Príncipe Real em LM em 1907 - lado norte da Praça 7 de Março, prédio na Rua Araújo e italianos

Voltamos aqui a olhar para mesma foto do artigo anterior e que vem do site da DRISA (Digital Railway Images of South Africa) e principalmente para a informação visual que aparece mais para o seu lado esquerdo.
Em primeiro plano temos a parte norte da Praça 7 de Março de Lourenço Marques, actual 25 de Junho de Maputo, nessa altura ainda pavimentada com calçada à portuguesa. Olhando em frente, na sua esquina a noroeste, aparece o kiosk = quiosque primeiro chamado Central e depois Nacional. 


FOTO 1
Castanho claro: Casa Amarela imediatamente para lá da praça
Castanho escuro: torre original do Hotel Carlton com topo piramidal
Laranja e vermelho: dois respiros e beiral no telhado de prédio comprido 
ao longo da direcção leste = esquerda - oeste = direita
Púrpura: Rua da Alfândega / Canto e Castro no limite a oeste da Praça
Laranja claro, à direita: Rua Consiiglieri Pedroso
Na FOTO 1 o kiosk Central / Nacional estava ainda na primeira configuração e tendo em conta a letragem nas montras estaria a ser explorado (pelo menos) por a A.A. Salgado tal como na primeira foto desse artigo. No entanto junto ao kiosk estava içada a bandeira do Reino de Itália pelo que Salgado podia ser um inquilino português enquanto que o proprietário do imóvel podia ser italiano (ver mais detalhes sobre esta hipótese ao fundo do artigo) e também podia o piso térreo ser de Salgado e o piso superior ser separado.
Já agora e quanto ao kiosk Chalet que ficava oposto para leste ao Central e donde foi tirada a FOTO 1, vimos aqui uma foto colorida mostrando-o com bandeiras que não pareciam incluir italianas embora essas imagens sejam pouco de fiar. Não sei se a razão para essa ornamentação do Chalet seria a visita do Príncipe Real mas pelo menos parte dos balões pendurados em cabos que atravessavam a Praça que aí se viam, uns com forma de roda e com um "sol" ao meio, pareciam ser os mesmos que na FOTO 1.
Vamos ver a seguir mais elementos de interesse na FOTO 1 começando por notar que a Casa Amarela tinha o frontão triângular ao centro da fachada aí visível e telhado a quatro águas como teve durante a maior parte da sua vida, elementos que foram retirados na reabilitação dos anos 60/70.
Vê-se que a Travessa do Tenente Valadim ainda não tinha o edifício clássico de dois pisos e que a construção que estava na sua esquina com a Praça do seu lado esquerdo = a sul também não era ainda a Casa Bayly que se conhece das fotos de 1929. 
Mas vamo-nos focar principalmente no prédio do "laranja e vermelho" o qual atendendo à sua posição e ao quarteirão existente nessa zona ficava do lado norte da Rua Araújo, actual Bagamoyo e por isso dele na FOTO 1 viam-se a traseira (no lado da linha vermelha) e a fachada lateral virada para leste = nascente. Pode-se vê-lo no google maps aqui actualmente ao centro da imagem com o telhado avermelhado mas sem os respiros de antanho, lógicamente e como dantes passando a Rua de Bagamoyo à sua esquerda.
Vamos ver esse prédio comprido do lado oposto ao da FOTO 1 em duas fotos antigas tiradas do topo do Hotel Carlton e com a Praça 7 de Março ao fundo (que se reconheçe melhor na FOTO 2, a de cima e de cerca de 1905, através das cúpulas dos seus kiosks e coreto). Já as conhecemos bem por isso há aqui muitas "revisão da matéria dada".

FOTOS 2 e 3 (clique na imagem para aumentar como usualmente)
Laranja e vermelho: prédio comprido de dois pisos com dois grandes respiros no telhado
Números 1 a 4: série de prédios encostados do lado norte da Rua Araújo
a partir da sua esquina com a Praça 7 de Março
Amarelos: dois traços contíguos, ver explicação em baixo
Azul claro: Rua Araújo, actual Bagamoyo, vista para oeste = poente
Como se pode observar nestas fotos esse prédio "laranja e vermelho" devia estar na terceira parcela de terreno a contar da esquina com a Praça. 
O que na FOTO 2 do lado sul da rua está marcado com o traço amarelo mais curto veio a ser ocupado pela Travessa do Varietá (traço amarelo mais curto separado na FOTO 3) e o resto do traço amarelo na FOTO 2 foi a partir de 1910 ocupado pelo Rinque de Parinagem e depois de 1912 pelo Teatro Varietá. (sobre o Varietá muitos artigos aqui). Na FOTO 3 de c. de 1929 vê-se que o prédio comprido ficava mais ou menos em frente ao Teatro Varietá e à Travessa do Varietá, o que se pode confirmar com algumas das fotos seguintes. 
Visto de frente e mais de perto, o prédio "laranja e vermelho" da FOTO 1 era então o que neste artigo aparecia no limite à direita da sua FOTO 1 e mais completo na sua FOTO 3 de cerca de 1929, a qual relembro a seguir:

FOTO 4
Laranja e vermelho: prédio comprido de que se vê a traseira e dois respiros na FOTO 1 
e que pela posição ficava do lado norte da Rua Araújo
Amarelo: fachada principal do Teatro Varietá de 1912, 
antigo edifício logo a seguir à Travessa do mesmo nome
Castanho escuro: torre do Hotel Carlton já com o topo mais baixo que na FOTO 1
Azul claro: Rua Araújo, actual Bagamoyo, vista para oeste = poente
Pode ver-se neste artigo a evolução posterior e a utilização deste prédio "laranja e vermelho" e junto a seguir duas das suas imagens, à esquerda duas antigas de quando o prédio albergava a firma comercial "Lousã e Antunes" e à direita uma mais recente:

