Electricidade em LM - rede até 1967 e planos do sistema até 1987 - Eng. Lino Pires.iii (7/9)

Aparelhagem e equipamento da rede eléctrica de LM 
Disjuntor e seccionadores em subestação nos anos 60 / 70
Continuando os artigos mais técnicos no HoM, na sequência do anterior falaremos da rede eléctrica de Lourenço Marques (LM), actual Maputo a partir do final dos anos 40 até ao seu planeamento no final dos anos 60. Tomaremos agora especialmente em conta o artigo do Eng. Lino Pires publicado no Boletim da Câmara Municipal (CM) de LM de Dezembro de 1968 sobre o projecto-director da ampliação da rede eléctrica de LM preparado pelos SMAE (cuja fonte é o Centro de Documentação e Informação do Instituto de Investigação Científica Tropical onde tem a cota CDI P3172). 
Subsequente à informação do Eng. Pimentel dos Santos de que em 1948 o concurso organizado pelos SMAE para a rede eléctrica tinha sido anulado por decisão das autoridades em Lisboa, a primeira informação do Eng. Lino Pires é que em 1952 e a partir de Lisboa iniciou-se novo concurso para fornecimento e montagem da rede ainda com base num estudo de cerca de 1942. Mas esse concurso de 1952 também foi anulado e abriu-se um novo em 1954 segundo um caderno de encargos actualizado e cujo contrato foi, depois de divergências entre recomendações das comissões avaliadoras, atribuído em 1956 à firma Justo Meneses (SEREL) para projecto e empreitada e com um horizonte de utilização de 15 anos.
Já depois dos trabalhos desse nova rede projectada pela SEREL se terem iniciado em 1957 e dado que a produção de energia tinha sido entretanto concessionada à SONEFE foi decidido utilisar um projecto desta companhia para a rede, apesar de que continuaria a ser dos SMAE a responsabilidade pela rede durante a vigência da concessão à SONEFE.
Em 1959 essa nova rede e que acabava por ser um misto dos projectos da SEREL (sua construção na fase inicial) e da SONEFE (sua construção subsequente) de concepções gerais distintas, estava prestes a entrar em funcionamento. Mas foi reprovada pela fiscalização das indústrias eléctricas por não cumprir as prescrições gerais dos regulamentos que exigiu uma total remodelação. Não fica bem esclarecido no artigo do Eng. Lino Pires o que se passou a seguir, mas parece que a solução para esta dificuldade foi que não se alteraria a rede já construída (o que seria difícil e dispendioso) mas que seriam preparados novos cálculos e documentação que possibilitassem por partes o licenciamento da rede, tarefa essa que foi progressivamente e com sucesso desempenhada pelos SMAE. 
Mais tarde, em 1963 já com as novas centrais térmicas (CT I e CT II) em funcionamento e a utilizar-se únicamente Corrente Alternada foi definido entre a SONEFE e os SMAE qual deveria ser o desenvolvimento da rede em alta e baixa tensão e que o projecto ficaria a cargo da SONEFE, situação que foi contractada em 1964. Foi aí definido que a intervenção mais prioritária na rede de alta tensão seria a instalação de mais três cabos subterrâneos (dois tinham sido instalados inicialmente) a partir da CT I e CT 2 e a 10.5 kV, que era a tensão de saída da CT I e que foi a adoptada para a CT II. Estes cabos alimentavam a partir da nova(s) central no vale do Infulene o posto de seccionamento principal na Malanga localizado junto à antiga Praça dos Pioneiros (estaria neste edifício?) a partir do qual feita era a distribuição em alta tensão à cidade do cimento para leste. 
Noto ainda que as CT I e II tinham também uma subestação onde os 10.5 kV de tensão produzida eram elevados em transformadores a 30 kV para abastecer as linhas para as localidades suburbanas da Matola, Machava e Mahotas e que vemos aqui usando duas fotos, tal como a de cima, reproduzidas do site da fundação edp:
Roxo: subestação das centrais térmicas do Vale do Infulene, parece-me que 
em duas fases diferentes dos final dos anos 50 ao início dos 70
Azul: zona industrial do Língamo com fábricas e depósitos de combustível
Seta verde clara: apontando para o lado da cidade de cimento
Podemos também ver noutra foto da fundação edp a subestação da Matola, neste caso com edifícios da residência do encarregado e do escritório e penso que nos anos 60:
Residência do encarregado, subestação eléctrica (transformador, 
posto de seccionamento?) e escritório da companhia na Matola
No âmbito do contracto para projecto da rede assinado em 1964 com a SONEFE e até finais de 1966, por isso já com a CT II em operação, foram efectuados novos estudos do desempenho de rede e de consumos de energia eléctrica e integrando a informação disponibilizada pela CM de LM sobre o seu planeamento urbano (residencial e industrial). Desse estudo resultou em 1967/68 a concepção geral da rede primária da cidade e do distrito de LM, a qual seria a 30 kV e do tipo radial. 
