Templo da Loja Cruzeiro do Sul em LM e prédio do Napoleão da Matola

Começamos este artigo sobre as instalações da maçonaria em Lourenço Marques (LM), actual Maputo com a foto seguinte da Fundação Mário Soares:

FOTO 1

Templo da Loja Cruzeiro do Sul em Lourenço Marques

A legenda completa da foto é: "Fotografia, provávelmente da década de vinte do século XX, do Templo da Loja Cruzeiro do Sul em Lourenço Marques (actual Maputo). Esta Loja esteve em actividade entre 1900 e 1935, praticando o Rito Escocês Antigo e Aceito.".
Há duas coisas que me faziam suspeitar que esta foto não seria do Palácio Maçónico mais moderno na Av. 24 de Julho, o edifício de que se tratava aqui, que existia em 1929 e que foi depois a Escola Industrial de Lourenço Marques (LM), actual Maputo. 
Primeira, como esse edifício era grande imagino que a sua sala de "culto" fosse maior que a que se vê na FOTO 1.
Segunda, parecia-me que as vidraças das janelas da FOTO 1 e as desse Palácio Maçónico da Av. 24 de Julho não correspondiam como se pode tentar ver a seguir:

MONTAGEM 

à esquerda, na Av. 24 de Julho: a vidraça na parte superior 
da janela mais larga era dividida
à direita, da FOTO 1: a vidraça na parte superior da janela mais larga era inteira

Por isso presumi que a FOTO 1 fosse dum edifício que a maçonaria tivesse tido anteriormente em LM. Mas não tinha informações sobre essa possibilidade até que vi no jornal Notícias de LM dois artigos publicados em dias consecutivos em 1962 que falavam dum edifício em alvenaria que tinha sido construído entre 1897 e 1898, que tinha tido dois pisos e que estava em ruínas e que à data - em 1962 - estava a ser demolido. Mostro aqui o seu conteúdo principal:

ARTIGO 1 de 1962

Ruinas da antiga sede da maçonaria, na Av. 5 de Outubro, actual Josina

ARTIGO 2 de 1962

Edifício em ruínas tinha sido Palácio Maçónico pelo menos cerca de 1910 // 1912

Localização mais precisa do edifício e por isso dum possível palácio maçónico em LM anterior ao da Av. 24 de Julho é a dada no primeiro artigo pois diz que no terreno ao lado iria ser erguido o monumento a Louis Trichardt  Diz também que o edifício em ruínas estava na Av. 5 de Outubro e que tinha pertencido (Alfredo Pereira de Lima diz que tinha sido construído) a Napoleão da Matola. A referência nos artigos à estrada do Lydenburgo parece-me errada, pois olhando para o plano de Araújo de 1887 nesse quarteirão a antiga estrada passava abaixo da futura Av. 5 de Outubro e a nova estrada passava muito acima, por isso difícilmente esse edifício se enquadraria com elas mas ....

No segundo artigo do Notícias é dito que nova construção iria ser aí feita (pela firma Buccellato de que era referido o filho Eng. Gaspar(e) conhecemos daqui). Como será dessa época o prédio do Man Kay (azul aqui) que existe ainda, penso ficar assim melhor definida a posição do edifício em ruínas. Juntando tudo, estou em crer que se pode dizer que o edifício de Napoleão da Matola e por isso o do possível ntigo templo maçónico foi o mesmo da "Liga de Defesa e Propaganda da Colónia de Moçambique" e de que se falou neste artigo onde o vimos em filme de 1929 precisamente com os dois pisos referidos no ARTIGO 1. 
Seriam então estas as localizações no Google Earth (ver aqui no google maps mas em sentido contrário, com o norte para cima):

FOTO 2

Verde claro: Av. 5 de Outubro, actual Josina
Laranja claro: Av. Manuel de Arriaga, actual Marx
Azul: presumo que seja o local do edifício de Napoleão, depois templo maçónico 
e onde foi construído nos anos 60 o prédio do Man Kay
Roxo: podia ter sido também o local desse edifício mas pelas fotos dos anos 50/60
parece-me que ele era mais para a direita = oeste, quer dizer na posição do azul