FOTOS 5
Azul claro: Rua Araújo, actual Bagamoyo, vista para oeste = poente
Imagens da esquerda: prédio "laranja e vermelho" na versão inicial
Imagem da direita: mesmo prédio mas com alpendre em betão sobre o passeio
E concluo este artigo com uma foto de até 1908 em que se pode destacar a sequência de prédios do lado direito = norte da rua que é observada do lado da Praça, embora uns 80 metros para a esquerda da FOTO 1. Esta foto é anterior à abertura da Travessa do Varietá e do seu ringue / depois teatro que, como já dissemos no artigo respectivo, vieram ocupar em parte o terreno murado com a marca "amarela" do lado esquerdo = sul da rua entre os dois conjuntos de casas. Repare-se que na FOTO 2 à direita aparecia nesse espaço uma palmeira e a sua parte superior aparece também nesta FOTO 6 mas à esquerda pois é vista no sentido oposto. 


FOTO 6
Laranja e vermelho (#3): prédio de que se vê a traseira e dois respiros na FOTO 1
Castanho escuro: torre original do Hotel Carlton com topo piramidal
Amarelos: como na FOTO 2, dois traços onde foram depois aberta a Travessa 
e construído o ringue / Teatro Varietá, aproximadamente
Azul claro: Rua Araújo, actual Bagamoyo, vista para oeste = poente
Púrpura: Rua da Alfândega / Canto e Castro no limite a oeste da Praça

À direita da FOTO 6 aparecem em sequência: #1: prédio que foi do Robert Hudson que vinha da esquina com a Praça, de dois pisos e varanda alpendrada; #2: prédio térreo com cobertura sobre o passeio; #3: prédio comprido "laranja e vermelho", com dois pisos e sem cobertura sobre o passeio. Tinha uma placa na fachada que normalmente seria dum profissional liberal; #4: outro prédio de dois pisos com varanda sobre o passeio, que nos anso 50/60 era da Casa ZUID como vimos aqui.
O prédio "laranja e vermelho" tinha aí cinco janelas e pode-se ver na FOTO 5 da direita que as mantém, a sua grande mudança posterior ao início terá sido o acrescentar da cobertura sobre o passeio em betão que deve ser dos anos anos 40 ou 50.
Neste artigo mostrámos quais eram em 1908, por isso em data próxima das fotos mais antigas deste artigo (FOTOS 1, 2 e 6) as firmas do lado norte ao início da Rua Araujo. Estas firmas, todas estrangeiras, mais ou menos ocupariam os prédios que numerei de #1 a #4 nas fotos de cima mas não sei as sua correspondência com os de porta que aparecem à direita desta tabela (para o início da rua):
Rua Araújo em 1908FirmaNúmeros de porta impares, do lado norte
Serviços portuários, etcCotts1
FerradorJ. Kingston 3
ModaC. Woolf5
Serviços portuários, etcBock & Denks15
Botequim ou BarB. & N. Tierney19


PS: Sorgentinis em LM e kiosks na Praça
O site delagoabayworld diz aqui que segundo fontes da própria família uns Sorgentini e suponho se refira específicamente a Guiseppe Sorgentini a certa altura tiveram o negócio do kiosk Central que vimos na FOTO 1, pelo poderia ser essa a explicação para a bandeira italiana na FOTO 1. 
Mas a confiança nessa fonte pode ser questionada porque segundo ela o primeiro Sorgentini em LM foi esse Giuseppe que teria chegado em 1905. Ora no anuário comercial de 1908 aparece um bar / botequim localizado na praça da FOTO 1 como sendo de Valentin e Sargentino e que teria sido fundado em 1902. A similitude de nome é tão grande que esse Sargentino devia ser Sorgentino (diminutivo Sorge) Sorgentini, que esse artigo diz ser um dos irmãos de Guiseppe. Então ou esse bar foi fundado em 1902 e Sorge entrou como sócio depois ou então Guiseppe afinal não teria sido o primeiro da família Sorgentini a chegar a LM. Noto no entanto apesar desse bar ser na Praça não era indicado onde seria e podia até não ser um dos kiosks.
Outra possível fonte de dúvida é que no artigo do HoM sobre o kiosk Chalet, que como dissemos em cima ficava oposto na praça e para leste ao Central / depois Nacional, via-se numa das suas fotos que mais ou menos à época da FOTO 1 ele foi explorado por Biagio Sorgentini, outro irmão de Giuseppe e de Sorgentino (Sorge). Essa "exclusividade" de Sorgentinis em kiosks / bares na Praça mais ou menos em simultâneo (estaria Guiseppe no Central, Biagio no Chalet e Sorge como sócio num indefinido) leva-me a desconfiar um tanto se não haverá enganos / sobreposições nestas informações. 
Por outro lado neste artigo aparece um anúncio de 1912, cinco anos depois do que é pertinente para a FOTO 1, em como o kiosk Central pertencia ou era explorado por outro cidadão italiano de nome Louis Boschian. 
Por isso fosse ou não fosse dum dos Sorgentini, é muito provável que a bandeira italiana da FOTO 1 estivesse relacionada com o kiosk Central próximo.  

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