Concessões na Polana: mais informação sobre a de Sommerschield (6/7)

A planta cadastral da cidade de Lourenço Marques (LM), actual Maputo de 1897 disponibilizada pelo Arquivo Histórico Ultramarino tem informação importante sobre as concessões aí atribuidas pelo Estado Português no final do século XIX (19). 
Caso particular e que permite o esclarecimento de dúvidas anteriores é a planta mostrar a Concessão de Sommerchield (CdS), a qual foi em 1896 comprada pela Delagoa Bay Lands Syndicate (DBLS). Do seu desenho pode agora concluir-se que a chamada concessão da DBLS na Polana fazia parte da CdS (inicialou completa), isto é era a sua parte mais a sul tendo sido urbanizada primeiro do que a parte norte, que também foi adquirida pela DBLS, por estar mais perto do centro da cidade.
Na planta de 1897 a CdS foi marcada (à esquerda na montagem em baixo) pelos limites a preto e podemos comparar o seu desenho com o que tinhamos visto antes nos anos de 1950 e concluímos que em linhas gerais, na parte norte, eram iguais. 

COMPARAçÃO da PLANTA de 1897 COM O PLANO DOS ANOS de (19)50 
para a Concessão de Sommerschield (CdS)
Vermelho: linha da circunvalação, limite previsto para a cidade
Preto, em 1897 (polígono maior): CdS inicial na planta AHU 
Preto, nos anos de 1950 (polígono menor): parte superior da antiga CdS
Branco, nos anos de 1950dita concessão da DBLS que tinha pertencido à CdS inicial
Cinzento, em 1897: limites de áreas na CdS inicial que lhe foram retiradas depois
 de acordo com os traços interiores coloridos


Quanto à parte que fica do centro para o sul da CdS inicial, comparando com o PLANO dos ANOS de (19)50 compreende-se bem que ela tinha sido depois reduzida dos espaços marcados a verde e amarelo que tinham passado a pertencer ao Estado / Câmara. Por isso apareceram aí a Cadeia Civil, o Clube Militar, as casas para militares, escolas e creches, a Sociedade de Estudos, a residência do Comandante Chefe, igreja de Santo António, etc e todos esses eram edifícios públicos ou de interesse público mas é possível que mais tarde uma pequena faixa a norte dessa faixa tenha sido vendida a privados (por aqui).  
Quanto ao extremo a sul da CdS inicial de 1897 marcado com os traços brancos, no PLANO DOS ANOS 50 ele aparece já urbanisado e por isso separado do resto. Como dissemos em cima, essa área correspondia ao que a DBLS e o Estado tinham acordado urbanisar em 1903/1912 (ver aquie em que uma parte tinha ficado para o Estado, caso do quarteirão da Meteorologia e do depois Parque José Cabral, talvez após trocas também envolvendo a outra concessionária de terrenos na Ponta Vermelha e na parte sul da Polana, a Eastern Telegraph.
A parte da CdS inicial para norte da linha preta com "bolinhas" marcada no PLANO, mesmo em 1912 ficava muito afastada da cidade e por isso a sua urbanização não era urgente. De facto só no início dos anos 50 se deu 
nova negociação entre o Estado - Câmara Municipal e a DBLS para a urbanização da faixa imediatamente a norte dessa linha (para norte das áreas dos traços verde e amarelo à esquerda e das manchas dessas cores à direita que tinham ficado para o Estado) a qual deu origem ao bairro dos Cronistas e suas redondezas que mostramos num artigo anterior. Nota-se ainda no PLANO que há uma pequena zona a noroeste que tinha pertencido à CdS inicial mas que entretanto lhe tinha sido retirada. 
Podemos rever nesta imagem de Google Earth (GE) que vimos já nesse artigo aproximadamente como seriam os limites da Concessão de Sommerschield (CdS) inicial na actual Grande Maputo.

CdS inicial implantada na imagem de GE actual de Grande Maputo
 (clique para aumentar)
Preto: limites a oeste, norte e sul da CdS inicial. Do lado da baía = leste
penso que para cima da Rua da Nevala essa área chegava até à praia
Bola vermelha e branca em baixo: quarteirão da Meteorologia (observatório)
junto ao limite mais a sul da CdS inicial
Bola branca e vermelha em cima: Restaurante Costa do Sol
fica acima do limite mais a norte da CdS inicial
Curva verde escura: curva a norte do autódromo
fica abaixo do limite mais a norte da CdS inicial
Violeta: actual Av. Sung, antiga General Rosado
Roxo: Av. Pinheiro Chagas, actual Mondlane
 Laranja claro: Av. Massano de Amorim, actual Tung
Rosa: Rua da Nevala, actual Nkrumah
Azul médio: actual Av. Nyerere, antiga da Polana depois António Enes
Tracejado preto e branco: Av. N.S. de Fátima, actual Kaunda
Áreas verde e amarelo: terrenos da CdS que presumo 
tivessem ficado para o Estado em 1912
Linha preta com bolas: mais ou menos a nível da Cadeia Civil


Sabemos pelos textos que a CdS inicial tinha área de 1 000 hectares de área embora tal não seja indicado na planta de 1897. Como a área do polígono limitado a preto na imagem de GE actual é aproximadamente essa é de supor que essa representação da CdS no plano de 1897 esteja correcta.
Ao estimar a partir da planta de 1897 onde seria actualmente o limite na parte mais a noroeste da CdS, constatei que por onde esperava que esse limite tivesse estado haver uma divisão clara (em linha aproximadamente no eixo norte-sul) entre manchas cinzenta (zona construída, à esquerda) e verde (zona livre, à direita). Desenhei então por aí o limite porque essa divisão certamente será ainda consequência da CdS que aparecia definida no plano de 1897, o que me parece extremamente interessante. 
Sobre isso pode ver-se no google maps com mais detalhe que na parte sul, depois do ângulo ao nível de Maxaquene D para a esquerda = oeste, temos o campo de golfe pós 1960 que verificamos com estas plantes estava dentro da CdS antiga. A sua parte de cima = norte foi no pós independência em 1975 ocupada por construções mas passada essa faixa, para norte continua a ver-se a linha recta com extensas áreas desocupadas do lado direito = leste = da praia e que se extende até para norte do que teria sido o limite da CdS inicial. Não sei o que se terá passado em toda essa zona, se a DBLS teria vendido ou continuado a comprar terrenos por aí, quem era proprietário desses terrenos em 1975, o que lhes aconteceu com a nacionalização posterior e depois com a desnacionalização.
Fundamental para se perceber a parte económica da evolução da CdS inicial é o texto seguinte mostrando o que tinha sido acordado entre a DBLS e o Estado em 1903, no já referido processo que foi concretizado em 1912:
Em 1903 o Estado deu à DBLS direito de utilisação para construção civil (residências)

Como a CdS inicial tinha sido atribuida a Oscar Sommerschield para agricultura e floresta e LM estava a crescer a bom ritmo, em termos de economia e população, este decreto que aprovou que a CdS passasse para a DBLS e que lhe possibilitou outra utilizações significou uma enorme valorização dos activos dessa companhia anglo-sul africana.
No próximo artigo falaremos da parte da CdS em torno do Hotel Polana e do Parque José Cabral, actual dos Continuadores que fica ao fundo = para a direita da avenida marcada em cima a "laranja claro", a Av. Massano de Amorim, actual Tung.

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