Feitoria do Allen Wack na baixa de Lourenço Marques (4/6)

Continuamos a falar da firma Allen Wack (AW) e neste artigo principalmente ver o que a partir dos anos 50/60 restava das suas instalações um pouco a leste = nascente da Fortaleza na Baixa de Lourenço Marques, actual Maputo.
A primeira foto é uma panorâmica aérea tirada do lado do estuário nos anos 50 por Carlos Alberto Vieira. Vemos que havia no local onde esteve a AW (que ficou AW & Shepherd depois) um edifício com corpo central de primeiro andar e com um grande armazém por trás (com o telhado dividido em três partes) e ladeando-no outros dois armazéns mais estreitos. 

FOTO 1
Os edifícios no local da AW ao centro da foto
frente à "quase" marginal do estuário e a pouca distância da doca seca
Vê-se que os edifícios da fachada para a Rua Marques de Pombal, actual Ngungunhane virados para o estuário = para sul e os armazéns para trás não eram modernos. Em relação às origens, como vemos aqui na FOTO 6 em 1895 ainda não havia ainda edifícios deste lado e por isso não teria havido antes. Em relação ao que passou a existir no início do século XX (20) não temos boa foto do resto mas sabemos que havia uma pequena torre de que falámos no segundo artigo, torre essa que não aparece na FOTO 1 e como veremos aqui mais abaixo essa torre já muito antes disso tinha desaparecido. 
De facto os edifícios que se vêm em cima devem vir dos anos 20 ou 30, década em que a firma AW continuava activa como veremos no quinto artigo. Deve ser desse tempo a primeira foto deste artigo e vinda deste a FOTO 2 seguinte, fotos essas que já mostram tanto quanto se pode ver a mesma fachada da FOTO 1. 

FOTO 2
Azul médio: corpo central do edifício no local da AW com primeiro andar
Roxo: dois armazéns ladeando o corpo central do edifício no local da AW
Castanho claro: ainda a oficina de Hugh Le May com a chaminé por trás
Com a FOTO 3 seguinte, também uma vista sobre o estuário para norte-noroeste, reforçaremos as observações da FOTO 1 pois temos as mesmas construções, em época similar e mais ou menos da mesma perspectiva.

FOTO 3
Azul médio e roxo: mesmo que na legenda da FOTO 2 
Castanho escuro: fortaleza para poente = oeste da AW
Castanho claro: prédio moderno no canto a sudeste do AW, 
que tinha sido do Hugh Le May e que era agora do Pendray e Sousa
Laranja: capitania do porto
Verde claro: doca seca
Azul escuro: Rua Marquês de Pombal, actual Gungunhana, 
por onde tinha sido o limite da terra firme antes do aterro de 1915/20
Branco: resto do limite da terra firme até cerca de 1920
Rosa: Rua Alexandre Herculano, actual de Timor Leste
Preto: Casa Pfaff
Inseri no canto superior direito da FOTO 3 uma pequena parte duma foto de 1920 (artigo anterior) para mostrar que o armazém "roxo" à direita do corpo central parecia já existiar em 1920 mas também se pode ver nessa foto de 1920 que o corpo central "azul" lhe é posterior. Resumindo, o corpo central dos edifícios do AW que chegaram aos anos 50/60 eram dos anos 20/30 mas os armazéns laterais podiam ser um pouco anteriores.
Vamos localizar no mapa de 1925/26 o que vimos nas fotos anteriores e acrescentando-lhe, a partir de mapas mais antigos, onde tinha sido a primeira ponte de estacas de madeira e depois a nova de pedra maciça (molhe) de Allen Wack:


MAPA de 1925/26
Roxo-azul médio-Roxo: local dos edifícios da AW em frente à doca seca e estuário

Vermelho: posição das antigas ponte e molhe de Allen Wack 
na altura em que estiveram lançadas sobre o estuário (suponho que coincidente)
Resto das cores: como na legenda da FOTO 3
Este mapa mostra então a situação após 1920, com o grande aterro feito para sul do limite da terra firme anterior e tendo uma parte do molhe de AW sido absorvida por ele absorvida e a secção mais central demolida para se abrir a doca seca.
Passamos a fotos mais ou menos recentes. Na MONTAGEM 1 continuamos a ver a fachada do edifício no local da AW virada para o lado do estuário em que se nota uma varanda alpendrada no primeiro andar a qual no passado (FOTOS 1 a 3) parecia ter estado fechada.  

