Quem não estiver muito interessado em pormenores "pode" olhar só para as imagens e legendas.
Disse antes a propósito da concessão à firma Allen Wack de toda a zona da encosta da Maxaquene em Lourenço Marques (LM) que a opinião de Lisandra Mendonça (apresentada aqui no HoM, e de que uso muitos dados para as minhas próprias hipóteses e deduções neste artigo) era que as concessões de terrenos feitas pelo Estado ao tempo da monarquia foram uma falha inicial de planeamento da cidade porque deixaram as suas zonas de expansão em mãos privadas (e estrangeiras).
Disse antes a propósito da concessão à firma Allen Wack de toda a zona da encosta da Maxaquene em Lourenço Marques (LM) que a opinião de Lisandra Mendonça (apresentada aqui no HoM, e de que uso muitos dados para as minhas próprias hipóteses e deduções neste artigo) era que as concessões de terrenos feitas pelo Estado ao tempo da monarquia foram uma falha inicial de planeamento da cidade porque deixaram as suas zonas de expansão em mãos privadas (e estrangeiras).
Em minha opinião o caso é um pouco mais complicado porque não sabemos qual foi o preço pago pelas concessionárias e porque é fácil acertar no totobola depois de saber os resultados dos jogos. Quero dizer, quando os terrenos foram concessionados a expectativa do Estado seria de estar a receber um bom valor por terra sem interesse e de facto ninguém podia adivinhar (mas depende das datas em que tudo aconteceu) por exemplo que o Transvaal se fosse tornar um grande produtor de ouro, que grande parte do seu comércio internacional se faria pelo porto de LM e daí que a cidade teria um crescimento tão rápido. Ou seja em princípio as concessionárias arriscaram e ganharam, parabéns, e digo isto no mundo ideal em que as concessões não lhes terão sido dadas pelos dirigentes do Estado à custa de presentes pessoais, assunto que os doutos historiadores poderiam verificar se ainda não o fizeram.
Na zona mais a norte da Polana (que até era a mais saudável da região devido à brisa soprando da baía) no início do século XX (20) havia uma grande concessão de terrenos que pelo menos a partir de certa altura pertencia à Delagoa Bay Lands Syndicate (DBLS) e que ficava para lá duma linha de circunvalação que tinha sido definida como sendo o limite da cidade. Essa linha tinha sido traçada por uma círcunferência centrada na Praça 7 de Março e com raio de 2 km e aparece bem desenhada no mapa de 1906/10 em baixo. Vê-se aí que nessa altura a zona urbanizada (as manchas cinzentas que devem ser os terrenos com proprietário no cadastro) ainda ficava muito longe da circunvalação pois a cidade estava a desenvolver-se nessa parte alta a partir do eixo central acima da Baixa para o lado oeste = poente = esquerda, no grande bairro que era chamado Alto Maé.
Para leste = direita da Av. Augusto de Castilho, actual Lenine (a que passa à direita do PUBLIC GARDEN) havia a mencionada concessão do Allen Wack entre a barreira e a actual Av. 24 de Julho e era presumívelmente por não ter sido ainda loteada uma zona em branco (polígono cinzento no mapa). Daí mais para a direita havia outra grande zona em branco (pintada agora a verde claro) que era a concessão da Eastern Telegraph (ET), companhia cuja estação de cabo submarino ficava aí no canto inferior esquerdo. Na antiga vila da Ponta Vermelha, que fica no canto inferior direito do mapa, não tinha havido concessão (ou melhor em parte tinha mas sido depois revertida) e daí havia edifícios do governo, quartéis e particulares.
Mas o que quero explicar com o mapa e principalmente com uma foto inédita a seguir obtida na Biblioteca Municipal do Porto relaciona-se com a zona da Polana que marquei a púrpura para norte e leste da circunvalação e que fazia parte da concessão da DBLS que se extendia daí para cima = para norte, seguindo a figura 27 da página 82 da tese de Lisandra Mendonça.
Assumo e como tento demosntar no artigo 6 que a DBLS não teve uma concessão directa e por isso o que chamo a concessão inicial da DBLS é a parte mais a sul da grande concessão de Sommerschield que a DBLS tinha adquirido em 1896 e que foi urbanizada a partir de acordo com a Câmara e Governo negociado entre 1903 e 1912..
