Na orla do estuário do Espírito Santo - do lado da cidade c. de 1910

Temos aqui um foto de Lourenço Marques (LM), actual Maputo do editor Spanos e que será aproximadamente de 1910. Pela presença de água e embarcações do lado esquerdo vemos que terá sido tirada junto ao estuário do Espírito Santo e por isso que ficava a sul da cidade e que seria uma vista mais ou menos para poente. Mas não se sabia com que ângulo relativamente ao eixo do estuário e em que posição relativamente ao centro da Baixa da cidade e da sua zona à beira-mar teria sido tirada e por isso o que mostrava realmente.

FOTO 1
Legenda original: fundeadouro das embarcações indígenas / native docks

Na FOTO 1 reconhecemos logo a chaminé industrial que tinhamos investigado neste artigo e que tinhamos concluido aí ela ser da oficina de Hugh LeMay. Podemos daí dizer que se estava na zona oriental da Baixa ou seja a oriente = leste da Fortaleza.
Assim olhando para os seus pormenores e para os doutra conhecida daqui e que concluiremos foi tirada no sentido oposto, isto é do centro para essa zona oriental da Baixa, podemos entender melhor a paisagem da FOTO 1:  

MONTAGEM 1 (FOTO 1 e FOTO 2)
Vermelho: estrutura em betão à beira mar de onde a FOTO 1 foi tirada 
localizando-a assim na zona oriental da Baixa
Laranja claro: Rua de NS da Conceição, actual de Timor Leste, 
depois da Praça 7 de Março, actual 25 de Junho
Laranja médio, só na FOTO 1: muro elevando e protegendo a oficina 
do Hugh LeMay do lado leste = nascente
Roxo tracejado, só na FOTO 1: fachada a leste do Hugh LeMay
Verde claro: Rua da Imprensa (Nacional) na direcção norte - sul
Resto das cores: elementos correspondentes nas duas fotos vistos de lados opostos

Como se pode fácilmente ver na FOTO 2, a estrutura em betão da FOTO 1 estava no limite da terra junto ao estuário ao fundo da Rua de NS da Conceição desse tempo e para a esquerda dela ficava a praia da enseada da Maxaquene que ia daí em curva até junto à barreira e seguia depois ao longo desta até à Ponta Vermelha de que se vê a escarpa final ao fundo ("PV"). Podemos então dizer que a FOTO 1 foi tirada com a enseada e a Ponta Vermelha pelas costas, a primeira muito próxima e a segunda a uns 1500 metros de distância para leste = nascente. Vimos imagens da orla do estuário na enseada por exemplo neste artigo tendo a sua FOTO 1 sido tirada relativamente próximo do local da FOTO 1 deste artigo. 
Podemos ver o local agora identificado para a FOTO 1 em dois mapas antigos da zona. Tendo em conta as suas datas, parece-me que a mencionada estrutura em betão não existia em 1903 e por isso terá sido construída daí até 1906, o que é compatível com a sua presença na FOTO 1 de cerca de 1910.

PLANTAS de 1903 e 1906
Vermelho: posição da estrutura em betão e sentido em que a FOTO 1
 foi tirada e que parece só surge "a direito" no mapa de 1906
Azul médio, à direita: onde tinha passado o lado a oeste da enseada da Maxaquene,
aí com a praia já normalizada por muralha
Laranja claro: Rua de NS da Conceição, actual de Timor Leste
Verde claro: Rua da Imprensa (Nacional)
Laranja médio: posição do futuro muro elevando e protegendo a oficina 
do Hugh LeMay do lado leste = nascente e que se via na FOTO 1
Roxo: futura posição da face virada a sul = para o estuário do Hugh LeMay
Roxo tracejado: fachada virada a leste do Hugh LeMay 
de que só sei que em 1911 já existia como se comprova em baixo
Preto: ponte ou muralha do Allen Wack
Verde médio: fortaleza de NS da Conceição, ainda aberta do lado do estuário

Recordaremos a seguir a referida oficina de Hugh LeMay com foto de 1911 (navio Lidador) tirada a partir da ponte de Allen Wack, a da marca preta nas duas PLANTAS. Como nesta FOTO 3 se via a fachada virada a sul = para o estuário da oficina, então o muro de protecçâo marcado a laranja médio na FOTO 1 e nas PLANTAS estaria à sua direita mas invisível do ângulo com que ela foi tirada.

FOTO 3 de c. 1911
Roxo: face virada a sul = para o estuário do Hugh LeMay c. de 1911
Castanho escuro: face virada a sul = para o estuário do armazém do Allen Wack
 (devia estar aí escrito ShipchandlERS)
Preto: ponte ou muralha do Allen Wack sobre o estuário
e que aparecia ao fundo à esquerda da FOTO 1

Pode ver-se (adivinhar) como tinha sido essa zona alguns anos antes das FOTOS 1 e 2 terem sido tiradas: 

MONTAGEM 2
Vermelho: posição onde foi construída a estrutura em betão da FOTO 1, 
permitindo algum aterro para a esquerda na margem norte do estuário
Laranja claro: Rua de NS da Conceição, actual de Timor Leste ainda por abrir. 
Vê-se em cima que foi construída onde era a praia.
Verde claro: Rua da Imprensa (Nacional) já aberta, para a esquerda da praia
Rosa: actual Travessa do Jornal Notícias a ser aberta
Azul claro: Rua Joaquim Lapa que como ficava em terra firme estava já aberta

Chegados aos anos 50 tinha passado a ser assim a situação no local da FOTO 1:

FOTO 4
Vermelho: onde esteve (estará enterrada?) a estrutura em betão da FOTO 1, 
actualmente na Rua de Timor Leste do lado do shopping
Azul médio, à direita: onde tinha passado o lado a oeste da enseada da Maxaquene
Mancha castanha: onde era estuário e sua praia ao tempo da FOTO 1 
e foi aterrado cerca de 1920, depois das fotos de cima
Roxo: onde esteve o lado mais a sul do Hugh LeMay, junto ao estuário até c. 1920
Roxo tracejado: onde esteve a fachada virada a leste do Hugh LeMay
Laranja médio: onde esteve o muro elevando e protegendo a oficina 
do Hugh LeMay do lado leste = nascente e que se via na FOTO 1 ao lado do estuário
Rectângulo cinzento. antiga chaminé do Hugh Lemay 
e ainda como estava na FOTO 1 a "azul escuro"
Castanho escuro: onde esteve o lado mais a sul do Allen Wack, 
junto ao estuário até c. 1920
Verde médio: fortaleza de NS da Conceição, ainda aberta do lado do estuário
Creme: Rua Marquês de Pombal, actual Ngungunhane onde 
ao tempo da FOTO 3 estava a muralha à beira mar
Laranja claro: Rua de NS da Conceição, actual de Timor Leste, 
na direcção de onde esteve a estrutura da FOTO 1
Verde claro: Rua da Imprensa (Nacional)
Rosa: actual Travessa do Jornal Notícias
Azul claro: Rua Joaquim Lapa, actual Slovo

Com a FOTO 1 e sua localização adicionámos uma interessante peça ao nosso "puzzle" geográfico citadino, neste caso com um recanto um pouco afastado do seu centro que era habitualmente mais frequentado e fotografado.

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