Electricidade em LM - fundamentos, plano e imagens da rede (6/9)

Na sequência dos cinco anteriores desta série de artigos mais técnicos no HoM (último aqui) trataremos agora principalmente da rede de transporte e distribuição de electricidade no distrito de Lourenço Marques (LM), actual Maputo nos anos 60 e 70. 
Sumarizando o que vimos até aqui, a rede eléctrica de LM até 1947 era totalmente em Corrente Contínua (CC) primeiro com tensão de 110 V e depois de 220 V (pelo menos) e continuou-o a ser em predominância até 1959, embora pareça que pequenas áreas tivessem entretando sido modificadas para Corrente Alternada (CA). A partir de 1959 com a nova Central Térmica (CT I) no Infulene gerando CA, gradualmente começou a ser utilizada uma nova rede de distribuição em CA de 220 V monofásica  e 380 V trifásica adaptando-se também a rede antiga em CC para CA.  Em 1961 toda a rede era já em CA mas devido à avaria na CT I de 1961 a 1963 foi necessário retroceder para CC em certas áreas. Feita a reparação da CTI e adicionada a CT II também gerando CA, a partir de meados de 1963 toda a rede assou a ser e agora definitivamente em CA.
As fotos seguintes são relativas à rede em várias épocas e nas primeiras vemos um antigo posto dos SMAE no Alto-Maé dos anos 50/60 no antigo largo José Albasini (mapa) com este prédio ao fundo:

FOTO 1
Posto de seccionamento do Alto-Maé (PS 1, ver em baixo)
FOTO 2 
Vista mais distante do posto em 2013

Pode-se ver na FOTO 2 que havia obras para a frente e no Google Maps pode-se ver que daí resultou um edifício semelhante que poderá ser um novo posto mas pode-se ver boas imagens da zona em 2020, fotos de António Fernandes do Amaral no FB Alto-Maé e o posto antigo parece ter continuado isolado. 
Podemos localizar o posto das FOTOS 1 e 2 no esquema do Eng. Lino Pires que fazia parte do projecto-director da ampliação da rede eléctrica de LM  preparado pelos SMAE em 1968 e em que lhe destaco outros elementos interessantes:

PLANO DA REDE EM 1968
Azul: nova central térmica no Vale do infulene (CT I e CT II)
Vermelho: posto de seccionamento principal na antiga Praça dos Pioneiros
Laranja: posto de seccionamento 1 no Alto-Maé (o das FOTOS 1 e 2)
Verde claro: posto de seccionamento 7 na antiga central da Av. 24 de Julho
Verde escuro: seccionador na antiga central da Baixa
Castanho: Av. 24 de Julho, de oeste = esquerda a leste = direita da cidade

Dado que a primeira central geradora na parte alta da cidade foi estratégicamente instalada na parte central Av. 24 de Julho, a qual nos anos 10 e 20 era o limite a norte da cidade pelo menos na sua zona oeste = Alto-Maé, teria sido lógico que nessa fase inicial a rede eléctrica tivesse sido estruturada nessa avenida na direcção de oeste (Alto-Maé) a leste (Polana). Óbviamente o desenvolvimento futuro da rede teve de ter isso em conta e no plano da rede de 1968 nota-se ainda alguma concentração de postos de seccionamento ao longo da Av. 24 de Julho ou nas suas proximidades, apesar de novos bairros para norte e nordeste (Malhangalene, Carreira de Tiro, Sommerschield) terem exigido novos postos longe da estrutura inicial como se vê para a direita e cima do plano de 1968.
A ideia de que a Av. 24 de Julho continuava a ser estruturante na rede muito depois dos tempos iniciais parece confirmar-se pelo facto da nova central do Vale do Infulene se ter ligado à rede através dum posto de seccionamento principal em alta tensão colocado na antiga Praça dos Pioneiros. Esta praça fica precisamente no extremo a oeste da Av. 24 de Julho que nos anos 40/50 tinha sido prolongada nessa direcção ultrapassando a estrada da circunvalação no Alto-Maé. Mostrámos já um edifício nessa praça que pode bem ser da segunda metade dos anos 50, pode ser da EDM e pode continuar a ser usado na rede eléctrica e pode então ter albergado o posto de seccionamento principal da rede dos SMAE.
Ilustrando essa ideia, temos aqui imagens da rede de transporte e distribuição de electricidade de LM na Av. 24 de Julho, a da esquerda de cerca de 1929 e a da direita no máximo de 1936 pois ao fundo via-se ainda um carro eléctrico a circular. Os cabos da rede eléctrica iam no passeio lateral por isso estavam bem separados dos da alimentação dos carros eléctricos que iam junto ao separador central .

FOTOS 3 e 4
Rede eléctrica na Av. 24 de Julho vista de dois lados opostos da cidade
 ainda com a rede do carro eléctrico do lado oposto

Outro ponto relacionado com o peso da história no desenvolvimento da rede (onde não há "páginas brancas" a ser escritas) é ver-se no plano de 1968 que duas instalações importantes estav
am localizadas nas posições de antigas centrais. Isso aconteceria não só porque os SMAE tinham aí locais para acomodar instalações ulteriores mas também devido à estrutura das redes antigas e não seria fácil nem eficaz, técnica ou financeiramente, alterá-las para configurações e cabos e equipamentos radicalmente novos. O mesmo tinha já acontecido quando a central da Av. 24 de Julho substituiu a da Baixa e nesta im
agem já conhecida da primeira metade dos anos 30 podemos ver a rede eléctrica junto essa antiga central. 


FOTO 5
Vermelho: cabos atravessando a Av. Arriaga, actual Marx em direcção
ao local da antiga central perto da esquina dessa avenida com a Av. Manganhela
Vermelho: cabos ao longo da Av. Marx, antiga Manuel de Arriaga
que deviam estar a ser alimentados pela nova central da Av. 24 de Julho

E podemos ver a rede eléctrica do outro lado da Baixa na foto seguinte que mostra a descida da Av. Augusto de Castilho, actual Lenine a nascente do quarteirão do Jardim Botânico:

FOTO 6
Postes de electricidade à direita em frente à Vila Jóia. actual Tribunal

A FOTO 6 é anterior a 1920 pois não havia ainda o edifício da Capitania / Inamar ao fundo. A rede ao tempo das FOTOS 3 a 6 era operada pela Delagoa Bay Development Corporation (DBDC). Como já dissemos e baseando-nos na tese do Eng. Pimentel dos Santos (do Arquivo Histórico da Caixa Geral de Depósitos, Portugal - https://www.cgd.pt/Institucional/Patrimonio-Historico-CGD/Arquivo-historico/Pages/Arquivo-Historico.aspx - onde tem a cota MOB 402) ao fim da concessão em 1947 a rede reverteu para a Câmara Municipal (SMAE) em estado muito deficiente. Por isso nesse ano a Câmara Municipal lançou uma consulta para um ante-projecto que incluia a renovação da rede de distribuição e do sistema de iluminação e a construção da nova central geradora que iria para o Infulene, mas essa consulta acabou por ser anulada porque as autoridades em Lisboa decidiram separar o concurso para a nova central. No próximo artigo desta série veremos o que aconteceu em seguida, com uma descrição mais aprofundada da rede, suas condicionantes e evolução e com base no já referido artigo do Eng. Lino Pires de 1968.  

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