MONTAGEM 1
foto à esquerda: fachada como em todas as fotos anteriores
foto à direita, mais recente: modificação da fachada do armazém do lado direito
Azul escuro: Rua Marquês de Pombal, actual Ngungunhane
Nota-se então a modificação do lado direito da fachada do edifício (se visto de frente) que afectou um dos armazéns laterais, o tal que parecia existir já em 1920 e por isso devia ser património nacional. Essa parte passou a ter fachada envidraçada, cresceu em altura, destruiu a simetria do conjunto inicial o que é pena. 
Podemos ver noutra direcção o que se passava cerca de 2006 no local do antigo Allen Wack com foto de Yves Traynard e correspondendo ao mapa e por exemplo às legendas das FOTOS 2 e 3. 

FOTO 4
Azul médio: corpo central do edifício no local da AW com primeiro andar
Roxo: dois armazéns ladeando o corpo central do edifício no local da AW
Vermelho: posição das antigas ponte e molhe de Allen Wack 
na altura em que estiveram lançadas sobre o estuário
Castanho escuro: fortaleza para poente = oeste da AW
Castanho claro: canto a sudeste primeiro do Hugh Le May e depois do Pendray e Sousa
Laranja: capitania do porto
Verde claro: doca seca
Azul escuro: Rua Marquês de Pombal, actual Ngungunhane
por onde era o limite da terra firme antes do aterro de cerca de 1920
Branco: resto do limite da terra firme até cerca de 1920
Rosa: Rua Alexandre Herculano, actual de Timor Leste
Como se pode ver na FOTO 4, em 2006 do edifício no local da AW que se via nas FOTOS 1 e 3 dos anos 50/60, os dois armazéns laterais mantinham-se na mesma (não da para ver se a fachada do do lado leste tinha sido modificada como se vê na MONTAGEM 1) mas por trás do corpo central o armazém com o telhado dividido em três partes tinha sido demolido e o espaço livre estava a servir de parque automóvel. Havia também telhados novos verdes nos edifícios que fechavam esse bloco do lado norte face à Rua de Timor Leste. Por isso o edifício que existe actualmente começa a ser bastante diferente do que existia nos anos 50/60 pois primeiro desapareceu o seu miolo e mais recentemente como se viu na MONTAGEM 1 o armazém lateral a leste foi modificado. 
Não estamos a contar com o que possa ter acontecido no lado virado a norte (para o lado de cá na FOTO 4) pois daí vê-se nela muito pouco e digamos dos anos 50/60 só conhecemos uma pequena secção da fachada e que se via na primeira foto deste artigo. Noto que se tinha visto muito bem essa fachada virada a norte cerca de 1895 na FOTO 6B do primeiro artigo, que ela ainda aparecia na FOTO 1 à esquerda por volta de 1900 mas daí para tempos mais recentes deixou de haver fotos.
Conclusão em relaçâo à fachada sul do edifício no local do AW: o que havia em 1950/60 devia ver principalmente dos anos 20/30 e era diferente pelo menos da maior parte do que tinha havido em 1900/1910. O que havia em 1950/60 e  que se pode ver melhor aqui na FOTO 1mantém-se actualmente ao centro e de um dos lados, mas do outro lado e no miolo do bloco foi alterado substancialmente. 
O que gostaria de saber (mas esperarei sentado): que firmas estiveram neste edifício depois da AW ter daí saído e que relação tinham com ela e em que anos aconteceram as mudanças nas firmas e nos edifícios.
No quinto artigo veremos alguns temas adicionais sobre o AW e exploraremos um pouco mais alguns dos vistos até aqui.

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