham, interceptarem a visão de quem já está sentado. Um outro conforto, sábiamente resolvido na construção deste teatro, é haver duas coxias centrais e duas outras junto às paredes laterais da sala, o que permite a melhor distribuição dos espectadores, saída mais rápida e diminuição considerável do incómodo que sempre provoca quem chega depois a quem está no seu lugar e tem de lhe dar passagem."
"A lotação do teatro é limitada a 1.359 espectadores assim distribuidos: 960 na plateia; 347 no balcão e 52 repartidos pelos 10 camarotes. O palco é dotado da mais moderna instalação eléctrica (HOM: refere-se à iluminação), própria para dar aos espectáculos todas as cambiantes de luz que forem precisas. As suas medidas, na largura, altura e profundidade, são respectivamente de 26, 20 e 13 metros. E nele há um pavimento desmontável e aparelhagem própria para a colocação simultânea de dezenas de cenários.
Para que o conforto do público seja total, que o ar que respire seja puro o TMR está equipado com a mais moderna aparelhagem de renovação, arrefecimento e extracção de ar. Atirados por condutas especiais, que circundam o edificio entram na sala de espectáculos, salões, átrio e cabinas, através dessa aparelhagem, 24.800 pés cúbicos de ar por minuto que são primeiramente purificados ao passarem por filtros especiais. Imediatamente, outra aparelhagem de extracção, instalada no teto, aspira todo o ar viciado, lançando-o para o exterior. Isto é, o ar que se respira dentro do TMR é puro.
Um dos pontos capitais na construção de qualquer teatro é a acûstica da sala de espectáculos. Nào se compreende, nos dias de hoje, em que esta ciência atingiu um notável grau de desenvolvimento, que a audição seja deficiente, quer se trate de teatro ou de cinema. O espectador entra num teatro para ouvir aquilo que lhe dá e este objectivo tem de ser cabalmente atingido para que a peça, ou o filme, possam ser apreciados como merecem. Foi este um dos pontos mais cuidadosamente estudados na construçâo do novo teatro. A configuração da sala, o estilo das paredes, e do teto, os materiais aplicados, tudo foi devidamente concebido para que no conjunto se proporcionasse uma acústica perfeita."
Sobre a última parte da acústica tinhamos dito que para a construção do novo Teatro Gil Vicente esse foi um aspecto novo a ter em conta, para o TMR já devia haver muito mais experiência no desenho de salas para o cinema sonoro.
Imagens relacionadas com este texto começando pelas fotos mais ou menos recentes
Foto tirada do balcão, confirmando-se que segue o plano inclinado da plateia |
Plateia da sala (com algumas cadeiras partidas)
Agora fotos de até 1958 reproduzidas do livro "A Obra":
Conclusão um tanto surpreendente comparando estas imagens de "A Obra" com as recentes é que os grandes quadros em relevo de aspecto art deco nas paredes laterais perto do palco não são originais, pelo que terão sido acrescentados depois de 1958, ano da publicação do livro. Até 1975 foram-no certamente, por isso a questão é quando isso terá acontecido e se terá havido mais alterações na sala nessa altura.
Foto tirada no sentido oposto às duas de cima e esta durante a sessão de inauguração do TMR em 1948:
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