O Allen Wack foi uma importante feitoria (armazém de importação-exportação) na zona oriental = leste da Baixa de Lourenço Marques (LM), actual Maputo implantada entre o lado sul da Fortaleza e o que veio a ser um edifício onde têm estado representantes de marcas automóveis como seja o antigo Pendray e Sousa e onde esteve primeiro o Hugh Le May. Sobre esta zona em tempos mais recentes do que as fotos que vemos aqui ver também o artigo principal sobre a doca seca em que se fala do AW e da sua ponte também.
Por volta de 1890 havia uma grande ponte de estacas de madeira que servia o Allen Wack (AW) para a sua actividade comercial e que devia ter sido construido por essa firma na ausência de cais feito pelo Estado até essa altura. Essa ponte que não atingia grande profundidade pelo que os navios maiores amarravam ao largo, as mercadorias eram passadas para as barcaças que atracavam na ponte e as mercadorias eram aí içadas e depois transpostadas até aos armazéns da feitoria que ficavam nas proximidades.
Começemos então pelo princípio e podemos constatar na FOTO 1 que cerca de 1880 não havia ainda a ponte de AW que se deveria ver à direita para sul da Fortaleza, o edifício que aparece em segundo plano a partir da esquerda (em primeiro plano está o primeiro desembarcadouro do burgo). Noto que nesta altura a Fortaleza tinha janelas no "pano" virado para a Praça 7 de Março, actual 25 de Junho e era caiada, isto é tinha um aspecto bastante diferente do actual mas as paredes devem ser as mesmas..
FOTO 1
Fortaleza em frente e para lá dela do lado do estuário, à direita, não há ponte.
Ao fundo a barreira da Maxaquene em direcção à Ponta Vermelha
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A ausência da ponte e mais ainda de armazéns nessa zona pode confirmar-se na foto seguinte que mostra a mesma faixa do litoral da baixa de LM mas vista do estuário:
FOTO 2
Os originais das FOTOS 1 e 2 (que são mais completos que elas) pertencem à Universidade do KwaZulu-Natal - Campbell Collections e serão de cerca de 1879/1880.
As FOTOS 3 e 4 seguintes foram tiradas por Manuel Romão Pereira (MRP) tal como a FOTO 1 da pequena ponte de desembarque de passageiros da Alfândega que viamos aqui na FOTO 1 e que ficava situada a uns 150 metros em linha recta da fortaleza (a FOTO 6 daqui também de MRP mostra o lado oposto da fortaleza e terá sido tirada dessa ponte de AW):
As FOTOS 3 e 4 seguintes foram tiradas por Manuel Romão Pereira (MRP) tal como a FOTO 1 da pequena ponte de desembarque de passageiros da Alfândega que viamos aqui na FOTO 1 e que ficava situada a uns 150 metros em linha recta da fortaleza (a FOTO 6 daqui também de MRP mostra o lado oposto da fortaleza e terá sido tirada dessa ponte de AW):
FOTOS 3 e 4
laranja: porta de armas a Fortaleza aberta no seu pano a oeste = poente
castanho: torreão na esquina com o estuário (não existe agora) vermelho: novidade na zona, aparecem as estacas da ponte de AW |
As FOTOS 3 e 4 garantem-nos assim visualmente que existiu uma ponte de estacas na zona do Allen Wack e tal é importante porque não encontro muitas mais fotos dela apesar das várias referências feitas em textos (e confusões com outras fotos ...). Daqui conclui-se que a ponte de madeira do AW foi construída nos cerca de dez anos entre c. 1880 (FOTOS 1 e 2) e c. 1890 (FOTO 3).
Desenhos onde constará a primeira ponte de AW há pelo menos três e um que já vimos é o do desembarque de António Enes em LM em 1885. O desenho seguinte como veremos no quinto artigo é baseado noutra foto de MRP de 1890 muito pouco visível:
Desenhos onde constará a primeira ponte de AW há pelo menos três e um que já vimos é o do desembarque de António Enes em LM em 1885. O desenho seguinte como veremos no quinto artigo é baseado noutra foto de MRP de 1890 muito pouco visível:
Vê-se na IMAGEM 1 a ponte da Casa Baptista que estaria situada um pouco para nascente = leste da do AW na zona ribeirinha a nascente da Fortaleza. A ponte do AW é aí específicamente indicada (4) mas parece-me que dela se viam só as estacas pelo que esta imagem não é muito relevante (em teoria haveria a possibilidade de o que se vê nas FOTOS 3 e 4 ser a ponte do Baptista mas penso que essa seria menos visível por estar mais distante e presumo ser mais pequena que a do AW).