Na zona mais a norte da Polana (que até era a mais saudável da região devido à brisa soprando da baía) no início do século XX (20) havia uma grande concessão de terrenos que pelo menos a partir de certa altura pertencia à Delagoa Bay Lands Syndicate (DBLS) e que ficava para lá duma linha de circunvalação que tinha sido definida como sendo o limite da cidade. Essa linha tinha sido traçada por uma círcunferência centrada na Praça 7 de Março e com raio de 2 km e aparece bem desenhada no mapa de 1906/10 em baixo. Vê-se aí que nessa altura a zona urbanizada (as manchas cinzentas que devem ser os terrenos com proprietário no cadastro) ainda ficava muito longe da circunvalação pois a cidade estava a desenvolver-se nessa parte alta a partir do eixo central acima da Baixa para o lado oeste = poente = esquerda, no grande bairro que era chamado Alto Maé.
Para leste = direita da Av. Augusto de Castilho, actual Lenine (a que passa à direita do PUBLIC GARDEN) havia a mencionada concessão do Allen Wack entre a barreira e a actual Av. 24 de Julho e era presumívelmente por não ter sido ainda loteada uma zona em branco (polígono cinzento no mapa). Daí mais para a direita havia outra grande zona em branco (pintada agora a verde claro) que era a concessão da Eastern Telegraph (ET), companhia cuja estação de cabo submarino ficava aí no canto inferior esquerdo. Na antiga vila da Ponta Vermelha, que fica no canto inferior direito do mapa, não tinha havido concessão (ou melhor em parte tinha mas sido depois revertida) e daí havia edifícios do governo, quartéis e particulares.
Mas o que quero explicar com o mapa e principalmente com uma foto inédita a seguir obtida na Biblioteca Municipal do Porto relaciona-se com a zona da Polana que marquei a púrpura para norte e leste da circunvalação e que fazia parte da concessão da DBLS que se extendia daí para cima = para norte, seguindo a figura 27 da página 82 da tese de Lisandra Mendonça.
Assumo e como tento demosntar no artigo 6 que a DBLS não teve uma concessão directa e por isso o que chamo a concessão inicial da DBLS é a parte mais a sul da grande concessão de Sommerschield que a DBLS tinha adquirido em 1896 e que foi urbanizada a partir de acordo com a Câmara e Governo negociado entre 1903 e 1912..
MAPA de LM de 1906 actualizado em 1910
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Rosa: Av. Francisco Costa, actual Av. 24 de Julho
Roxo: Av. Pinheiro Chagas, actual Mondlane
Amarelo: Rua da Maxaquene, depois Princesa Patrícia, actual Allende
Creme (com traços pretos): Rua Pero de Alenquer, actual Cabral
Castanho claro: Avenida n. 3, depois 31 de Janeiro, actual Neto
Castanho escuro: Rua do Telégrafo, depois General Botha, actual Nduda
Azul: Av Duquesa de Connaught, depois António Enes, actual Nyerere
Círculo vermelho: circunvalação em 1910
Traços vermelhos: terrenos da concessão da DBLS, depois cedidos para o Hospital
Mancha púrpura: concessão da DBLS da barreira até ao Hospital e para norte daí
Mancha verde clara: terrenos da concessão da Eastern Telegraph (ET)
Mancha azul à direita: praia da Polana
Adicionados ao mapa porque na altura não estavam previstos:
Rectângulo verde escuro: actual Parque dos Continuadores
Laranja: Av. Massano de Amorim, actual Tung
Traço castanho claro - laranja: Rua de Nevala, actual Nkrumah,
era o limite da cidade urbanizada |
Vemos no mapa a zona planeada para o novo hospital (NEW HOSPITAL), a qual o Estado pretendeu mais tarde estender até à actual Av. Neto, a zona do canto com traços vermelhos. Seria ai o primeiro local em que a circunvalação iria constrangir o crescimento da cidade e esses terrenos, como todos os outros para lá da circunvalação pertenciam à DBLS. Por isso e talvez por outros motivos, em 1912 fez-se um contrato de partilha entre o Estado e a DBLS pelo qual a área da Polana compreendida entre o antigo limite urbano (circunvalação), a praia da Polana (acho que acabava em cima na barreira) e a Rua de Nevala (traço laranja - castanho claro no mapa e que ficava muito para norte da urbe na altura) passou a integrar a zona urbana da cidade. Para oeste, a concessão inicial da DBLS chegava até próximo da Rua Pero de Alenquer, actual Cabral (creme com traços pretos no mapa) mas ía-se afunilando para a esquerda = oeste como se vê. Básicamente segundo entendo o acordo com a DBLS significou que o Estado construiu as ruas e as infraestruturas associadas em troca de receber parte dos terrenos, por exemplo para o resto do Hospital (o triângulo com traços vermelhos) e para o actual Parque dos Continuadores (rectângulo verde, mas aí só efectivo a prazo e após trocas entre a DBLS e a Eastern Telegraph se bem entendi). Isto está especificado na tese de Lisandra Mendonça na página 169 do pdf. Em seguida a DBLS poderia vender o resto da sua concessão inicial em talhões aos privados.
