Submarinos italianos em LM em 1933 - recepção e os Buffa Buccellato (2/5)

Continuando o artigo anterior sobre a chegada dos dois submarinos italianos a Lourenço Marques (LM), actual Maputo em Novembro de 1933, vimos aí que receberam-nos o cônsul italiano de fato e gravata escuros chamado Gaspar Buffa e o secretário do Fascio do Partido Nacional Fascista (PNF) italiano com a "camisa negra" chamado Giuseppe Buffa. Seriam os dois certamente membros da família Buffa Buccellato que nessa altura estava há cerca de três dezenas de anos estabelecida em Moçambique. Dela a única informação escrita que tenho vem do Livro de Ouro de Maria Helena Bramão (MHB) que inclui um extenso artigo sobre Giuseppe Buffa Buccelatto (GBB) que criou um império comercial e indústrial na então provincia portuguesa. 
MHM explica aí que GBB chegou a LM em 1902 convidado por um seu irmão que presumo fosse Pietro Buffa Buccellato (PBB) e foram os dois inicialmente em Moçambique construtores civis, prosseguindo a profissão do pai. De Pietro quase nada sei a partir de cerca de 1916 mas ele voltará a esta "estória" mais adiante.
O recente livro "Genealogias de Moçambique" inclui os Buccellato e outras famílias italianas e o livro "Os Italianos em Moçambique na Época Portuguesa / Gli italiani nel Mozambico portoghese (1830-1975) de Augusto Massari de 2005 (resenha aqui) é mais específico. Ambos terão elementos para compreender melhor este assunto mas não os vi e assim resta-me "navegar à vista" com as legendas e fotos de O Ilustrado e nos aspectos gerais da viagem e dos submarinos dos muitos artigos que se encontram na net. 
Das fotos da viagem que estiveram à venda no delcampe.net uma que foi tirada à chegada dos submarinos a LM mostrando com mais detalhe quem o aguardava: 

FOTO 1 (clique para aumentar)
Legenda original da foto em italiano: Compatriotas aguardam a chegada dos submarinos,
na primeira fila o cônsul e o secretário do Fascio

A foto foi tirada certamente do submarino e mostra em primeiro plano o grupo na ponte que fecha a Doca da Capitanoa a SW, vendo-se a água no interior da doca em segundo plano como faixa na horizontal. A legenda da foto coincide com a da foto mostrada no artigo anterior e daí podiamos acrescentar-lhe que o cônsul, de fato e gravata escuros, era Gaspar Buffa Buccellato e que o secretário do Fascio, com a camisa negra "de rigueur", era Giuseppe Buffa Buccellato (GBB). 
Vejamos mais duas fotos de O Ilustrado de 1933 básicamente com o mesmo grupo de recepção e de parte seriam aderentes ou simpatizantes do PNF.
Noto que a FOTO 1 foi tirada ao início a leste da ponte-cais Gorjão pois vê-se ao fundo a doca da capitania. Tudo leva então a crer que a FOTO 2 tenha sido tirada nas proximidades e que os submarinos tenham atracado na parte exterior do molhe que fecha essa doca do lado do estuário = sul e se vê aqui ao centro da imagem. Tal não é surpresa pois era aí a zona do cais reservada para vasos de guerra.

FOTO 2
Ao centro direita o cônsul italiano em LM de fato e gravata Gaspar B(B), o secretário do PNF de camisa negra Sr. Giuseppe B(B) (e entre eles o diligente porta-bandeira)

Doutras legendas de O Ilustrado e duma foto onde ele aparece a bordo mas pouco perceptível, deduzo que o senhor de fato e chapéu na mão direita, ambos claros, que se vê ao centro esquerda da FOTO 2 era um ajudante do Governador-Geral, o tenente Fernando Pais. Pelo pouco que aparece nas fotos a sua visita aos submarinos parece ter sido breve. 
A foto de O Ilustrado que se vê a seguir foi tirada num dos submarinos penso que junto da metrelhadora do convés e mostra os três italianos locais e por trás deles o Comandante Savio, todos já conhecidos deste e do artigo anterior:

FOTO 3
à esquerda: secretário local do PNF, Sr. GB(B)
à direita: cônsul, Gaspar Buffa (B)

Conhecendo-se assim físicamente os principais italianos locais participando neste evento, tentemos entender melhor as suas identidades. 
Se segundo Maria Helena Bramão (MHB) quando chegou a Moçambique em 1902 GBB tinha 20 anos, em 1933 teria uns 51 anos o que me parece compatível com o aspecto do senhor da "camisa negra" especialmente na FOTO 2
MHB diz também que GBB casou com Francesca Lipari (FL) em 1912 e que tiveram cinco filhos, uma rapariga Giuseppina e quatro rapazes Gaspare, Antonino, Pierino e Ignázio. Não sei porque ordem nasceram esses descendentes do casal mas em sites pagos de genealogia aqui e aqui pode espreitar-se as datas de nascimento de Francesca (1894) - pelo que terá casado com 18 anos quando GBB teria uns 30 - e de dois dos filhos, Antonino (1916) e Pierino (1918). Estes elementos são compatíveis com a informação de MHB pelo que assumo que o resto dela esteja correcto. Ora se suposermos que o Gaspar cônsul é um dos filhos do casal GBB - FL, mesmo que ele tivesse sido o primogénito, tendo os pais casado em 1912, em princípio em 1933 ele teria pouco mais de 20 anos. Não me parece por estas fotos que o cônsul fosse tão novo e seria de esperar que tal posto fosse ocupado por pessoa mais madura e por isso fico com dúvidas sobre a sua filiação mas para simplificar vou considerar que o Cônsul era um dos filhos de GBB - FL (BB).
Uma hipótese seria que o Gaspar cônsul fosse filho de PBB, o irmão presumívelmente mais velho de GBB, e por isso primo do Gaspare filho de GBB mas parece-me um tanto improvável os primos terem nome igual ou parecido. E até possível que o jornalista de O Ilustrado tenha aportuguesado o nome de Gaspare para Gaspar o que reforçaria a ideia de que ele é filho de GBB, descontando a questão da idade.
Talvez seja preciosismo meu mas diz MHB que "Em homenagem carinhosa à terra que o recebeu e acolheu, G. B. Buccelatto deu aos filhos a nacionalidade portuguesa". Ora se o cônsul fosse Gaspare filho de GBB e fosse português como MHB diz ele acho que não podia ser cônsul de Itália, quando muito seria cônsul honorário o que não era esse o qualificativo dado por O Ilustrado, jornal local que estaria bem informado 
Elemento relacionado interessante é que MHB diz que "Giuseppe B. Buccelatto foi, por duas vezes, Cônsul da Itália, em Lourenço Marques" por isso se o seu filho ou só parente Gaspar também o foi (mas do meu ponto de vista seriam os dois honorários, o pai porque não era profissional e o filho porque não seria italiano ...) então o consulado em LM teria sido um assunto privado dos BB.  
Este tema da visita dos submarinos e da *estória" dos italianos locais e particularmente da saga familiar dos Buffa Buccellato (BB) de LM continua no próximo artigo.

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