Casa nas Terras da Coroa de Lourenço Marques c. de 1890

O fotógrafo Manuel Romão Pereira (MRP) fez cerca de 1890 fotos referindo as Terras da Corôa e que estão acessíveis no ACTD. Esse nome é intrigante e fui prestando atenção ao que aparecia relacionado em relação a Moçambique e básicamente compreendi que ficavam em torno de Lourenço Marques (LM), actual Maputo e por informação do Boletim do Arquivo Histórico de Moçambique (boletim número 3) seria na zona das Mahotas entre LM e Marracuene e falámos mais disso especialmente no artigo sobre o posto de Anguane
Via-se nesta foto que a casa do residente era espartana, de madeira e zinco e assente em pilares para arejar e manter os insectos afastados. 


FOTO 1
Lourenço Marques - Casa do residente das Terras da Corôa
FOTO 2

Lourenço Marques - Um almoço nas Terras da Corôa

FOTO 3
Lourenço Marques - Landins começando as danças de guerra
A legenda da FOTO 3 no ACTD não a relaciona directamente com as outras duas e com as "Terras da Coroa" mas trata-se do mesmo local e acontecimento que presumo fosse um batuque em honra dos convidados do residente.  
Pelo que vejo parece-me que a disposição do local seria mais ou menos esta:
Castanho claro: barracão rectangular que se vê nas três fotos
Castanho escuro: casa do residente com varanda à frente da FOTO 1
Verde: árvores das três fotos
Roxo: audiência nativa e / ou futuros participantes no batuque nas três fotos
Preto: posição do grupo das cadeiras nas FOTOS 2 e 3
Vermelho: fila do batuque na FOTO 3

Azul: pau da bandeira (?) na FOTO 2
Quanto às pessoas europeias ao centro da clareira, na FOTO 2 aparecem mais do que na FOTO 3 mas deviam estar aí o residente e a sua esposa pois um bébé muito agasalhado estava ao colo de uma ama na FOTO 1. Era capaz de estar aí também o chefe de MRP, Mariano de Carvalho, cuja missão tinha sido visitar Moçambique para levar fotos e informações de volta para Lisboa sobre a entâo colónia e de que vimos a foto aqui ao fundo.
Estas fotos deram então uma imagem de tranquilidade ao Governo e Rei em Lisboa mas ilusória pois Alfredo Pereira de Lima no livro EdifÍcios Históricos dá a entender que depois de certo periodo de latência partiu das "Terras da Coroa" a revolta ronga na segunda metade de 1894 que levou ao grande ataque à cidade de LM principalmente pelos guerreiros dos chefes Mahazul da Magaia e Matibejana do Zixaxa . Depois de vandalizarem a Missão de São José de Lhanguene foram parados por alturas do Quartel do Alto-Maé, quer dizer mesmo no limite da zona alta que estava a ser urbanizada e quando estavam a por exemplo a 1 300 metros do recente Hospital. Foi esse acontecimento que motivou o governo português a nomear um Comissário Régio para Moçambique com mais poderes e autonomia que um Governador-Geral e a por em marcha uma campanha político militar que acabou por confrontar Gungunhana (Ngungunhane) em Gaza em 1895 embora ele não tivesse estado directamente envolvido nessa revolta. 
Sobre as "Terras da Coroa" o google tem uma selecção do livro "Mercados de Terras No Brasil Estrutura E Dinâmica" que explica o que eram ao tempo da monarquia portuguesa no Brasil e era conceito que vinha nas antigas ordenações do reino na Europa (aqui). 
Terras da Coroa: concedidas a alguém que as devia ocupar, utilisar e distribuir a terceiros, mas isso frequentemente não era feito
No entanto em Moçambique as Terras da Coroa em torno de Lourenço Marques eram regulados africanos que eram considerados sob soberania portuguesa. Os seus chefes tinham autonomia sobre os súbditos mas também certas responsabilidades em relação ao Rei de Portugal como seja o autorizar a colecta de imposto, o de providenciar mão de obra para trabalhos públicos e o de fornecer homens em armas quando lhes fosse solicitado. O residente era assim um representante do estado junto de régulos africanos "fiéis" ao Rei de Portugal e depois da implantação da República Portuguesa em 1910 as Terras da Corôa passaram a chamar-se Terras do Estado.

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