Linha férrea para Goba e Suazilândia: estações e trabalhos (3/8)

Continuando o primeiro artigo voltamos aqui a falar da construção da linha férrea de Goba juntando mais informação com base na publicação "Ilustração Portuguesa" disponibilizada pela Hemeroteca de Lisboa de Março de 1908.
Os trabalhos começaram em Maio de 1905 ao Km 10 do caminho de ferro existente para Ressano Garcia, neste local pouco depois do ramal que vai para o Língamo (que se vê aqui saindo para baixo = sul da linha principal, com acesso dos dos lados desta) e de onde ve veio a colocar a estação da Machava que mostro em baixo. A linha tinha secções rectas de 8 e 9 km, uma ponte na Matola sobre o rio desse nome e uma em Boane sobre o Rio Umbelúzi de 360 m de comprimento e viadutos como o de Muguene com 180 m de comprimento. Tinha duas estações, Machava e Boane e quatro apeadeiros Belulane e Estivel entre a MNachava e Boane e  Muguene e Mailana entre Boane e o terminus em Goba. 
Iria ter 73 km de comprimento (é dito agora que tem 74 km) e estavam construídos ao tempo do artigo 64 km faltando assim cerca de 9 km até chegar a Goba Povoação (que fica próxima da fronteira). O que faltava em Março de 1908 demoraria mais um ano a fazer pois seriam necessários dois túneis de 300 m de comprimento (dá-me ideia que não foram feitos, nem sei para que seriam necessários) e durante esse tempo finalizar-se-iam os primeiros 64 km já feitos se houvesse verba. A linha permitia velocidades maiores que a de Ressano Garcia atingindo-se 60 km por hora e encurtaria o tempo de viagem para Pretória com a prevista continuação pela Suazilândia, actual Essuatini e África do Sul (no total a viagem passaria a ser de de 12 horas desde LM). 


FOTO 1
Estação de caminho de ferro da Machava

A legenda do artigo explicava que esta estação da Machava foi colocada no entroncamento entre a linha de Ressano Garcia (RG) para Pretória de 1887 e a nova linha de Goba (CF da Suazilândia). Pode ver-se mais aqui sobre essas linhas e estradas antigas na zona da Machava e Matola e podemos compreender tudo melhor com um mapa: 


MAPA 

Vermelho: tronco comum das linhas de Goba e de RG ligado à estação de LM, 
seguindo em boa parte na margem do estuário do Espírito Santo, actual de Maputo
Carmesim: estação da Machava, próxima da localidade do mesmo nome
Castanho escuro: ramal do Língamo
Castanho claro: linha de Goba para a Suazilândia
Laranja: linha de Ressano Garcia para o Transvaal (Pretória)
Circunferência azul escura: ponte sobre a ribeira Matola na linha de Goba
Circunferência azul média: ponte sobre a ribeira Matola na linha de RG

Acho que chamavam ao primeiro grande curso de água que tinha de ser atravessado pela linha para oeste da Machava ribeira da Matola e não rio porque nos períodos secos do ano o seu caudal devia ser muito reduzido, se o houvesse. Noto que a ponte da linha de Goba fica mais próxima da foz dessa ribeira no estuário e por isso teria de ser mais longa que a da linha de RG atravessando-a mais a montante. Da ponte da linha de Ressano Garcia a seguir à estação da Matola Gare e marcada no mapa pela circunferência azul média falámos aqui.
Vejamos aqui a construção da ponte da linha de Goba na Matola. A revista foi publicada em Março de 1908 por isso esta devia ser a ponte cujo início se tinha visto aqui na FOTO 1 em Março de 1907. 

FOTO 2
Construção da ponte da Matola da linha de Goba com as duas cabeceiras prontas

Como dissemos por exemplo aqui muitas das pontes construidas inicialmente para a linha de Ressano Garcia (RG) foram poucos meses depois da sua inauguração em Dezembro de 1887 levadas por enxurradas e tiveram de ser reconstruídas com maior solidez e nalguns casos noutros locais. Esperar-se-ia que essa experiência tivesse sido útil para projectos futuros de via férrea na região mas vejamos a foto com legenda original seguinte que foi tirada junto a um rio que seria ou o Matola ou o Umbeluzi.


FOTO 3
Efeito das cheias de 1906 - tabuleiro da ponte da linha de Goba 
arrancado por corrente

Nesta FOTO 3 não se entende muito bem onde estaria o tabuleiro e donde teria ele vindo pois do lado direito parece estar a linha correndo ao lado do rio (mas se fosse aí também parecia estar demasiadamente próximo para ser seguro). Hipótese seria que a cabeceira da ponte que tivesse sido destruída fosse a construção elevada ao fundo à esquerda mas para ela não se descortina qual seria a correspondente na margem oposta. Assim não percebo bem a situação particular neste local mas fica a ideia de que não se teria melhorado muito na previsão do que podiam ser os caudais na região em dias de tempestade tropical e na resposta a dar-lhe.
Vejamos agora a segunda estação que foi construída expressamente para a Linha de Goba 

FOTO 4
Estação de Boane na linha de Goba em 1908

Mostram-se agora os trabalhos na zona de Boane pouco a seguir à estação:


FOTO 5
Alinhamento visto do Alto de Boane com a ponte provisória sobre o Umbeluzi

Dizia o artigo que se viam na FOTO 5 pilares da ponte definitiva de Boane sobre o Rio Umbeluzi e presumo que fosse na zona à direita onde parecem estar operários na construção. 
A reportagem mostrava também o Rio Umbeluzi algures na região atravessada pela linha.


FOTO 6
Rio Umbeluzi com um dique

E terminamos a selecção de fotos do artigo de 1908 com uma de trabalhos de construção civil do mesmo tipo dos que tinhamos visto aqui.


FOTO 7
Trincheira de Culachava numa garganta dum monte ou colina 
(não encontro esse nome actualmente)

O artigo falava que para atravessar os montes havia uma trincheira com 2 km de comprimento e que ela chegava a uma profundidade de 8.5 metros mas a da foto de cima teria só uns 6 metros.
Dando um salto de mais de trinta anos para o futuro em relação às fotos anteriores, podemos ver a estação de Boane do mesmo lado que se via na FOTO 4, à direita da esquina.


FOTO 8
Estação de Boane c. de 1940 com composição ferroviária
parada à esquerda da plataforma (imagem estereoscópica)

Série completa sobre a construção da linha de Goba e Suazilândia aqui.

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