Esse plano daria continuidade ao que tinha já sido definido em 1964 como segunda prioridade nos trabalhos da rede de alta tensão e que seria a instalação na cidade das primeiras subestações de 10 MVA, com tensões de 30 kV/10.5 kV, que lembro inicialmente foi só usada para transporte para as zonas mais suburbanas. Em 1967/68 foi então escolhida a localização das primeiras cinco dessas subestações para serem instaladas de 1968 a 1979 (pelo que observo no plano uma junto ao reservatório de água junto aos Maristas, outra no bairro da COOP, outra no terreno do Hospital Central, outra na Baixa um pouco acima ou para nascente do mercado e outra que não consigo localizar). A partir daí a SONEFE, que como dissemos tinha em 1964 ficado responsável pelo projecto da rede (pelo menos de alta tensão), foi elaborando as condições técnicas e os cadernos de encargos para a ampliação da rede e foram sucessivamente abertos concursos públicos para o fornecimento de transformadores, cabos, equipamento de seccionamento, trabalhos de construção civil e montagem das sub-estações.
Provávelmente como resultado disso vemos ainda com fotos da fundação edp os trabalhos efectuados entre 1971 e 1972 de construção e instalação de edifício e equipamento eléctrico para a subestação da localidade do Infulene nos subúrbios da cidade e que fazia também a ligação em alta tensão à rede da África do Sul: 
Diversos elementos da subestação do Infulene em 1971/72
Como se referiu, o tema tratado pelo Eng. Lino Pires em 1968 e que se tentou resumir e interpretar aqui era o projecto director (ou seja o plano orientador a médio e longo prazo) do abastecimento de energia eléctrica a LM. Como ele dizia o seu objectivo era possibilitar que faseadamente se mantivesse a capacidade da rede (centrais geradoras, equipamentos de rede e cabos eléctricos) acima da necessidades do consumo, tendo em conta as disponibilidades financeiras do município/Estado. Como se viu esse plano director estava esquematizado em 1968 e prosseguiam os seus trabalhos de detalhe. Ressalvava o Eng. Lino Pires que o plano tinha de ser dinâmico pois estando nele abrangidos 20 anos para o futuro ele teria de ir sendo adaptado à evolução real do consumo e ao desenvolvimento urbano com essa grande antecipação. O Eng. Lino Pires estimava que o consumo no distrito de LM cresceria entre 1965 a 1987 a cerca de 9.2% em média ao ano na hipótese optimista defendida pelos SMAE. Em 1965 o consumo tinha sido de 78 milhões de kWh (compare-se com os 10.1 milhões de kWh produzidos em 1947 pela central da DBDC que foram referidos num artigo anterior) e era estimado nessa hipótese optimista que passasse a ser de 535 milhões de kWh em 1987. Era também incluída nos estudos uma hipótese modesta que era ainda assim de crescimento de cerca de 7.5% em média ao ano. 
Como é evidente as alterações revolucionárias na política e sociedade acontecidas em Moçambique a partir de 1974 e quase colapso da sua economia a seguir e por um longo período, alteraram por completo o contexto operacional e os parâmetros usados na preparação do plano director da rede de LM. Por isso ficamos sem (o pequeno prazer de) poder verificar se em condições "normais" de desenvolvimento da cidade e da sociedade luso-moçambicana se as hipóteses desse plano pelo menos a médio prazo teriam sido válidas ou não. A nível da produção de energia ficámos também sem saber como teria funcionado a concessão com a SONEFE nos seus 50 anos de prazo e que deveriam ter terminado em 2009.
Dando um salto para a realidade recente, em 2015 continuava a falar-se das restrições de fornecimento a algumas áreas do distrito de Maputo e a referir-se a algumas das instalações de que temos vindo a falar (produção no Infulene, sud-estações da Matola e Infulene, etc). Curiosamente esse artigo dizia que no Infulene, antiga SONEF (sic) estava instalado um grupo diesel, o que não tinha acontecido até 1970.
No próximo artigo continuaremos a falar da rede eléctrica principalmente olhando para fotos da cidade já conhecidas.

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