Concessões na Polana: mais sobre a de Sommerschield e 1a fase de construção (4/7)

No artigo anterior vimos os planos do início dos anos 50 para as primeiras fases da urbanização da área restante (pós 1912) da Concessão de Sommerschield inicial (CdS), comprada pela companhia anglo-sul africana DBLS em 1896 e de que resultou o Bairro dos Cronistas  Na série anterior de dois artigos relativa ao bairro tinhamos já dito algo sobre o seu desenvolvimento mas focamo-nos aí mais no tipo de construções que lá foram feitas. 
Recordo então aqui o Bairro dos Cronistas a ser visto para o lado do centro da cidade e na parte mais próxima ocupando o terreno do antigo campo de golfe na foto de Carlos Alberto Vieira:

FOTO 1 dos ANOS 60
Preto (com bolinhas): limite a "sul" e "sudoeste" do restante da CdS inicial
Tracejado preto e branco: Av. N.S. de Fátima, actual Kaunda, mais a norte
Rosa: Rua da Nevala, actual Nkrumah (aproximadamente), mais a sul
Violeta: actual Av. Sung, antiga General Rosado, ao centro
Rosa forte: Seminário de PIO X
Laranja normal: Cadeia Civil
Zonas com manchas: ver explicações em baixo

Podemos fazer a ligação da FOTO 1 e suas marcas ao plano que lhe deu origem e que já conhecemos:

PLANO DOS ANOS 50 DE URBANIZAçÃO de LM
(área restante, pós 1912, da Concessão Sommerschield inicial)
Áreas verde e amarelo: terrenos que presumo fossem do Estado, ver em baixo
Áreas coloridas acima das anteriores: área restante (pós 1912) da CdS inicial, 
a NE da cidade incluindo na parte alta e junto à praia
Preto (com bolinhas): limite a "sul" e "sudoeste" do restante da CdS inicial
Tracejado preto e branco: aproximadamente posição da futura 
Av. N.S. de Fátima, actual Kaunda, em primeiro plano na FOTO 1
Rosa: Rua da Nevala, actual Nkrumah, indicada aproximadamente na FOTO 1

Recordo que a Rua da Nevala "rosa" tinha sido o limite a norte da parte sul da CdS inicial que a DBLS e o Estado tinham acordado urbanisar em 1903/1912.
Quanto às áreas marcadas a verde e amarelo na FOTO 1 e no PLANO, elas ficavam entre essa Rua da Nevala e o limite a sul da área restante (pós 1912) da CdS inicial após a sua divisão em partes (linha preta com bolinhas) e penso que ficaram aí a pertencer ao Estado.
Para a faixa amarela deve ter surgido em 1912 a ideia de combiná-la com a  parte que lhe ficava logo acima do restante da CdS inicial para se fazer um campo de golfe. A primeira localização desse campo tinha sido no antigo pântano do Maé na Baixa e a sua transferência para o local que vemos em cima tornava-o mais acessível à maioria dos seus frequentadores locais. E como o campo era apresentado aos turistas como uma das atracções do Hotel Polana (ver aqui na publicidade) de que a DBLS era a proprietária, a cedência desse terreno para o golfe pela DBLS deve ter sido facilitada. 
Via-se bem essa faixa "amarela", que tinha cerca de 380 metros para norte a partir da Rua da Nevala, nesta foto onde está o desenho de GOLF. Mas é claro que ao tempo da FOTO 1 esse campo já tinha sido transferido para outro local, precisamente aqui e mais a norte e essa faixa "amarela" estava já com algumas construções, vendo-se aí por exemplo o seminário da igreja católica. No resto da faixa "amarela" foi também construída a igreja católica da Polana e edifícios associados, o infantário piramidal também católico, a igreja evangélica, estas casas que presumo fossem para funcionários públicos, a residência do comandante chefe das forças armadas, a Sociedade de Estudos e duas escolas uma secundária (Liceu Dona Ana) e uma primária (Aires de Ornelas). Depois da independência foram construídas nessa faixa as embaixadas da Holanda e da Swazilândia / eSwatine (ver no google maps). Essas utilizações públicas ou sociais são coerentes com a minha premissa de que a "faixa amarela" pertencesse ao Estado, o qual a teria progressivamente utilisado para si próprio e/ou cedido ou vendido em conta a essas entidades de interesse colectivo
Para oeste da faixa "amarela" e separada dela pela avenida "violeta", a actual Av. Sung, antiga General Rosado, estava a "zona verde" onde havia residências para quadros das forças armadas (mais aqui), o clube militar e quartéis (aqui). A ocupação dessa zona "verde" começou pelo menos nos anos 20 e por aí esteve também o aeródromo da Carreira de Tiro. Num dos seus cantos foi cerca de 1929 construida a Cadeia Civil, por isso tudo construções públicas. 
Essas áreas verde e amarelo faziam parte da CdS inicial mas a certa altura, provávelmente pelo acordo de 1912 (concretização do de 1903). devem-lhe ter sido retiradas e transferidas para a posse do Estado  não sei em que condições. Para norte delas (ou seja da linha preta às bolinhas) aparecem então na FOTO 1 residências do bairro que se chamou dos Cronistas. Por aí no PLANO vejo uma área mais vermelha para leste da actual Av. Sung e uma mais castanha para oeste dessa avenida e que me parece que também fecha por cima a mais vermelha. Tentei representar essas cores na FOTO 1 mas tal não é importante porque se a intenção inicial tinha sido de fasear a urbanização (daí as cores diferentes nas áreas) dá-me ideia que pelo menos essas áreas mais a sul foram implementadas simultâneamente (ter-se-iam fundido no que foi chamada a Zona A do bairro?). Isso vê-se na FOTO 1 onde havia já uma grande área construída chegando à actual Av. Kaunda e passando até para norte dela (ver o telhado no canto inferior direito da FOTO 1). Todavia na área de mancha mais vermelha que aparece no canto superior da FOTO 1 e junto à parte mais a oeste da zona militar a construção estava mais atrasada.
De qualquer modo até à independência a urbanização só tinha passado acima = para norte da Av. N.S. de Fátima, actual Kaunda "tracejado preto e branco" uns sete quarteirões (ver esse bairro aqui) tanto que tem sido daí para norte a grande zona de desenvolvimento da cidade, em parte com infraestrutura e construção de qualidade mas nem sempre, depois de 1975.
Podemos transpor para imagem do Google Earth (GE) os limites dConcessão de Sommerschield (CdS) inicial tal como aparecem numa planta da cidade de 1897 (azul à direita da montagem seguinte):