Nos dois artigos é também referido que o edifício aqui focado depois de ter sido sede da maçonaria ou de uma das suas lojas ou grupos (em 1929 já não o era, talvez a Liga que estava lá nesse ano fosse uma organização afiliada), foi também local do Restaurante Flor de Coimbra e do Dancing (ou Café) Paládio presumo que nos tempos mais próximos de 1962.
Com "achismos" tudo é fácil mas olhando-se para o salão da FOTO 1 não é muito difícil imaginar que ele tenha depois servido de sala de restaurante ou de baile. Um pouco mais concretamente podemos observar a fachada do edifício em 1929 e tentar verificar se o salão da FOTO 1 poderia ter sido lá:

FOTO 3

Azul: uma das janelas do edifício da Liga cujo desenho parece corresponder
fielmente ao desenho da janela da direita na FOTO 1

Por isso em relação ao desenho das janelas pelo menos não parece haver contradição, embora não seja imediato visualizar-se em que posição a FOTO 1 estaria em relação ao que se vê do edifício na FOTO 3. Esta é então mais uma contribuição para a solução do dito mistério.
Pelas datas em questão presumo então que o templo maçónico da FOTO 1 e que pode ter estado no edifício da FOTO 3 tenha sido o imediatamente anterior ao da Av 24 de Julho. Ficamos no entanto aqui sem saber se teria sido aí a sede da maçonaria desde a sua fundação em LM em 1900 ou se inicialmente teria sido noutro edifício. Também ficamos sem saber com exactidão se teria havido uma só loja maçónica ou mais que uma o que significaria mais que um templo em vez do único que normalmente assumimos para LM mas para essa investigação acho que há dados suficientes falta é a vontade e tempo ... 
Noto que os artigos do jornal centravam-se principalmente numas arcadas que estavam no subsolo desse edifício. Segundo é aí aventado, elas podiam ter servido para suportar o peso dos andares superiores (e para contrabalançar o declive do terreno nas traseiras em direcção à Baixa?) e que esse método tinha sido usado antes da aparição do betão armado, podiam ter servido para ventilação duma cave ou para cisterna de água mas a hipótese previlegiada pelo articulista do Notícias era a primeira

Voltando ao texto que acompanha a FOTO 1, fala-se aí ainda da ligação da Maçonaria à Associação dos Velhos Colonos (AVC) e que a Escola Industrial e Comercial (juntas ao tempo) foi criada pela AVC. Daí deduziria que não teria sido o Estado a tomar conta do templo da Av. 24 de Julho para o transformar em Escola mas que tal teria sido iniciativa própria da irmandade, falta saber sob que pressão. Nada disto é seguro mas parece inédito nos circulos laurentinos e fica à consideração dos insignes historiadores: O texto da Fundação Mário Soares diz isto: 

Alguns Obreiros desta Loja integraram a Associação dos Velhos Colonos, fundada em 1919, e que após as perseguições (HoM: à Maçonaria, talvez quando Salazar se sentisse mais seguro no poder) de 1935 se substituíu às Lojas existentes em Moçambique. Esta associação viria a criar uma Escola industrial e de Artes decorativas, uma Escola Comercial, um Lar para a Terceira Idade, um posto médico e diversas instalações desportivas. 
Li também algures, reforçando as ideias comuns de que a Maçonaria tinha tido muito peso nos primeiros anos de LM, que dois dos seus destacados membros foram o General Machado e Mesquita Pimentel, que foi presidente da assembleia geral da Sociedade de Arboricultura que fundou o jardim botânico e era adiantado que a maçonaria tinha grande influência nessa colectividade.
Resumindo, talvez se possa dizer que o templo da FOTO 1 era na Av. 5 de Outubro, actual Josina no local "azul" da FOTO 2 e que teria sido aí o templo maçónico da cidade anterior ao da Av. 24 de Julho. Mais sobre essa zona da avenida para oeste da antiga Av. Central, depois Manuel de Arriaga e actual Marx aqui.