O acordo com a DBLS relativo à urbanização da Polana foi assinado em 1912 e na foto aérea inédita de cerca de 1933/34 podemos ver as suas consequências. Aparecem aí a maioria das vias do mapa de cima só que são vistas na perpendicular à posição que lá tinham. A maior parte das indicações para a foto é equivalente às do mapa e por isso na legenda só relevo o mais importante ou o que é novo:
O acordo com a DBLS relativo à urbanização da Polana foi assinado em 1912 e na foto aérea inédita de cerca de 1933/34 podemos ver as suas consequências. Aparecem aí a maioria das vias do mapa de cima só que são vistas na perpendicular à posição que lá tinham. A maior parte das indicações para a foto é equivalente às do mapa e por isso na legenda só relevo o mais importante ou o que é novo:
FOTO de 1933/34 - clique para aumentar
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Pequeno circulo preto: ponto onde aproximadamente a circunvalação passava
no cruzamento entra as actuais Av. Allende e Neto, serve para ligar o mapa à foto
Traços paralelos vermelhos: terrenos da concessão da DBLS cedidos para o Hospital
Mancha púrpura: concessão inicial da DBLS da barreira até ao Hospital e para norte daí
Rectângulo verde escuro: actual Parque dos Continuadores
Laranja: Av. Massano de Amorim, actual Tung
Laranja e castanho claro: Rua de Nevala, actual Nkrumah
Branco: terreno do Hotel Polana
Azul: Av Duquesa de Connaught, depois António Enes, actual Nyerere Mancha verde clara: terrenos da concessão da Eastern Telegraph (ET) |
Em contraste com a zona da DBLS, em 1933/34 a zona mais próxima do Miradouro circundando a actual Av. Nyerere estava já bastante urbanizada (canto inferior esquerdo da foto de 1933/34). A razão é que essa zona não tinha sido concessionada pelo Estado o qual deve ter resolvido urbanizá-la e vender em lotes cedo.
Na grande mancha verde clara que tinha sido a concessão da ET os quarteirões em torno da Av. 24 de Julho estavam urbanizados e construídos mas daí para norte até à fronteira sul da concessão inicial da DBLS também não estava urbanizado, com excepção do quarteirão que ficava imediatamente a norte da Av Duquesa de Connaught, depois António Enes, actual Nyerere (azul).
Estas concessões não foram urbanizadas mais cedo, apesar de aparentemente haver procura, ou por causa de difíceis condições que tivessem sido impostas pelo Estado e/ou por as concessionárias saberem que vendendo poucos terrenos de cada vez mantinham os preços altos e valorizavam os seus activos.
Razões à parte, o que se vê na foto relativamente à concessão da DBLS explica porque é que no artigo sobre o marco na base da Polana, que ficaria aproximadamente onde marquei com um traço horizontal (a vedação de caniço) e um ponto (o marco) carmesim no mapa e na foto, se viam extensas zonas sem construções.
FOTO de cerca 1920
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Marco na base da Polana, sem construções na proximidade pelo menos
para a direita (isto seria perto do observatório da Polana) |
Como já dissemos com detalhe para a zona da encosta da Maxaquene, o facto destas zonas do Hospital e da Carreira de Tiro terem sido urbanizadas relativamente tarde permitiu que o volume, desenho e tipo de construção do que vieram a ser as suas moradias fossem já avançados e que ainda agora tenhamos aí bairros de boa qualidade e bastante uniformes (este é um bom exemplo de uma casa construida num terreno vendido pela DBLS cerca de 1938 nessa zona da Polana). E como é provável que a DBLS vendesse os seus lotes mais caros do que o Estado e os privados vendiam, isso reforçou o carácter elistista das zonas da sua concessão já de si potenciado pelas caracteristicas sanitárias já apontadas, pelas vistas sobre a baía, pela proximidade ao Governo-Geral e pelo efeito de "enclausuramento de classe social". De qualquer maneira, vindos da DBLS ou doutros proprietários, os terrenos em LM foram habitualmente sempre considerados caros o que motivou o Estado a fazer alguma habitação económica para funcionários a partir dos anos 40 como vimos aqui.
Sobre a circunvalação ver mais aqui.
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