MONTAGEM (clique para aumentar)
Bola vermelha em baixo: quarteirão da Meteorologia (observatório)
junto ao limite mais a sul da CdS inicial
Bola vermelha em cima: Restaurante Costa do Sol
acima do limite mais a norte da CdS inicial
Curva verde escura: curva a norte do autódromo
abaixo do limite mais a norte da CdS inicial
Preto: limite do lado do interior da CdS inicial
. Do lado da baía 
penso que para cima da Rua da Nevala chegava até à praia
Manchas verde e amarelo: estavam dentro da CdS inicial mas passaram para o Estado
Violeta: actual Av. Sung, antiga General Rosado que separava essas duas manchas
Traço verde: Av. 24 de Julho
Roxo: Av. Pinheiro Chagas, actual Mondlane
 Laranja claro: Av. Massano de Amorim, actual Tung
Rosa: Rua da Nevala, actual Nkrumah
Azul médio: actual Av. Nyerere, antiga da Polana depois António Enes
Linha verde claro: Av. Augusto de Castilho, actual Lenine 
(toda a CdS inicial estava para leste da sua direcção)
Arco vermelho: circunvalação
Tracejado preto e branco: Av. N.S. de Fátima, actual Kaunda

A CdS inicial outorgada pelo Estado Português em 1886 (não sei se gratuitamente ou não) e que vemos do lado do interior das terras limitada pelas linhas pretas em cima, tinha área de 1 000 hectares. Podemos ter noção dessa área sabendo que equivale a cerca de 925 campos de futebol nas suas medidas máximas (que são de 120 m de comprimento e 90 m de largura ou seja área de 1,08 hectares aqui). 
Dentro dos limites da CdS inicialdigamos desde os anos 40 e a partir duns 600 metros para norte da Rua da Nevala e ocupando um grande terreno estava a estação de rádio-navegação. Dele sobra o terreno vago que está marcado na imagem do GE com a bola "castanho escuro" e mais para cima o da bola "castanho claro" que depois foi parcialmente transformado no campus da Universidade (Faculdade de Agronomia de 1969 por exemplo). O terreno dessa estação ia também daí para o lado da praia e essa parte foi urbanizada nos anos 60/70 e está ocupada por habitações  Esses terrenos a certa altura devem ter sido cedidos pela DBLS ao Estado a troco de terrenos noutros locais ou de outro tipo de compensação (presumo que tal tenha sido negociado em 1903/1912). 
Falaremos um pouco sobre Oscar Sommerschield no artigo seguinte.

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