Firmas da Rua Araújo do início do séc. 20: McIntosh, Findlay & Co. do número 137

Nos dois últimos artigos falei das firmas que aparecem no Anuário de Moçambique de 1908 e que estiveram na Rua Araújo de Lourenço Marques (LM), actual Rua de Bagamoyo de Maputo no início do século 20. 
De duas delas e que até agora não me tinham chamado a atenção, por grande coincidência apareceram envelopes à venda no site delcampe.net *. Estes envelopes podem parecer irrelevantes mas serão as únicas coisas materiais que restam do passado dessas firmas - que trouxeram conhecimento, riqueza e emprego à cidade - e que na circunstância me levaram a pesquisar um pouco do que terão sido.
Envelope de McIntosh, Findlay & Co. de Lourenço Marques
O anúncio a este envelope diz que ele foi enviado em 1902 e vê-se bem que foi carimbado a 29.1.1902 em LM e que chegou a Durban a 31.1.1903. Passou pela censura inglesa dado estar-se na segunda guerra anglo-boer apesar de na sua fase derradeira.
Esta firma McIntosh, Findlay & Co. em 1908 estava no número 137, quer dizer do lado norte da rua Araújo e entre a actual Rua da Mesquita e a praça dos caminhos de ferro. Neste artigo falámos um pouco desse trecho e mostrámos aí a única foto que conheço mínimamente clara desse seu lado norte cerca de 1892 e que recordo a seguir:
Amarelo: varanda do Hansen Schrader (em 1901)
Vermelho: F. Bridler (em 1901)
Azul: varanda do Standard Bank (SB), que estava no número 107 em 1908
Branco: passeio do lado norte da rua Araújo. A loja do McIntosh, Findlay
estaria para cá do SB pois tinha o número 137
Laranja claro: Rua Araújo, vista de poente = oeste para nascente = leste
Verde: actual Rua da Mesquita, "metade" do lado sul
Ficámos assim como uma ideia de onde estava o McIntosh, Findlay e poderia ser até num edifício de dois pisos e da varanda do qual tivesse sido tirada a foto de cima.
No anuário de 1908 era dito que a McIntosh, Findlay era do ramo das ferragens e materiais de construção. Neste artigo sobre a lista do relatório do consulado francês de 1902 era dito que a firma era inglesa mas não qual o ramo de negócio. Temos ainda aqui um enorme relatório do cônsul americano da altura sobre "Lourenço Marquez" (commercial relations of the United States) em 1899 que diz o seguinte:
Vemos aí muitos nomes conhecidos de firmas de serviços relacionados com o porto em 1899 sendo uma delas a McIntosh, Findlay. Entretanto no livro Forty South African Years aparece o seguinte texto respeitante ao burgo cerca de 1887. The chief store was that of McIntosh, Findlay & Co., a Durban firm. 
Juntando essas quatro fontes de informação podemos dizer que a firma seria pelo menos uma das pioneiras no comércio no burgo e que 20 anos depois continuava pelo menos com as ferragens e materiais de construção. Se no entretanto se tinha dedicado (temporária ou permanentemente) aos serviços relacionados com o porto como parece ter acontecido cerca de 1899 fica a incerteza. 
Natal Who's Who (não sei de que data mas é no mínimo de 1902) mostra quem era McIntosh, que afinal era inglês mas residente em Durban no Natal, colónia inglesa. Durban era a cidade mais próxima de LM e havia relações comerciais por via marítima muito estreitas entre elas. Só depois da abertura da linha de caminho de ferro de LM para Pretória em 1895 e da emergência do Rand e Johannesburg como coração económico da África do Sul que essa ligação com Durban foi diminuindo de importância.  
James McIntosh, sócio da McIntosh, Findlay de Delagoa Bay / Lourenço Marques
No próximo artigo falarei doutra firma, a Torre do Valle, que poderia ter também ocupado um dos prédios cujo passeio em frente estaria indicado pela marca branca na foto anterior da rua cerca de 1892.

* Repetindo "sermão" antigo, lembro que o delcampe.net é um portal estritamente comercial e que se ninguém comprar lá nada e for só espreitar e copiar o que os anúnciantes digitalizam (como o HoM faz ...) acabará por fechar. 

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