Feitoria do Allen Wack na baixa de Lourenço Marques (3/6)

Como vimos nos artigos anteriores por volta de 1899 foi construída uma ponte em pedra maciça (molhe ou muralha) penetrando no estuário do Espírito Santo, actual de Maputo em frente à feitoria / armazéns de Allen Wack (AW). Apesar de ter sido conhecido por exemplo por "muralha do AW" dissemos também aí que a única ligação que essa nova ponte teria em "relação" à firma AW pode ter sido essa localização. 
Em várias fotos dessa altura pode-se ver que em cima dessa "nova ponte do AW" esteve um edifício que pode não ter sido sempre o mesmo, aparecendo até a certa altura um barracão maior. Como disse antes não se percebe pelas imagens para o que estava essa ponte ou molhe a ser usada e por isso para que serviria o edifício mas presumo que fosse armazém de alguma coisa, o que também não é importante nesta altura.
Vejamos então algumas das fotos com a ponte e o referido edifício que foram tiradas da barreira da Maxaquene para sul / sudeste (3 fotos) e da ponte de passageiros da Alfândega para a Ponta Vermelha (2 fotos, a maior do delcampe.net):


MONTAGEM 1

"Nova ponte do Allen Wack" (molhe) com edifício

Vimos também com a sobreposição de mapas seguintes que esse molhe estava numa posição que veio a ser intersectada pela doca seca quando esta foi construida em 1920. Por este desenho o molhe teria estado quase na ponta interior do que veio a ser doca seca (a ponta oposta à sua entrada pelo lado da Doca da Capitania) mas veremos ...


Mapa de 1903 sobre o de 1925/26 (quase actual)
Castanho escuro: fortaleza
Laranja: armazéns do Allen Wack
Castanho claro: Hugh Le May, à direita = leste do AW
Vermelho: molhe ou "nova ponte do Allen Wack"
Verde claro: doca seca com a entrada a sudoeste pela Doca da Capitania
Mancha azul clara: costa do estuário em 1903 antes do trabalho do 
aterro da Maxaquene, ainda muito próxima da natural
Mancha azul média: limite do estuário depois de completado o aterro da Maxaquene em 1920 e que se mantém actualmente


A doca seca foi então construida onde tinha sido estuário e como disse antes e penso confirmar-se pela foto seguinte a técnica utilizada deve ter sido primeiro erguer-se muros no leito do antigo estuário (já drenado pois a zona deve ter sido primeiro fechada das águas pelo muro de suporte na marca amarela). Esses muros contornavam o que se pretendia viessem a ser os limites da doca, fez-se depois o aterro em redor deles (incluido nos trabalhos gerais de aterro da Maxaquene) e deixou-se vazio o espaço que estava para o interior desses muros para apetrecho da doca - ver aqui na FOTO 5 pormenor o que me parece mostrar a fase final do aterro nessa zona.. 
Repetimos então a foto da construção da doca seca deste artigo mas vamos observá-la com mais atenção e relativamente ao molhe ou "nova ponte do AW" (foto do ARPAC - Instituto de Investigação Sócio Cultural de Moçambique pertencendo à pasta “Maputo Cidade XI, Monumentos e Locais Históricos”).

FOTO 1
Doca seca em fase adiantada de construção em Dezembro de 1920
vista da sua entrada para o fundo do lado do interior das terras
Vejamos então essa foto combinando-a com as indicações principais do mapa: 

FOTO 1 com marcas
Laranja: armazéns do Allen Wack (AW)
Castanho claro: instalação do Hugh Le May, à direita = leste do AW
Linhas vermelhas: posição aproximada do molhe do AW quando esta zona era estuário
Círculos vermelhos: parecem-me pedras perdidas que estariam no caminho do molhe
Verde claro: limites aproximados da doca seca quando as suas paredes 
tivessem sido levantadas até à superfície
Triângulo cinzento: estação de incêndio, onde agora está o prédio 33
Azul: Paços do Concelho, actual tribunal
Desenhei intencionalmente as linhas vermelhas de modo a englobarem o edifício à direita = leste da doca, o que está mais ou menos de acordo com o mapa mas por falta de precisão deste noto que os pontos exactos de intersecção do antigo molhe com a nova doca podem não ter sido exactamente os que estão no mapa, mas aproximadamente serão. Certo é que algures na zona fotografada estariam os restos do antigo molhe em pedra maciça do AW. Parte da sua secção mais central teria sido removida para se poder abrir a doca, e as secções entre a fachada do AW e a parede a oeste da doca, e a da parede a leste da doca para a direita teriam ficado soterradas e/ou formando as novas superfícies em redor da doca. Essas secções não terão sido removidas porque eram consistentes e até serviam para consolidar o novo aterro em volta. Se as pedras que vejo à direita (os "círculos vermelhos") pertencem a restos do molhe não sei, mas acho que estamos num caso de se non è vero, è ben trovato
Quanto ao edifício à direita da FOTO 1 este tinha-me logo intrigado pois parecia velho estando numa zona nova, estava demasiadamente próximo da doca e não parecia estar bem enquadrado. Não encontrava boa explicação para essas deficiências, dado que todo o espaço à vista a partir dos armazéns ao fundo tinha pertencido até há pouco tempo ao estuário e estava a ser aterrado ao mesmo tempo que se fazia a doca e por isso teria havido oportunidade de se fazer convenientemente um edifício por aí se e quando fosse necessário (também me parecia que esse edifício era um tanto prematuro tendo em conta o desenrolar do resto dos trabalhos). Então pus-me as seguintes questões em relação a esse edifício à direita da doca, teria sido ele o que esteve em cima do molhe? Se fosse estaria ainda onde tinha estado ou teria sido deslocado para a frente ou para trás (porque uma parte do molhe foi removida) ou mais para cima ou mais para baixo (não sei a que nível estaria o alto do molhe em relaçâo à superfície do aterro)?  
Como se pode ver, muitas perguntas e poucas respostas. Primeiro é difícil verificar se o(s) edifício(s) do molhe será ou não o mesmo da FOTO 1 pois as suas fotos não eram claras, quanto à posição do exacta do molhe em relação à doca e onde teria sido ele cortado é mais fácil pois ainda agora se poderia pesquisar com uma picareta ...
Como não há foto com essa perspectiva posso tentar imaginar se e como teria sido esse lugar ao tempo do molhe: 


FOTO 1 ficcionada
Se o edifício junto à doca tivesse sido um dos que esteve no molhe,
teria seria assim esse lugar entre o estuário e a costa
Noto ainda que do lado esquerdo das fotos do Hugh Le May em 1911 do seu lado esquerdo estava o molhe do Allen Wack e essas fotos até foram tiradas de cima dele. Isso era de esperar porque o molhe de AW só "desapareceu" entre 1915 e 1920 e quando o trabalho do aterro da enseada da Maxaquene terá atingido este local no seu extremo a oeste.
Nartigo seguinte iremos ver a zona do Allen Wack em tempos posteriores ao que vimos até agora e principalmente a partir dos anos 50/60.

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