Outro desenho onde se vê a ponte de AW mais claramente é a vista seguinte da barreira da Maxaquene para o estuário que será de cerca de 1890, quer dizer também da mesma época que as FOTOS 3 e 4 e que parece fiável. Mostra a zona oriental da Baixa da cidade com a orientação explicada na legenda.
Das fotos e gravuras vistas até aqui podiamos dizer que em 1880 não havia ponte do AW (FOTOS 1 e 2) e que ela aparece em 1890 (FOTOS 3 e 4 e IMAGEM 2) e é mencionada (IMAGEM 1). Não a consigo ver nas fotos de Fowler de 1886/87, o que estaria entre os dois anos de referência de cima o que talvez aconteça porque a sua zona não foi bem coberta ou foi-o de demasiado longe mas parece-me mais que a ponte não existia ainda (comprovar aqui).
Outro desenho onde se vê a ponte de AW mais claramente é a vista seguinte da barreira da Maxaquene para o estuário que será de cerca de 1890, quer dizer também da mesma época que as FOTOS 3 e 4 e que parece fiável. Mostra a zona oriental da Baixa da cidade com a orientação explicada na legenda.
IMAGEM 2
Vermelho: marca sobre a ponte de estacas do Allen Wack no estuário
Laranja: primeiro armazém do AW um pouco para leste = oriente da Fortaleza
Branco: prédio da Casa Baptista, visto aqui (também com esta imagem)
Verde claro: direcção da depois Rua da Imprensa
Rosa: rua de NS da Conceição, actual de Timor Leste
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Mas se essa primeira ponte de estacas de AW existia c. de 1890, com as duas fotos seguintes pode-se ver que cerca de 1895 ela tinha desaparecido, o que quer dizer que teria durado algo menos de dez anos o que é um tanto surpreendente. Estas duas fotos são adaptadas de originais da (4) Northwestern University e do (5) Arquivo Histórico de Moçambique - Colecção Iconográfica da Câmara Municipal de Lourenço Marques - Icon 7.
FOTOS 5 e 6
Laranja: zona ribeirinha a leste da fortaleza, as mudanças em relação à IMAGEM 2 explicadas a seguir |
Vê-se então nas FOTOS 5 e 6 que surge um novo armazém do AW passando em conjunto com o precendente a formar um "L", não se vê bem mas é provável que a plataforma onde o primeiro armazém já estava tenha sido alargada para o lado do estuário. É notório que deixou de haver a ponte de estacas que saía desse local para dentro do estuário.
Da FOTO 6 podemos observar com mais pormenor o conjunto de armazéns nesta segunda fase em "L" do AW na foto de baixo (adaptada do original do Arquivo Histórico de Moçambique - Colecção Iconográfica da Câmara Municipal de Lourenço Marques - Icon 7). Noto que na FOTO 6 B está a sua fachada principal e as portas de entrada para o público, do lado do estuário não havia ainda rua, era ou praia ou uma muralha de protecção contra as águas. Para melhor referência com o espaço actual, à direita da FOTO 6 B vê-se o grande mastro com a bandeira no topo que estava no pátio interior da fortaleza.
FOTO 6 B
Armazéns do AW com a perna do "L" construída sobre uma plataforma, já saliente ou pelo menos levantada em relação à linha de costa natural |
Curiosamente podemos ver ainda este edifício na FOTO 1 deste artigo de cerca de 1900 pois à esquerda era o segundo edifício / mais longo com as mesma janelas arredondadas no alto.
Voltaremos no próximo artigo a falar da firma Allen Wack e das suas pontes sobre o estuário para desembarque de mercadorias ou como veremos talvez com outros fins.
Voltaremos no próximo artigo a falar da firma Allen Wack e das suas pontes sobre o estuário para desembarque de mercadorias ou como veremos talvez com outros fins.
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