Grupo de ilustres em Lourenço Marques, firma Augustin Fabre et Fils e estudo de Patrick Harries

Azul: Eugen Herzog (1), gerente da Casa Fabre
Vermelho: referência à firma Allen Wack e foto do seu gerente J. Merson (5)
Esta foto foi publicada em 1933 pelo suplemento O Ilustrado do jornal Notícias de Lourenço Marques (LM) e recordava nessa altura um já longínquo passado, ao qual somamos agora mais uns 75 anos ... 
Mostra um grupo de pioneiros laurentinos que fez um passeio (caçada ?) no Umbelúzi em 1897 e que devia integrar alguns empresários individuais, dirigentes das maiores firmas e funcionários do Estado e suas empresas que se relacionavam no dia a dia de negócios. O primeiro interesse dela é por isso vermos quem eram essas pessoas e termos ideia de como ocupavam os seus tempos livres e tentavam criar laços entre si. Particularmente como sublinho na legenda a foto mostrava o gerente estrangeiro da firma Augustin Fabre et Fils (Casa Fabre) que vimos no artigo anterior devia ser proprietária dum grande edifício na Rua Araújo, actual Bagamoyo. Na legenda destaco também o que se relaciona com a firma Allen Wack que temos aqui referido amiúde e que aqui vemos tinha um rebocador. 
Quanto à firma Augustin Fabre et Fils encontro referência a ela no estudo "Work, Culture and Identity" de Patrick Harries que se pode descarregar daquiTrata de trabalhadores migrantes na África Austral e de relance pareceu-me uma extraordinária fonte de informação sobre o passado da região. Resumidamente sobre a firma diz que era uma grande e antiga empresa de Marselha e que se foi dedicando aos tipos de comércio mais lucrativos no sul de África a partir de metade do século XIX (19) principalmente trazendo e intermediando as tradicionais bedidas alcoólicas e mercadorias industriais europeias para as populações africanas e levando em troca de alguns produtos agrícolas e de recursos animais capturados por elas (chifres, peles, conchas). 
Um tanto inusitado é que a Casa Fabre foi a certa altura grande importador de enchadas decorativas que serviam de prenda para as noivas africanas e depois de armas de fogo que alteraram as relações sociais na região dado que a caça deixou de ser previlégio dum grupo. Óbviamente que para haver estes negócios no longo termo as duas partes finais estavam - de alguma forma - interessadas e pelo meio havia as grandes firmas, os intermediários (cantineiros, caixeiros viajantes) que tiravam o seu quinhão, bancos que acabavam gerindo o dinheiro e as divisas internacionais quando a troca não era directa e o Estado que não perderia a oportunidade de cobrar alguns impostos. 
Referi já este tipo de mercantilismo complexo a propósito da firma Blanck & Fontana pois parece-me que o "kaffir trade" do seu anúncio se relacionava com ele e pode ver-se que a firma holandesa ZUID se dedicava também a "kaffir truck" que suponho se referisse ao mesmo. 
Aqui os negócios iniciais da Augustin Fabre com mais detalhe:
 "Work, Culture and Identity" de Patrick Harries: Fabre abriu em LM em 1869
Diz também este estudo de Patrick Harries que o negócio de bebidas alcoólicas na região quase parou com a segunda guerra anglo-boer e que a firma Augustin Fabre et Fils (que presumo se dedicava por esses tempos principalmente a ele, embora devesse ter sempre feito parte do seu âmbito) encerrou a actividade em Moçambique em 1900. 
Assim a construção do edifício da firma na Rua Araújo, actual Bagamoyo - ainda existente de telhado de zinco ao centro - e que era um dos maiores ao tempo em Lourenço Marques, deve ter marcado o seu apogeu na cidade. Presumo que até 1900 a firma tenha estado instalada no edifício mas como as fotos dos Lazarus foram publicadas em 1901 ficamos sem saber se as já referidas firmas De Waal e Tobler vieram ocupar espaços libertos nos extremos com o encerramento do A. Fabre et Fils ou se já lá estavam antes. o que seria possível se a Fabre estivesse só na parte central (e só para falar da ocupação do Rés do Chão). Note-se que a foto dos Lazarus do edifício da Casa Fabre não era publicitária enquanto que as usamos do De Wall e do Tobler foram retiradas dos seus anúncios para essas firmas. O que não ficamos a saber é se depois de 1900 a Casa Fabre vendeu o edifício, quando e a quem. 
Como se vê aqui e no que respeita à navegação a companhia comercial Augustin Fabre et Fils tinha uma frota de veleiros. Um Victor Régis que era sogro dum filho de Augustin tinha a companhia de comércio "Regis & Cie" e era também armador e parece-me que foi daqui que nasceu a companhia de navegação "Regis & Fabre".cujos navios ligavam a Europa a Moçambique como se diz num artigo do MDT. Quer dizer havia duas firmas com Fabre no nome mas de ramos separados da família, um pouco diferente do que Patrck Harries disse mas importante é o contexto geral. E mostrando a variedade das suas actividades vimos também aqui que foi a firma Augustin Fabre et Fils que forneceu em 1888 uma imagem de Nossa Senhora para a igreja paroquial de LM.

Voltando ao grupo de excursionistas ilustres da foto de 1897, referência também ao senhor Anahory (22) de familia judia portuguesa de que vemos parentes mais recentes aqui e aqui. Neste segundo caso, Israel Anahory era filho de Ester Cagi e presumívelmente havia também membros dessa família em Lourenço Marques como vimos aqui para Abraham / Abraão Cagi que foi sepultado no cemitério hebraico da cidade. 
No grupo e também pertencendo a essa pequena comunidade estava Isaac Benoliel (13) cuja família seria da firma de joalharia Paris n'Africa e que o relatório do Rabi Moshe Silberhaft (incluido aqui também) dizia ter uma retrosaria. Aqui indicação de que Isaac J. Benoliel, por isso provávelmente o senhor da foto, tentou um negócio com o Bazar cerca de 1904. Aqui referência a um Jacob Benoliel nascido em LM em 1912 mas faltando a indicação do nome dos seus pais..Quem estiver interessado no tema em geral pode ver o estudo "Judeus em Angola - séculos XIX-XX" em pdf descarregável aqui.

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